Desde que voltou ao Benfica, Bruno Lage foi dando sinais de insatisfação com as peças que tinha disponíveis para o meio-campo.
O técnico português raramente utilizou a dupla Florentino-Leandro Barreiro, que vinha sendo apreciada por Roger Schmidt, mas nunca encontrou uma solução que o deixasse completamente satisfeito.
Kokçu, que saiu agora para o Besiktas, foi testado numa posição mais recuada, para dar uma capacidade de construção que o Benfica não consegue ter com Florentino, mas também não resultou. A contratação de Manu Silva foi também um sinal evidente das ideias do técnico benfiquista, que rapidamente colocou o ex-Vitória SC no onze.
A lesão de Manu retirou essa opção a Bruno Lage, mas o técnico não deixou morrer a ideia e o Benfica foi ao mercado para contratar um médio que nos leva um pouco ao passado recente dos encarnados. Em 2021/22, aí a meio da época, as águias contrataram Julian Weigl, que ganhou logo o lugar a Florentino. Barrenechea chega ao Estádio da Luz com esse objetivo.

Valorização chegou por empréstimo
Formado no Newell's Old Boys, mítico emblema argentino que nos lembra Bielsa, mas também Lionel Messi, claro, Barrenechea deu rapidamente o salto para o futebol europeu. Inicialmente no Sion, mudou-se para a Juventus em 2019, por 5 milhões de euros. No final de contas, acabou por custar um milhão por cada jogo que fez na equipa principal.
Depois de uma cedência positiva num Frosinone recheado de juventude, onde fez 39 jogos, o argentino justificou a aposta do Aston Villa. Uma aposta sobretudo financeira, uma vez que o emblema inglês pagou 8 milhões à formação de Turim e Barrenechea nem sequer se estreou em Inglaterra. Foi, portanto, no Valência que conseguiu mostrar-se a um nível mais elevado.

O médio argentino contribuiu para a época em trajetória ascendente da equipa espanhola e foi aí que mostrou algumas das qualidades que fizeram o Benfica apostar na sua contratação, num negócio que está avaliado em 15 milhões de euros, quase o dobro do que o Aston Villa pagou por um jogador que só vestiu a camisola do emblema de Birmingham para tirar fotografias.
Mas, afinal, em que consiste esta aposta do Benfica? O que pode dar Barrenechea ao jogo das águias?
Mais Weigl do que Florentino
Apesar de jogar na mesma posição de Florentino Luís, Barrenechea está longe de ter as mesmas características do internacional sub-21 português, que ainda pode deixar o Benfica neste mercado de verão.
O médio nunca foi verdadeiramente apreciado por Bruno Lage e chegou a rodar por empréstimo noutros clubes, precisamente por não conseguir fornecer as mesmas características que Barrenechea.

Uma análise rápida aos gráficos da Opta permite-nos desde logo perceber as grandes diferenças entre os dois jogadores. Florentino é um médio defensivo forte nos duelos e na recuperação, enquanto Barrenechea sobressai mais com bola. O argentino gosta de participar no início da construção e, apesar de não arriscar muito ofensivamente, tem maior presença em zonas altas do que o português.
Ao longo da época passada, apesar de ambos apresentarem uma taxa de sucesso no passe semelhante (Florentino 88% e Barrenechea 87%), o argentino fez um total de 1343 passes, um número superior aos 1115 do trinco formado no Seixal.

Com Barrenechea, Bruno Lage procura recuperar o controlo do jogo do Benfica. Se Florentino é um médio mais importante nos momentos sem bola, destacando-se sobretudo nos jogos de maior equilíbrio ou até na Liga dos Campeões, o jogador emprestado pelo Aston Villa vem para dar mais tranquilidade e soluções com bola, com o objetivo de evitar erros comprometores na construção que acabaram por acontecer várias vezes ao longo da época.
A verdade é que Weigl não deixou saudades na Luz. Agora, Barrenechea chega para provar que Bruno Lage estava certo no perfil desejado para o meio-campo encarnado, mesmo que o desfecho das eleições mude o homem ao leme do banco benfiquista.