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De sucessor de Gerrard a jogador fantasma: Naby Keita tenta relançar-se em Budapeste

Naby Keita joga agora no Ferencvaros
Naby Keita joga agora no FerencvarosPRESSINPHOTO, PRESSINPHOTO SPORTS AGENCY / Alamy / Profimedia
A melhor qualidade de um jogador é a capacidade de permanecer em campo. A frase que Alex Ferguson gostava de usar pode parecer um cliché, mas para Naby Keita esta velha verdade custou a contratação de uma vida. Chegou ao Liverpool como a compra mais cara da história do clube, para depois sair como um jogador livre. Hoje, tenta reavivar os seus sonhos no Ferencváros.

A história tradicional do rapaz africano capaz de jogar futebol que tenta singrar na Europa precede-o. Para o conseguir, é muitas vezes necessário um certo grau de dificuldade. Para o fazer, é muitas vezes necessária uma certa dose de sorte. No caso de Naby Keita, essa sorte foi encarnada por Ralf Rangnick, que o levou para Salzburgo e o transformou num médio que apaixonou os olheiros dos grandes clubes europeus.

Mas, tal como acontece com a galáxia Red Bull, a prioridade foi para Leipzig, para onde Rangnick se mudou e levou consigo o sólido médio. Também nesse caso, a soma foi significativa. No eixo Leipzig-Salzburgo, passou uma proposta de 30 milhões de euros e Keita tornou-se o jogador mais caro da equipa austríaca.

O salto de qualidade e velocidade não foi problema para Keita, e não demorou muito para que outra grande transferência se aproximasse. O Barcelona ou o Bayern estavam interessados no médio africano, mas o jogador decidiu-se pelo Liverpool, que estava a crescer sob a influência de Jürgen Klopp.

O clube inglês pagou cerca de 60 milhões de euros, deixando Keita ficar mais uma época na Alemanha.

Quando chegou a altura e o médio africano se mudou para Anfield, as expectativas estavam no auge para uma das contratações mais caras da história dos Reds. O clube confiou-lhe o sagrado número oito e houve quem duvidasse, com razão, que pudesse seguir os passos de Steven Gerrard. "Ele é um médio completo. Sabe rematar, passar, jogar sob pressão, combinar bem com os colegas de equipa. Ele tem os requisitos ideais para ser um jogador do Liverpool", disse Klopp, na altura.

O fracasso no Liverpool

Hoje, sabe que estava errado. A carreira de Keita no Liverpool foi marcada por uma série de lesões que o prejudicaram e acabaram por afetar a sua confiança e moral. Em 277 jogos pelo Liverpool, jogou apenas 129 (47%).

O Liverpool queria tanto confiar na sua compra que se recusou a admitir que tinha simplesmente falhado o objetivo. O The Athletic refere que o clube de Anfield alterou a dieta e o treino de Keita e tentou vários exercícios alternativos. Até o aconselharam a fazer ioga.

Mas o ambiente inglês não era de todo adequado para o jogador natural da Guiné Conacri. Os especialistas do clube salientaram que Keita simplesmente não estava habituado às exigências físicas e à intensidade do futebol do outro lado da Mancha. Por outras palavras, concluíram: "Lamentamos, mas estávamos errados...".

Os problemas começaram a acumular-se gradualmente. A equipa técnica ficou cada vez mais insatisfeita com a incapacidade de Keita para absorver e executar as instruções, pelo que o substituiu várias vezes por razões táticas antes do intervalo. Em 2022/23, Keita disputou apenas 13 jogos com o Liverpool.

A época no Bremen e a suspensão

Inicialmente, assinou um contrato de cinco anos com o clube inglês. Não foi renovado e assinou pelo Werder Bremen como jogador livre no verão de 2023. Chegou como vencedor da Premier League e da Liga dos Campeões, mas também como um jogador que a equipa de Klopp não utilizou de todo.

O regresso à Alemanha, onde Keita pediu para voltar, não deu certo. Em um ano e meio, só jogou cinco partidas com o Werder Bremen. Porquê, perguntam vocês? Sim, vários problemas de saúde, compromissos com a seleção nacional e até uma suspensão.

Em abril do ano passado, ocorreu uma situação em Bremen que foi descrita de forma diferente por ambas as partes. Keita terá recusado embarcar no autocarro do clube e partir para o jogo contra o Leverkusen por não ser titular.

O clube respondeu suspendendo-o da equipa para o resto da época. Para além disso, Keita foi acusado de estar no clube apenas por razões financeiras, o que desde então tem negado veementemente. "Se eu quisesse dinheiro, teria optado por assinar um contrato noutro lugar que não o Bremen. A única coisa que me motivou aqui foi a possibilidade de jogar todos os fins-de-semana, de me divertir e de dar alegria".

O presente na Hungria

A partir desse momento, porém, ficou claro que teria de encontrar outro clube para o fazer. Não tinha jogado futebol durante todo o verão e o outono. Estava à espera que aparecesse um pretendente que lhe desse uma nova oportunidade. Em dezembro, o Ferencváros telefonou e Robbie Keane assumiu o cargo de treinador. O clube de Budapeste negociou um contrato de empréstimo com o emblema alemão até ao final da época, com uma possível opção de transferência definitiva.

"Vou ajudar o clube a qualificar-se para a Liga dos Campeões", disse Keita enquanto posava com a camisola verde e branca. Keita fez o seu primeiro jogo em 11 meses com as reservas, entrando na segunda parte na vitória por 4-1 sobre o Tiszafured.

"O médio guineense demonstrou, com os seus bons movimentos, passes precisos e posse de bola, que a sua recuperação está a progredir bem e que poderá estrear-se em breve na equipa principal", afirmou o site do Ferencváros após o jogo.

Tudo isto foi observado de perto pelo treinador Robbie Keane, que não se esqueceu de Keita quando elaborou a lista de inscritos para os play-offs da Liga Europa. Será que pode preparar um trunfo inesperado para o Plzen, o próximo adversário da jornada dupla?