Recorde as incidências da partida
O futebol é confiança e, por isso, também é desconfiança. Muitas vezes, apesar de palavras tão opostas, as duas podem estar bem perto uma da outra. Quando há confiança, parece que tudo corre bem, mas quando não há... O Sporting vive outra fase sem Ruben Amorim e é impossível não lembrar o atual treinador do Manchester United a cada jogo, especialmente quando as coisas não fluem. E a primeira parte com o Santa Clara esteve bem longe de ser fluída.
João Pereira tentou transmitir confiança na conferência de antevisão, Hjulmand deixou palavras de motivação após a derrota com o Arsenal, mas sente-se uma espécie de nuvem a pairar sobre Alvalade e os adversários sabem disso. O Santa Clara quis mostrar que o estatuto de surpresa da Liga Portugal não era mero acaso e veio ao terreno do campeão e líder disposto a aproveitar qualquer migalha para fazer com que essa nuvem se tornasse mais negra à medida que os minutos foram passando.
Sem Franco Israel (gripe), Kovacevic foi uma das novidades num onze com várias mexidas, mas onde se manteve Marcus Edwards, como prova da tal confiança dada por João Pereira. Os primeiros minutos pareciam de uma equipa que queria esquecer a goleada sofrida frente ao Arsenal, mas as oportunidades pouco claras não deram em nada e o estado de espírito mudou aos poucos.
Mesmo sem conseguir atacar a baliza do guarda-redes bósnio, o conjunto açoriano estava a conseguir enervar os adeptos e também os jogadores do Sporting, que pareciam chegar mais tarde aos lances do que era habitual. O desnorte era evidente e bastou ao Santa Clara uma oportunidade, com demérito defensivo dos leões, e uma bomba de Vinícius para fazer o 0-1 sobre o desamparado Kovacevic, que minutos antes já tinha dado um sinal da intranquilidade que reinava junto ao relvado de Alvalade.
Se a tal intranquilidade nas bancadas era evidente, também deve ser dado o mérito pela forma como os adeptos tentaram ajudar a equipa depois do golo. Enquanto os centrais tentavam perceber de que forma tinham deixado escapar Vinícius e Hjulmand e Bragança discutiam questões de posicionamento, os aplausos tentaram dar à equipa aquilo que esta não conseguia produzir em campo.
Apesar dos motivos por protesto por penálti que ficou por assinalar sobre Geny Catamo, o Sporting não mostrava encontrar soluções para ultrapassar a organização defensiva do Santa Clara, bem liderada por Luís Rocha e Frederico Venâncio, mas também por Safira, que tirou dois golos a Gyökeres em lances de bola parada.
Os minutos passaram e quando Cláudio Pereira apitou para o intervalo, João Pereira deixou logo dois indicadores de descontentamento claro - Harder e Maxi Araújo iam a jogo -, mas além das mudanças na equipa, pedia-se mudança nas ideias, que nunca resultaram no primeiro tempo.
A verdade é que mesmo com as alterações o jogo não mudou assim tanto, pelo menos não como o Sporting queria. A bola continuou na posse da equipa de João Pereira, mas o Santa Clara tardou até passar por momentos de desconforto, mesmo que Geny Catamo e Maxi Araújo, nos dois flancos, tentassem dar mais acutilância ofensiva, o leão continuava em modo mansinho e o Santa Clara assistia sereno às dificuldades do líder.
Se em outros jogos a parceria Harder-Gyökeres teve impacto impacto, neste jogo tardou a ter efeitos, muito por mérito da equipa de Vasco Matos, mas também por demérito do conjunto leonino, que na primeira ocasião causada pela dupla viu o sueco desperdiçar de forma pouco habitual. Pior do que o cabeceamento ao lado, só mesmo o facto de a melhor oportunidade para o Sporting em toda a partida ter acontecido aos 66 minutos.
Tirando lances de bola parada, com cabeceamentos inofensivos de Diomande, o Sporting não conseguiu pelo menos aproveitar o embalo desse lance para partir para uma reta final avassaladora como seria de esperar e os jogadores começaram a somar más decisões - Gyökeres viu um amarelo por protestos e Maxi Araújo tentou arrancar um penálti que quase enganou Cláudio Pereira, com a decisão a ser bem anulada pós consulta do VAR.
Os minutos passaram e aquilo que há umas semanas era difícil de acreditar aconteceu mesmo: Gyökeres ficou em branco pelo segundo jogo consecutivo, o Sporting perdeu para a Liga Portugal (e em Alvalade!) e o Santa Clara venceu pela primeira vez em casa dos leões. Histórico para os dois lados.
Homem do jogo Flashscore: Luís Rocha (Santa Clara)
