Marlon sentia que a sua história no Shakhtar permanecia inacabada. Na temporada 2021/22, com a escalada do conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia, a passagem do defesa-central brasileiro pelo clube foi interrompida de forma abrupta.
Desde então, o jogador sabia que precisava regressar ao emblema ucraniano, um desejo que não estava apenas na sua mente, mas que era também partilhado pela família.

“Desde o início, via a bandeira da Ucrânia o tempo todo e, quando falávamos do Shakhtar, eu e a minha esposa, apesar de todo o cenário externo de guerra, sentíamos paz e o desejo de voltar. Era o momento de regressar. Aqui estamos, felizes e realizados”, contou Marlon Santos ao Flashscore.
“Cheguei a dizer ao meu empresário: ‘Por mais que possamos conversar com outros clubes, o nosso interesse, o nosso desejo e a nossa prioridade serão sempre o Shakhtar’.”
“É muito gratificante poder regressar a um clube onde estive por pouco tempo, mas que tem uma história marcada por grandes jogadores brasileiros e que funciona como porta de entrada para o futebol europeu”, acrescentou.

Resiliência para escrever nova página
Marlon Santos disputou apenas 22 partidas na sua primeira passagem pelo Shakhtar. As memórias do momento que mudou para sempre a sua trajetória recente continuam vivas.
“Nós, brasileiros, ficámos juntos o tempo todo e, graças a Deus, saímos sem qualquer problema. O clube ajudou-nos com alojamento. Permanecemos num hotel durante quatro dias e dormimos lá. Tivemos o que comer e beber, claro, mas, num cenário de guerra, quatro dias parecem um mês”, recordou.
“No primeiro dia havia bastante comida. No segundo, os suprimentos começaram a diminuir. No terceiro, ficaram ainda mais escassos. E, no quarto, o Júnior Moraes, ex-jogador do Shakhtar, teve de ir à rua comprar coisas para as crianças. Foi um momento muito delicado. Mas o clube vive hoje uma nova página e tenta, através do futebol, trazer algum alívio a este cenário ainda tão difícil”, destacou o brasileiro ao Flashscore.
Para Marlon, uma das características mais marcantes da comunidade ucraniana em tempos tão sombrios é a resiliência, visível tanto nos atletas como no staff do Shakhtar.
“Um jogador mostrou-me um vídeo de uma bomba a cair a 200 metros do apartamento do irmão dele. E, mesmo assim, durante a conversa, esboçava um sorriso, porque acredita que este cenário vai mudar. Qualquer pessoa que veja aquela imagem fica comovida”, contou.
“Nós também sentimos essa dor com eles, quando acontece algum ataque, quando sabemos que houve mortes. Mas acredito que o futebol, neste momento, também ajuda de certa forma, porque traz um pouco de paz, de alegria e de sorrisos”, destacou o defesa brasileiro.
Polónia como base e sonho continental via Liga Europa
Com o território ucraniano ainda sob ataque, o futebol do país foi forçado a tornar-se nómada. Atualmente, a base está instalada na vizinha Polónia. Marlon falou sobre essa experiência, destacando a calorosa receção da comunidade de Cracóvia.
“É muito bom poder encontrar essa tranquilidade na Polónia. No ano passado, por exemplo, a equipa esteve na Alemanha e, a nível logístico, acredito que foi ainda um pouco mais pesado. Mas encontrar um país que faz fronteira com o nosso e que provavelmente entende melhor a nossa cultura, mantendo maior sintonia com a Ucrânia, ajuda bastante.”
“Claro que não é a mesma coisa que jogar em casa. Mas, devido a este contratempo momentâneo, acreditamos que esta é a melhor solução. Estamos a receber o carinho e o apoio dos nossos adeptos e faremos sempre todo o tipo de esforço para estar perto dos nossos fãs e jogar o nosso futebol”, acrescentou o defesa.
Além da disputa do Campeonato Ucraniano, no qual ocupa atualmente o terceiro lugar, o Shakhtar sonha com a presença na Liga Europa. A equipa está na terceira pré-eliminatória, frente ao Panathinaikos, e empatou 0-0 no primeiro jogo, disputado fora de casa.
Na próxima quinta-feira, o Shakhtar recebe o conjunto grego na luta por um lugar na fase seguinte. Caso avance, ainda terá de superar mais um play-off para garantir a presença na fase de grupos.
“Esta sequência é muito importante para nós. Participar numa competição continental é fundamental. Temos uma equipa muito jovem, que ainda está a assimilar a filosofia do treinador, o ex-jogador turco Arda Turan, e a absorver todo o conteúdo que ele transmite. Dentro deste processo, a equipa tem demonstrado personalidade e um impacto muito positivo, o que nos deixa com uma expectativa elevada”, projetou Marlon.
