Decidimos perguntar a um antigo avançado do Bayern, Lars Lunde, que mantém contacto próximo com Uli Hoeness.
Enquanto o Bayern Munique recebe o Club Brugge na Liga dos Campeões esta noite, com o objetivo de prolongar o registo perfeito na competição, há algo de que pode ter a certeza: não é um jogo do Bayern se Karl Heinz Rummenigge e Uli Hoeness não estiverem sentados juntos na bancada, com Hoeness ainda a usar o tradicional cachecol vermelho e branco ao pescoço, enquanto o cântico dos adeptos faz tremer de ansiedade os adversários à entrada no Allianz Stadium.
Já passaram vários anos desde que o antigo diretor-geral e presidente dos gigantes da Baviera atingiram a idade da reforma, e atualmente desempenham funções menos visíveis no Conselho de Supervisão do clube. No entanto, fontes garantem que é este duo dinâmico que continua a mover os cordelinhos mesmo que, pelo menos em teoria, o verdadeiro poder executivo do campeão alemão tenha passado para o Presidente do Conselho, Herbert Hainer, o diretor-geral, Jan-Christian Dreesen, e o diretor desportivo, Max Eberl.
Rummenigge e Uli Hoeness desempenharam papéis fundamentais na construção do Bayern tal como o conhecemos hoje. Contudo, nos últimos anos, surgiram críticas a sugerir que ambos já terão ultrapassado o tempo de permanência desejável, continuando a exercer influência e a participar em decisões importantes. Em entrevista à Sport Bild antes do seu 70.º aniversário, Karl-Heinz Rummenigge afirmou:
"Vamos continuar até sentirmos que está tudo a 100% em ordem. Infelizmente, antes não estava tudo a 100%— é um ponto justo, sobretudo no que toca à evolução das finanças do clube. Assim que tudo estiver a 100%, entregaremos as chaves aos nossos sucessores. Continuo a acreditar que o clube não precisa de menos Uli Hoeness, mas sim de mais", indicou.
O momento em que Hoeness e Rummenigge se despedirão definitivamente do seu querido Bayern Munique pode nunca chegar, e, se perguntarmos ao antigo avançado internacional dinamarquês Lars Lunde, que integrou o plantel a meio dos anos 80, também não deveria chegar.
“Enquanto estiverem vivos, nada acontece no clube sem o seu conhecimento. É algo que se tem de aceitar, e penso que é positivo, porque com a experiência que têm, seria completamente insensato não os envolver nas decisões. A experiência que têm não se compra; vale ouro para o clube. E não tenho qualquer dúvida de que são os responsáveis pelas decisões finais, mesmo que, em teoria, tenham funções mais periféricas. Experiência e espírito de clube, isso é o melhor que se pode ter. Hoeness e Rumme têm um vasto conhecimento do futebol e são empresários competentes, uma combinação muito rara de encontrar", afirma Lunde ao Flashscore.
Rummenigge e Hoeness implementaram no Bayern uma cultura de confronto honesto e direto, algo que, segundo o antigo avançado do Inter, falta na cultura alemã. Rummenigge considera que atualmente existe uma tendência para evitar o confronto e usar a crítica pessoal, uma dinâmica que contrasta com a abordagem mais direta que adotou em negociações e discussões ao longo da carreira.
“A harmonia é sempre positiva. Mas uma cultura de debate é um ativo importante. Quando discutia com o Uli, houve uma vez em que até o carpinteiro teve de vir reinstalar a ombreira da porta", recordou Rummenigge numa entrevista ao Die Welt. Esta postura frontal de Rummenigge e Hoeness levou muitas vezes a que fossem apelidados de "dinossauros" num mundo empresarial onde se valorizam mais as competências diplomáticas, mas Lars Lunde considera que Hoeness, em particular, é frequentemente mal interpretado.
"Hoeness diz sempre o que pensa, mesmo que seja incómodo, verbaliza o que outros pensam mas não dizem, e isso é fundamental para um clube como o Bayern, ter um líder nato. Mas penso que os media distorcem muitas vezes as suas declarações, fazendo-o parecer mais duro do que realmente é. Na verdade, é uma pessoa calorosa, que não hesitaria em ajudar um antigo jogador se este lhe ligasse à meia-noite a pedir um conselho", diz Lunde, que ainda hoje se encontra regularmente com Hoeness para conversar sobre o Bayern e o quotidiano.
A dúvida é se alguém terá o conhecimento futebolístico e a visão empresarial necessários para pegar no testemunho e dar continuidade ao legado de Rummenigge e Hoeness no Bayern quando já não estiverem presentes. O clube tem tradição de confiar responsabilidades a antigos jogadores, como aconteceu com Oliver Kahn, mas há incertezas sobre quem poderá encaixar nesse perfil.
"Não há dúvida de que Lothar Matthaus nunca estará na linha de sucessão; simplesmente já disse demasiadas coisas pouco sensatas sobre o Bayern no passado. Vejo potencialmente Bastian Schweinsteiger a assumir esse papel ou Thomas Müller quando terminar a carreira. Talvez também Philipp Lahm, mas acredito mais nos outros dois. No entanto, têm de perceber que é um trabalho a tempo inteiro, completamente diferente de ser jogador, e claro que é uma grande incógnita saber se conseguirão adaptar-se a essa função", conclui Lunde.
O Bayern Munique, com Rummenigge e Hoeness certamente nas bancadas, vai defrontar o Club Brugge no Allianz Stadium, em Munique, às 20:00 (hora de Lisboa).