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"As grandes conquistas, as histórias que realmente fazem a diferença, nasceram da vontade de sair da zona de conforto, de enfrentar o medo e persistir onde muitos desistiram. Ninguém nunca alcançou o extraordinário ficando onde estava, com medo de arriscar. Cada tropeço, cada erro, cada falha se torna uma lição que, no final, constrói a grandeza".
Estas palavras partilhadas pelo guarda-redes João Costa podiam estar escritas na sua biografia. Uma história de resiliência e que nos mostra que o "corpo alcança o que a mente acredita", de alguém que não aceita um 'não' sem perceber realmente se não há 1% de possibilidade no meio do cenário mais pessimista. E se houver, João Costa estará lá para correr atrás e provar que todos estavam errados.
Aos 28 anos, o guarda-redes formado no FC Porto tem experienciado um turbilhão de emoções em 2024. Bons e maus momentos. Muitos. O ano civil começou com a notícia de que tinha sofrido uma lesão grave no joelho num jogo do Feirense e os primeiros prognósticos apontavam para a impossibilidade de voltar a competir em 2023/24.
"Não pode jogar mais esta época". "Não consegue voltar a tempo". "Não vale a pena o risco". "Não vais conseguir". "Não". "Não". "Não". Foi isto que ouviu. Foi isto que leu. E no meio de tantos 'nãos', houve alguém que lhe disse 'sim'.
A 11 de janeiro estava a ser operado. A 11 de maio estava de regresso a uma ficha de jogo. Apenas quatro meses depois, João Costa fintou todas as probabilidades e voltou para ajudar a equipa do Feirense no momento mais delicado da época. Resultado: manutenção assegurada.
Melhor defesa do campeonato
Este prelúdio ajuda-nos a perceber a importância que o passado assume na interpretação do presente. Depois da tempestade com final feliz contra todas as probabilidades em 2023/24, João Costa arrancou 2024/25 com a confiança redobrada em Santa Maria da Feira e disposto a mostrar muito daquilo que lhe tinha sido roubado na época anterior.
Titular nas 13 primeiras jornadas da Liga 2, o camisola 24 do Feirense é o guarda-redes menos batido do segundo escalão do futebol português (10 golos), contabiliza seis clean sheets e acrescenta ainda a particularidade de ter sofrido em apenas uma ocasião mais do que um golo num só jogo.
Na memória mais recente está a grande penalidade defendida na receção ao Marítimo (1-0), ao minuto 84, que permitiu o regresso dos fogaceiros às vitórias, mais de dois meses depois. Leandro Antunes, autor do golo, partilhou o prémio de Homem do Jogo com o guarda-redes.
"Foi coragem, foi alma, foi superação, foi destino. Obrigado por cada batalha que me moldou até aqui. O melhor esta por chegar", escreveu nas redes sociais após a partida da 15.ª jornada da Liga 2.
Helton e Rui Silva, os amigos das balizas
Que viagem! Se algum dia João Costa decidir escrever um livro com as suas memórias, 2024 será certamente um capítulo com muito para contar. Mas não o único. Nesse livro também poderá escrever que teve a oportunidade de trabalhar na equipa principal do FC Porto, onde teve a oportunidade de privar com o icónico Helton.
"A primeira memória é de ele chegar muito acanhado e apreensivo quanto ao que poderia apresentar perante o grupo. Um nervosismo normal de alguém humilde. Mas, depois, vi-o completamente relaxado na hora de trabalhar", recorda o antigo guarda-redes dos dragões, em conversa com o Flashscore.
Convidado a falar sobre o momento atual do "amigo" João Costa, Helton desfaz-se em elogios e perspetiva um futuro (ainda mais) risonho.
"É uma pessoa muito humilde e merece muito o que está a viver agora. Torço sinceramente pelo seu sucesso e pela sua felicidade. Até onde pode chegar? Ele já atingiu um nível elevado, tendo representado equipas de topo. É verdade que existem casos de atletas mais precoces, mas os 28 anos não são um impedimento para nada", defende.
Noutro capítulo: Granada. Aí poderá escrever sobre a felicidade de trabalhar num clube da principal liga espanhola e sobre a injustiça que sentiu na pele. Ainda assim, uma das coisas mais importantes e valiosas que ficou dessa experiência foi a amizade construída com o internacional português Rui Silva.
"Como pessoa, ele é espetacular. Só tenho coisas boas a dizer sobre o João. É uma pessoa extremamente amiga, bem-disposta e muito humilde. Criámos uma boa ligação, porque temos personalidades semelhantes. Desenvolvemos um vínculo muito bonito, até entre as nossas famílias. É isso que de melhor se leva do futebol", descreve o guarda-redes do Real Betis, em declarações ao Flashscore.
"Só tenho maravilhas a dizer sobre ele. É um guarda-redes que passou por muito. Em fases importantes da carreira, surgiram sempre alguns imprevistos que pareciam capazes de abalar a sua motivação, mas, de alguma forma, ele demonstrou uma resiliência incrível. Tem uma capacidade de superação e uma força extraordinária, e é isso que o distingue", elogia.
"O mérito pelo que alcançou é totalmente dele. A sua capacidade de trabalho é inacreditável, e ele não se deixa abater. Apesar de todos os contratempos, como a lesão do ano passado e o que aconteceu no Granada, onde não foi tratado de forma adequada, conseguiu superar-se. Foi para o Múrcia e fez uma época fantástica. Superação, trabalho e profissionalismo são o segredo dos seus resultados", completa.
"Tem capacidade para outros patamares"
"Sinto que tenho capacidade para jogar na Liga e gostava de poder mostrar isso às pessoas", assumiu João Costa, em entrevista ao Flashscore, no final da temporada passada. A verdade é que o guarda-redes continuou no Feirense para a temporada 2024/25 e o resto é história. Mas o futuro está aí à porta.
"Se não for em Portugal (na Liga), será noutro lugar. Ele já deu provas do seu valor, até mesmo aqui em Espanha. Ainda é muito jovem, tem muitos anos pela frente e não tem limites. Por isso, este ano está no caminho certo, a ajudar a equipa. O futuro logo se verá, mas acredito que alcançará outros patamares", aponta Rui Silva.
O guarda-redes do Real Betis deixou ainda uma mensagem a João Costa através do Flashscore: "O João é uma das melhores pessoas que conheci neste mundo do futebol, onde não é fácil ter amigos. Considero-o um grande amigo. Não falamos todos os dias, mas sabemos da amizade, cumplicidade e carinho que temos um pelo outro. Desejo-lhe toda a sorte do mundo e estarei sempre aqui para dar ou receber conselhos".
