Recorde as incidências da partida
Apesar de a final da Liga Europa entre o Tottenham e o Manchester United estar longe de ser o melhor cartão de visita do futebol da Premier League, o objetivo na noite de quarta-feira era simples: cumprir a missão e encarar o apuramento para a Liga dos Campeões da próxima época como um bónus adicional.
Os Red Devils estiveram à altura em praticamente todos os aspetos — com exceção da finalização. Ainda assim, Ruben Amorim terá certamente aspetos positivos a retirar de mais uma noite dececionante para o Manchester United.
E, quando a poeira assentar, os números falarão por si.

Mais posse de bola (73,4% contra 26,6%), mais passes completados (514 contra 183), mais oportunidades criadas (quatro contra uma), mais remates à baliza (16 contra três)... A verdade é que a equipa de Ruben Amorim pouco mais podia ter feito. E, não fosse uma defesa fantástica de Guglielmo Vicario a travar Luke Shaw nos instantes finais, o Manchester United poderia mesmo ter levado o jogo para prolongamento.
Substituto de Postecoglou já está a ser preparado?
Postecoglou, por seu lado, deve sentir alguma validação nos seus métodos. E embora ele e o Tottenham tenham motivos legítimos para celebrar, uma análise mais minuciosa à final poderá levar a hierarquia dos Spurs a uma conclusão desconfortável: o técnico australiano terá levado o plantel ao limite das suas capacidades.
Ao que tudo indica, o antigo diretor-geral do clube do norte de Londres, Fabio Paratici, já terá iniciado conversações com o presidente Daniel Levy sobre a possível contratação de Francesco Farioli, ex-treinador do Ajax.

O estilo de jogo do técnico de 36 anos foi amplamente elogiado esta época no comando do Ajax, mas, apesar de ter chegado a ter nove pontos de vantagem na Eredivisie a menos de um mês do fim, acabou por perder o título para o PSV Eindhoven.
Se o Tottenham acredita, de facto, que Postecoglou já não é a solução, resta a dúvida: será sensato apostar num treinador com pouca experiência e que vacilou sob pressão — especialmente numa fase tão delicada como esta?
Lesões são um fator chave para a má forma dos Spurs no campeonato
Além disso, é justo reconhecer as circunstâncias adversas que afetaram o técnico australiano durante parte da temporada 2024/25.
A certa altura, os Spurs enfrentaram uma vaga de lesões que afastou 11 jogadores seniores, incluindo nomes como Micky van de Ven, James Maddison e outros que seriam, em condições normais, titulares indiscutíveis.

Ter de iniciar jogos frente a equipas consolidadas da Premier League com jovens inexperientes como Lucas Bergvall e Archie Gray teria sempre consequências. Ainda assim, Postecoglou nunca pareceu disposto a usar isso como desculpa.
O treinador australiano também nunca se esquivou às perguntas difíceis sobre a sua continuidade, mesmo enquanto a equipa deslizava perigosamente rumo aos lugares inferiores da tabela. E, depois da final, voltou a falar com franqueza.
"Ainda sinto que há muito trabalho a fazer, e isso é óbvio, mas não tanto como as pessoas pensam. As pessoas podem falar das nossas 20 derrotas no campeonato e da situação em que nos encontramos, mas não estão a perceber o que estamos a tentar construir aqui ou o que eu estou a tentar fazer e sinto que esta noite pode ser uma excelente plataforma para continuarmos", disse aos jornalistas.

"Compreendo que seja difícil para um clube como este aceitar a visão de uma pessoa, mas eu sou um vencedor, tenho sido um vencedor em série durante toda a minha carreira. Estamos na Liga dos Campeões (na próxima época), o meu processo de pensamento sobre o que tenho feito este ano é tentar construir uma equipa que possa ter sucesso durante quatro, cinco, seis anos, mas sou o treinador do clube de futebol e essa decisão não está nas minhas mãos", sustentou.
As estatísticas não são uma boa leitura para Ange
A sua postura revela uma convicção genuína de que o seu ciclo no clube está longe de ter terminado. No entanto, os críticos continuam a apontar números difíceis de ignorar: 21 derrotas em 37 jogos da Premier League, apenas seis vitórias em casa e uma percentagem global de triunfos de apenas 29,1% na época 2024/25.
Desde que assumiu o cargo, Ange Postecoglou soma 31 vitórias em 75 jogos da liga inglesa — um registo de 41,3%, o mais baixo entre todos os treinadores dos Spurs na última década, com exceção de Cristian Stellini, que orientou a equipa apenas por quatro jogos.

As 19 vitórias em casa até podem não soar mal — até percebermos que Antonio Conte somou 20 triunfos no Estádio do Tottenham Hotspur com menos 19 jogos do que Postecoglou. Até José Mourinho conseguiu sair vitorioso em 16 ocasiões, apesar de ter orientado menos 17 partidas para o campeonato.
No mesmo período, o técnico australiano somou 33 derrotas na Premier League — apenas menos uma do que Conte, Mourinho e Stellini juntos.
Por mais que Ange procure suavizar o cenário, estes são os factos concretos.
Daniel Levy mantém-se ou desvia-se?
Daniel Levy arrisca-se a tornar-se ainda mais impopular entre os adeptos do Tottenham se decidir despedir o homem que pôs fim a quase duas décadas de jejum de títulos no clube.
A verdadeira questão que se impõe é saber se Levy e a estrutura diretiva acreditam, de facto, que chegaram a um ponto de não retorno com Ange Postecoglou.

Em suma, se Postecoglou resistir a um voto de desconfiança, o clube tem de lhe dar o apoio total de que necessita.
Com a Liga dos Campeões no horizonte, isso implicará um investimento financeiro significativo — algo que, em todo o caso, seria inevitável se um novo treinador fosse contratado.
Se Ange continuar no cargo na próxima época e esse investimento finalmente acontecer, a bola estará do seu lado.
Decisões, decisões...
Leia aqui a crónica da final da Liga Europa
