Nota: Esta entrevista foi realizada no dia 15 de agosto de 2025, antes de André Teixeira ser apresentado como reforço do Dinamo Tirana.
- Poderias recordar o teu percurso desde os escalões de formação do FC Porto até à última experiência no Chipre?
- A minha trajetória começou no Candal, um clube de Gaia, aos oito anos. Depois, aos 10 mudei-me para o FC Porto, onde fiz toda a formação até aos sub-19. Ao longo deste período, fui campeão distrital, campeão nacional de sub-17 e sub-19, um dos capitães em quase todos os escalões e cheguei a trabalhar com a equipa principal. Na altura, com André Villas-Boas e Vítor Pereira. Também fui presença assídua na seleção nacional, dos sub-16 aos sub-20, estive no Europeu sub-17 e sub-19. Resumidamente, foi este o meu processo de formação.
- A transição para o futebol sénior foi em 2012, ano em que regressaram as equipas B, nessa altura o FC Porto ainda não tinha decidido se iria fazer equipa B ou não e nesse tempo surgiu o Belenenses, um clube histórico que na altura estava na Liga 2. Foi um ano excelente, não joguei muito, é verdade, mas tínhamos um grupo muito bom, dos melhores balneários que tive até hoje. Subimos à Liga Portugal, com recordes, depois nos três anos seguintes fui emprestado ao Leixões, Trofense e Mafra, sempre na Liga 2 e é quando começo a ganhar regularidade, mais minutos e, em 2016, vou em definitivo para o Leixões, onde fiz uma boa época. Regressei à minha posição de origem, que é de defesa-central, e na época seguinte tenho a minha primeira experiência fora de Portugal, no AEL do Chipre. Fiquei lá seis anos, ganhámos uma Taça do Chipre após 30 anos, fui capitão de equipa, sou um dos estrangeiros com mais jogos no clube.
- Depois tive uma passagem curta por Israel, estava a gostar bastante, estava a correr bem, mas decidi sair em janeiro devido à guerra, que começou em outubro. Estive em Portugal um mês e meio, voltei mais um mês e em janeiro decidi sair. No outro meio ano, fui para a Grécia, para o Kifisias, onde fui muito bem recebido e individualmente as coisas também correram bem. Na última época, regressei ao Chipre, onde joguei toda a temporada no Anorthosis, um clube histórico do Chipre. O meu percurso até ao dia de hoje é este, enquanto espero pelo próximo passo.

- Como foi a decisão de abandonar Portugal em 2017 para aceitar o desafio de jogar no AEL, do Chipre? O que te levou a aceitar o desafio?
- Na altura, a possibilidade surgiu. O treinador era o Bruno Baltazar, o clube tinha alguns jogadores portugueses, outros que iriam chegar, ia jogar as qualificações para a Liga Europa. Colocando tudo na balança, decidi arriscar e ter a primeira experiência fora do país.
- Quais são as principais diferenças entre o futebol cipriota e o português?
- Durante estes oito anos, o campeonato cipriota desenvolveu-se muito, devido à entrada de investidores em alguns clubes. É um campeonato com pouca visibilidade, a ideia é um pouco errada. É um campeonato muito competitivo, há seis equipas com objetivo de ser campeão, que conseguem trazer jogadores de qualidade para a liga, dá para comprovar isso, têm tido equipas nas competições europeias. Nos últimos anos, nunca foi a mesma equipa campeã, o que prova que há sempre umas seis equipas a lutar pelo título. Analisando de fora, acredito que as principais equipas do Chipre podiam bater-se bem com as primeiras seis/sete da Liga Portugal. Em relação a Portugal, há muita qualidade, mas existe uma diferença muito grande para os quatro grandes e acho que as outras equipas preocupam-se mais em tentar vender jovens de potencial, por isso é que, normalmente, é uma das razões para vermos os play-offs de subida entre a Liga Portugal e a Liga 2 ser maioritariamente ganho pela equipa da Liga 2, que normalmente é uma equipa com mais experiência e que está mais preparada para jogos de decisão.
- És um jogador versátil, jogas a central e no lado direito. Qual das duas posições te dá mais prazer jogar?
- No meu último ano de Leixões, regressei à minha posição de origem que é defesa-central e nestes anos todos em que estive fora joguei sempre a central. Então, onde sinto que as minhas qualidades se destacam mais é mesmo como defesa-central.

- Como descreves o teu jogo? Tens alguma referência, jogador ou treinador, que te inspirou?
- Como jogador, descrevo-me como calmo, não sou um jogador que dá muito nas vistas, mas sou eficiente no que faço. Tenho boa saída de bola, sou um jogador que lê bem o jogo, o que me ajuda defensivamente e acredito que sou um jogador que organiza bem a equipa. Sempre gostei muito do Sergio Ramos e do Pepe, foi das melhores duplas que vi até hoje. A nível de treinadores, tive dois que me ensinaram bastante, que jogaram num excelente nível e tive o prazer de aprender com eles, que foi o mister Pedro Emanuel, na formação do FC Porto, e o mister van der Gaag, no Belenenses.
- Como foi a experiência de representar Portugal nas camadas jovens? De que forma ajudou na tua abordagem ao futebol profissional?
- Foram experiências fantásticas. É sempre um orgulho representar o nosso país. Na seleção, estás num grupo de eleição e quando estás rodeado de bons jogadores é algo que te faz crescer e ser melhor.
- Se pudesses dar um conselho ao André Teixeira de 20 anos, qual darias?
- Acho que o melhor conselho que poderia dar é procurar evoluir e ser o melhor desde o primeiro momento, seguir os exemplos de quem está no topo e que se mantêm por lá. Evoluir em todos os aspetos, mas também o pós-treino, o descanso, alimentação, rotina de trabalho, todos os aspetos que influenciam e que cada vez mais contam. Seria esse o meu conselho. Não digo isto por não ter seguido, sempre fui profissional, mas quando queremos muito algo há espaço para procurar mais e melhor para chegar o mais longe possível. Nunca nos devemos acomodar.
- Em termos de futuro, o que tens em mente?
- Em relação ao futuro, se for mais próximo quero continuar a jogar e a crescer na minha carreira, espero ainda jogar mais alguns anos. Depois, pensando mais à frente, num futuro mais longínquo, gostaria de seguir a carreira como treinador e continuar ligado ao futebol.