Todos os anos a questão é a mesma: quem irá subir de divisão? O campeonato da segunda liga portuguesa é reconhecido por ser sempre muito equilibrado, mas também por ser também bastante imprevisível. Este ano não está a ser diferente, tendo em conta a tabela classificativa ao fim das primeiras 17 jornadas.
Para que se tenha a real perceção da competitividade da edição 2024/25, o Torreense, equipa que ocupa o lugar de play-off de subida nesta fase (o Benfica B não pode subir e, por isso, não entra nestas contas) tem apenas mais quatro pontos do que o 8.º classificado (UD Leiria) e sete de vantagem para o 11.º (Felgueiras).

As surpresas
O Penafiel é o líder incontestado, o único clube a atingir a dezena de vitórias ao fim da primeira volta. A equipa de Hélder Cristóvão começou a temporada com uma vitória épica na receção à UD Oliveirense (4-3), depois de sofrer três golos em nove minutos, e tem pautado o seu percurso pela consistência.

Os durienses têm sido uma agradável surpresa em 2024/25, mostrando uma imagem completamente diferente em relação à temporada passada em que terminaram a primeira volta na 15.ª posição, com mais um ponto para a equipa que ocupava a posição de play-off de despromoção à Liga 3.
"Temos de ser realistas, mas também ambiciosos", disse o capitão do Penafiel, João Miguel, em entrevista recente ao Flashscore.
Outro grande destaque nos primeiros meses de competição é o Tondela. Os beirões contrataram o treinador Luís Pinto ao Fafe, da Liga 3, e terminaram 2024 sem qualquer derrota no campeonato, a única equipa invicta nos principais campeonatos em Portugal. No entanto, a derrota no primeiro jogo de 2025 terminou com essa aura dos beirões, que, ainda assim, mostraram que são capazes de lutar pela subida de divisão.

Os tondelenses já viveram de tudo esta temporada - recuperarem de dois golos de desvantagem, perderem uma vantagem de dois golos, empates nos descontos, reviravoltas no tempo extra... -, mas há uma coisa que parece constante: a atitude competitiva.
Nota ainda para o Feirense. O emblema de Santa Maria da Feira salvou-se no play-off na época anterior e apresentou-se para o novo ano apostado em ter uma época muito mais tranquila. Sob a liderança de Vítor Martins, os fogaceiros são a melhor defesa da prova (10 golos sofridos), terminando 10 dos 17 jogos sem qualquer golo sofrido. Impressionante!

As desilusões
Mas não só de surpresas se fez esta primeira volta. Há também equipas que têm desiludido, pelos mais diversos motivos. Ou por terem assumido o objetivo de subida logo à partida e estarem distantes dos lugares que ambicionavam nesta fase ou pelo peso histórico associado.
O primeiro nome é o Marítimo. Depois de falharem a subida na temporada passada, os insulares, que têm 43 presenças no principal escalão do futebol português, vivem uma fase muito conturbada, ocupando o 14.º lugar, fruto de cinco vitórias, quatro empates e oito derrotas - mais desaires do que em toda a temporada passada.

Apresentado recentemente, Ivo Vieira é o 4.º treinador do conjunto madeirense em 2024/25, depois de experiências falhadas com Jorge Silas, Fábio Pereira e Rui Duarte.
Imediatamente acima na tabela, o Portimonense encontra-se a 15 pontos do líder, muito longe do que inicialmente previsto ainda antes do arranque da nova época, que começou com Sérgio Vieira no comando técnico. Os algarvios venceram apenas duas das 12 primeiras jornadas e pelo meio mudaram de treinador - Ricardo Pessoa regressou ao clube para tentar dar a volta a um cenário desolador.
Em sentido inverso, abaixo do Marítimo está o Paços de Ferreira (24 presenças na Liga), com nove derrotas (!) em 17 jornadas. Os castores estão mergulhados na primeira grande crise após terem caído de divisão no final da época 2022/23 e é difícil imaginar um regresso ao convívio entre os grandes num futuro próximo. E já houve chicotada: Ricardo Silva deixou a Capital do Móvel, dando o lugar a Carlos Fangueiro (ex-Leixões).

Por fim, uma nota para o Leixões. O emblema de Matosinhos está apenas a seis pontos do lugar de play-off, mas a sua presença nas desilusões justifica-se pelas expetativas elevadas criadas no arranque da temporada.
As contratações de nomes com pedigree como André Simões, André André, Hugo Basto e Rafael Martins eram um sinal claro de que a luta para 2024/25 seria pela subida de divisão, mas os resultados não estão a ser à dimensão da ambição e resultaram, inclusive, na entrada do experiente José Mota para o lugar de Carlos Fangueiro no comando técnico do Leixões.
Cinco jogadores em destaque:

João Costa (Feirense)
O Feirense detém o registo de melhor defesa da Liga 2 no final da primeira volta (10 golos sofridos). João Costa é o dono e senhor da baliza dos fogaceiros e tem aproveitado esta oportunidade para mostrar todas as suas credenciais.
Depois da tempestade com final feliz contra todas as probabilidades em 2023/24, João Costa arrancou 2024/25 com a confiança redobrada em Santa Maria da Feira e disposto a mostrar muito daquilo que lhe tinha sido roubado na época anterior.
Titular nas 17 primeiras jornadas da Liga 2, o camisola 24 do Feirense é o guarda-redes menos batido do segundo escalão do futebol português (10 golos), contabiliza 10 clean sheets e acrescenta ainda a particularidade de ter defendido três grandes penalidades. Veja aqui a análise recente feita a João Costa.

Pedro Maranhão (CD Tondela)
O jovem brasileiro cumpriu um período de testes no emblema beirão no início de 2023/24, depois de passagens pelo Maia (distrital da AF Porto) e na AD Sanjoanense (Liga 3), e foi-lhe dada uma oportunidade. A primeira temporada nos auriverdes foi de adaptação e, esta época, está a afirmar-se no segundo escalão.
Maranhão assumiu-se a bom plano numa equipa que esteve meses e meses a manter o registo invicto no campeonato, somando cinco golos e três assistências. Passou recentemente por um período de lesão que coincidiu com a fase de menor fulgar do CD Tondela.
"Está a superar as expectativas, especialmente as minhas. Tinha uma meta pessoal, que só no final da época irei revelar, mas enquanto grupo não temos uma meta estipulada. Vamos jogo a jogo, com os pés no chão e com humildade", disse em entrevista ao Flashscore.

Anthony Carter (Alverca)
O avançado australiano encontrou a sua melhor versão aos 30 anos. Após uma época e meia na UD Oliveirense, que marcou o seu regresso a Portugal após passagens por Tailândia e Austrália, Carter assinou pelo recém-promovido Alverca e tem aproveitado ao máximo as oportunidades na frente de ataque dos ribatejanos.
O camisola 9 terminou a primeira volta como melhor marcador da Liga 2, muito por conta dos sete golos que marcou da 12.ª à 15.ª jornada.

Zé Leite (Penafiel)
O extremo cumpre a 3.ª temporada no segundo escalão do futebol nacional e encontrou em Penafiel o espaço ideal para assumir protagonismo. Zé Leite é um dos nomes em destaque no líder Penafiel, o clube mais consistente nas primeiras 17 jornadas do campeonato.
O 34 dos durienses anotou sete golos, aos quais se somam duas assistências, numa primeira volta de deixar água na boa. É caso para dizer que, aos 35 anos, está em ponto de rebuçado.

Manu Pozo (Torreense)
O Torreense apostou forte para a nova temporada e trouxe para Portugal um espanhol que tem dado cartas na sua primeira experiência fora do país vizinho: Manu Pozo.
O avançado de 23 anos conquistou rapidamente um lugar entre os imprescindíveis de Tiago Fernandes, sendo um elemento importantíssimo na manobra ofensiva do conjunto de Torres Vedras. Cinco golos e três assistências provam isso mesmo.