O município de Autlán de Navarro situa-se no sudoeste de Jalisco, a cerca de três horas de carro da costa mexicana do Pacífico e onde, de acordo com o último censo do governo nacional de 2020, vivem pouco mais de 50 mil pessoas, entre as quais se encontra a família Camberos.
Nesta cidade católica e conservadora com tradição tauromáquica, Hugo Camberos cresceu num clima semi-húmido e jogou à bola em terrenos pedregosos que lhe deixavam os olhos doridos e a cara coberta de terra quando regressava a casa. Nesse "rancho", como ele lhe chama, soube desde muito cedo que tinha nascido para ser futebolista.
Mas aquele rapazinho que marcava a diferença com as crianças da sua idade cedo compreendeu que sim, não havia outra forma senão ser futebolista, mas não um roqueiro e um jogador defensivo, mas sim ser aquele que brilhava e provocava gritos nas bancadas devido à sua capacidade ofensiva.
Como muitas vezes acontece em várias esferas culturais, não há contexto melhor do que um viés conservador e fechado para que a criatividade surja como símbolo de resistência. Autlán de Navarro foi também o local de nascimento do lendário guitarrista Carlos Santana, considerado um dos melhores na sua profissão. Assim como o músico, Camberos também irradiava rock and roll com uma bola nos pés.
Pouco tempo depois, quando já não podia jogar com jogadores mais velhos na equipa local que o seu pai tinha fundado, Camberos foi para uma equipa nacional regional, onde foi recrutado e convidado a jogar na Copa Chivas, organizada pelo Club Deportivo Guadalajara e um dos torneios juvenis mais prestigiados do mundo, onde terminaria a sua chegada, com apenas 12 anos, à equipa mais popular do México.
Fome de glória
A partir do momento em que Camberos entrou na formação do Chivas, a ascensão foi meteórica. O talento, mas acima de tudo a maturidade para jogar, abriu caminho com uma voracidade raramente vista no futebol mexicano. No meio a tudo isso, os formadores de talentos de Guadalajara, uma das escolas de formação de jogadores mais prolíficas do país, questionavam-se qual seria a melhor maneira de controlar o fogo do garoto.
Consciente de que pouco havia a acrescentar ao talento natural, Camberos estava a aprender um valor inabalável na vida e no futebol: a paciência. Sereno, sem nunca se queixar e bem apoiado por uma família que o proibiu desde o primeiro momento de abandonar os valores da sua educação para alimentar o seu ego, Camberos passou por cada fase, sendo quase sempre o mais novo em cada categoria em que estava inserido. Para não o apressar, o clube decidiu dar-lhe um passo para a Primeira Divisão e fê-lo jogar na Liga Expansión com o Tapatío.
Fiel ao seu estilo, apesar de saber que o seu desempenho exigia um lugar na equipa principal, Camberos entregou-se à nova equipa e foi uma verdadeira estrela. O título de campeão do Tapatio em 2024 foi quase obra sua e então, sim, ninguém no Chivas tinha dúvidas de que a sua joia da coroa de 18 anos estava pronta para ser o porta-estandarte do clube.
Depois de uma boa pré-temporada com a equipa principal, Camberos conquistou o seu lugar. E, antes da primeira jornada do Clausura 2025, ele já sabia que seria convocado. Depois, após a conversa técnica, soube que ia ser titular. No meio do nervosismo que sentia, telefonou aos pais, a quem disse que ia ser suplente e que, com um pouco de sorte, poderia entrar em campo durante alguns minutos.
Quando conta a surpresa e as lágrimas dos seus pais quando o viram começar, Camberos sorri. O caminho foi longo e a paciência também, mas nunca esteve sozinho: ao seu lado estavam os pais e o irmão, que deviam estar surpreendidos.
Longe do sentimentalismo familiar, Camberos assumiu as forças motrizes do Chivas, uma equipa que compreendeu que será com a sua equipa de jovens a melhor forma de competir numa liga poderosa com grandes orçamentos. Em oito jogos, Hugo é o que mais finaliza, o que mais dribla e o que mais faltas recebe de toda a equipa. Mas é também o mais entusiasta. O seu primeiro golo na primeira divisão, contra o Toluca e fora de casa, foi um presente para o futuro do futebol nacional.
Ainda com contrato de formação , o Chivas está preparando uma oferta suculenta pelo seu jovem jogador, com a intenção de colocar uma cláusula alta para quem quiser comprar Camberos. Há perguntas vindas dos Países Baixos, país que descobriu no México uma mina de talentos, e de outras partes da Europa.
Camberos está tão consciente do que causou que encara a situação com naturalidade. Ele deixou claro que, por mais que esteja empolgado em jogar na Europa, seu primeiro sonho é ser campeão com o Chivas. A equipa que ama e na qual sempre sonhou jogar, desde que corria com a bola nos pés na sua Autlán de Navarro natal, enquanto enchia a cara de terra.