- Rui Miguel Abreu, 38 anos de idade, presidente do Futebol Clube de Paços de Ferreira, desde março deste ano. Fale-nos um bocadinho do percurso, porque não é um muito normal. Começa como um sócio ativo, membro da claque do Paços de Ferreira, depois passa para diretor de marketing, com muito sucesso, porque o marketing do Paços de Ferreira foi elogiado durante muito tempo, e agora é presidente.
- Não vou dizer que é um percurso natural e planeado, mas era uma ambição minha um dia poder ser presidente do Futebol Clube Paços de Ferreira. Não contava de todo que, que pudesse ou que se proporcionasse para ser tão cedo, até porque, pronto estava a construir uma carreira no que ao marketing desportivo diz respeito. Houve aqui um conjunto de fatores que potenciaram, que potenciaram a minha vinda para cá, desde eu sentir que poderia ser uma ajuda para um momento que eu acho que é fundamental na história do Paços. E pronto, e foi isso que acabou por despoletar. Eu sempre tive uma ligação muito forte ao Futebol Clube Paços de Ferreira, quer numa primeira fase como sócio. Depois estive também ligado a claque. Depois passei a oficial de ligação aos adeptos. Entretanto, estive com o departamento de marketing do clube, este é mais um passo.
- Concorreu sozinho, assumiu a plena responsabilidade do clube, que estava já a passar por dificuldades...
- Não me agrada a ideia de ter ido a eleições sozinho, mas é o que é. E, portanto, naturalmente, acabei por ser eleito presidente do Futebol Clube Paços de Ferreira numa fase muito complicada, numa fase muito difícil, principalmente do ponto de vista financeiro. O Paços está a atravessar um dos períodos mais conturbados da sua história a esse nível e, portanto, têm sido meses muito, muito desafiantes e muito complicados.
- Quando pega no Paços de Ferreira que a nível desportivo estava numa situação já complicada, portanto, estava a lutar para não descer de divisão. Conseguiu esse objetivo de se manter na Liga 2 e a nível financeiro passa por uma situação bastante grave, nunca vista na história do clube. De forma real, qual é neste momento o estado financeiro do Paços de Ferreira? Porque fala-se em 5,3 milhões de euros de dívida. A oposição fala em mais de 8 milhões de euros. Mas qual é a realidade neste momento?
- A realidade foi o que foi transmitido aos associados na Assembleia na sexta-feira passada. O passivo da Sociedade Desportiva é neste momento de 5,3 milhões de euros, embora podemos estar aqui a pecar por 100 mil euros para trás ou para frente, porque as contas ainda não estão totalmente fechadas. Obviamente que quando se fala em 8 milhões, tem que ver aqui com uma dívida da Sociedade ao clube que pronto, é dívida. E, portanto, é por isso que falam nos 8 milhões. Mas na realidade, o passivo da Sociedade Desportiva do Futebol Clube Paços Ferreira, neste momento, ronda os 5,3 milhões.
- Tem debatido a mudança do modelo de gestão para SAD. Pode detalhar um bocadinho mais esse seu projeto?
- Sim, nós, nós quando, quando eu me propus a candidatar a presidente do Futebol Clube Paços Ferreira, tinha por base um projeto para a transformação da nossa SDUQ numa SAD, com um projeto que foi apresentado aos associados e que, ao longo dos últimos meses, no decurso das negociações e daquilo que foi também o insucesso desportivo que a equipa acabou por ter e que terá assustado aqui um pouco o projeto inicial, o investidor inicial. A verdade é que depois as coisas poderiam ter-se consumado. Mas nós entendemos que face a uma alteração das condições que tínhamos apresentado aos associados, que não podíamos estar a considerar esse projeto e por isso damos por encerradas as negociações. Entretanto, surgiu um novo, um novo projeto que englobava aqui a venda de 80% do capital social das ações da Sociedade Anónima Desportiva a ser criada por um valor de 12 milhões de euros, com um conjunto de benefícios para o clube, que expliquei na última Assembleia Geral e que, acredito, defendiam intransigentemente aquilo que são os interesses do clube, que acautelavam de alguma forma o futuro do clube também. E, portanto, esse projeto da nossa parte, da parte do Futebol Clube Paços de Ferreira, está totalmente concluído. Ou seja, aquilo que teríamos que fazer está feito. A verdade é que da parte dos investidores, neste caso do fundo de investimento, falta o principal, que é colocarem a assinatura no contrato de promessa, compra e venda e fazerem o depósito do sinal que está contratualizado.
- Portanto, é processo que tem tudo para andar?
- Eu quero acreditar que sim. Obviamente que aquilo que as pessoas me vão transmitindo é que existem aqui timings dentro do próprio fundo, do modus operandi do fundo, que poderão estar a atrasar aqui este processo. Aquilo que eu disse aos sócios é que nós estamos numa fase de extrema dificuldade financeira. Estamos com um gravíssimo problema de tesouraria e, portanto, estamos aqui disponíveis para ouvir outras situações, outras soluções, porque o Paços de Ferreira não pode estar simplesmente de braços cruzados, a olhar para a porta, à espera que, que o fundo com quem temos um entendimento que venha a assinar e que venha fazer o depósito. Por isso, estamos aqui a trabalhar para procurar outras soluções, que têm que ser trabalhadas no imediato e não num futuro a médio e longo prazo, para já.
- Presidente, quais são os riscos e as garantias para o clube, caso os sócios adotem esse modelo de SAD?
- Bom, as garantias, nós procuramos sempre calcular um conjunto de situações que façam com que não aconteçam alguns episódios tristes que temos visto no futebol nacional, algumas situações como a questão do Vilafranquense, a B SAD. Pronto, esse tipo de questões nós temos tudo muito bem balizado e contratualizado, para que não se possam repetir. A própria nova lei das sociedades desportivas também, bloqueia um bocadinho esse tipo de casos menos positivos e de ações menos positivas que uma sociedade possa ter para com o clube. Obviamente que estamos a trabalhar aqui em questões de penhor das nossas ações de maneira a que, caso exista algum incumprimento por parte da SAD, o Paços de Ferreira possa reaver parte da propriedade do capital, das ações, perdão. Portanto, há aqui um conjunto de situações que nos levam a poder afirmar com alguma certeza que os, os direitos, os interesses do Futebol Clube Paços de Ferreira serão sempre garantidos. Obviamente que eu compreendo as reticências dos adeptos, porque infelizmente não faltam por aí casos negativos e maus exemplos de gestões de SAD. Não faltam exemplos de SAD que vinham para colocar os clubes na primeira liga, irem à Europa e que depois pura e simplesmente desapareceram. Compreendo perfeitamente esse receio nos adeptos do Paços. Aquilo que estamos a trabalhar enquanto Direção é para que o projeto que levemos a votação por parte dos associados, pelo menos para nós, Direção, tenhamos um bom nível de confiança de que isso não poderá acontecer aqui com, com o nosso clube.
- Ao dia de hoje, neste preciso momento, quais são as medidas concretas que está a implementar para renegociar as dívidas, melhorar o equilíbrio orçamental? Até porque, por exemplo, fala-se que os equipamentos do Paços de Ferreira estão prontos, mas há uma dívida para trás, ao fornecedor...
- Essa situação já está resolvida. Já chegámos a um entendimento com o fornecedor de equipamentos. Ao contrário do que se anda a falar, eu não disse que o Paços não paga há três anos. O que eu disse é que ao longo dos últimos dois anos, nós temos uma dívida para com eles e fomos fazendo planos de pagamento que num ou outro momento fomos falhando e que, neste momento, fomos confrontados perante uma posição por parte da empresa que ou regularizaríamos de uma forma significativa a dívida ou então eles não libertariam os equipamentos. Esse é só um dos exemplos daquilo que têm sido as dificuldades operacionais do clube desde que eu cá cheguei. Portanto, aquilo que, que eu fiz foi começar a construir um plantel mais barato que o da época anterior, o que é extremamente complicado, porque, com este advento de o Paços ser a única equipa na segunda divisão que não é SAD. Aquilo em termos de salários, o que é oferecido a jogadores que nós tínhamos interesse, fica absolutamente impossível. Nós temos jogadores na Liga 2 com contratos de 20 mil euros, o Paços nunca pagou 20 mil euros na primeira divisão, só para terem um exemplo... E, portanto é muito complicado, mas estamos aqui a cortar. Portanto, nós não fizemos um estágio este ano, estamos a cortar com algumas questões internas, estamos a procurar cortar ao máximo, eu não lhe vou chamar gorduras, vou chamar, se calhar...situações em que o Paços de Ferreira ia, como um clube de futebol profissional, providenciar aos seus atletas e que neste momento não tem capacidade de o fazer. Estamos a procurar junto dos nossos credores renegociar a dívida, mas a verdade é que estamos a falar em alguns casos de processos que já se arrastam há dois, três anos e, portanto, também compreendemos que a paciência dos credores acaba por se esgotar. Aquilo que temos transmitido é: 'Pá, nós estamos a trabalhar, nós vamos conseguir dar a volta a isto, vamos conseguir cumprir' Pedimos é apenas um pouco de paciência para que a gente possa criar as condições para, lá está, cumprir, porque o Paços sempre foi um clube cumpridor. Tem um histórico de ser um clube, de pagar pouco, mas pagar e portanto, é isso que queremos que o Paços volte a ser. Obviamente estamos numa posição frágil e precisamos da ajuda das pessoas que confiem em nós e que acreditem em nós que estamos a fazer de tudo para dar a volta a esta situação.
- Para finalizar, a nível desportivo, a manutenção no segundo escalão é o grande objetivo do Paços de Ferreira?
- Sim, sem sombra de dúvidas. Não temos outro objetivo que não seja a manutenção. Aquilo que foi pedido à equipa técnica e aos jogadores é que nós possamos chegar ali a final de março, abril, que possamos estar confortáveis, que não tenhamos que estar com a corda ao pescoço como estivemos este ano, numa aflição tremenda. É essa a nossa expectativa, é isso que pedimos. É com essa consciência que estamos a tentar construir um plantel equilibrado, um plantel com soluções, para nossa carteira, mas que nos permita enfrentar este campeonato com seriedade e que nos permitam o mais rapidamente possível garantir a manutenção.