Uma vez mais, André Villas-Boas e a sua equipa surpreenderam e encontraram, no verão, um jogador espanhol que poucos acreditavam ser possível trazer para o Estádio do Dragão, especialmente sem Liga dos Campeões e depois de uma época limitada à conquista da Supertaça e à confirmação do lugar mais baixo do pódio.
Depois da jogada com Samu Aghehowa, as influências espanholas convenceram Gabri Veiga a abdicar do El Dorado saudita, baixando o salário em 90%, para voltar ao futebol europeu e jogar no FC Porto, já com vista ao Mundial de Clubes. Mas, afinal, devem os portistas começar a ficar entusiasmados com a primeira contratação da nova temporada?
Da afirmação nos Balaídos ao El Dorado saudita
Podemos começar já por responder a essa pergunta: sim, os adeptos portistas devem, efetivamente, ficar entusiasmados com a contratação de Gabri Veiga.
Razão número um: 15 milhões de euros por um jogador que, há duas épocas, custou 30 milhões, tem uma enorme margem de crescimento, potencial de seleção espanhola e muito mercado. É, desde logo, um bom negócio.
Razão número dois: aos 22 anos, Gabri Veiga já é campeão asiático de clubes e já provou na LaLiga, provavelmente o segundo melhor campeonato do futebol europeu, que pode ter impacto e até carregar uma equipa aos ombros. Algo que, à partida, não terá de fazer no FC Porto, dividindo essa responsabilidade com o compatriota Samu e, claro, com Rodrigo Mora.
Em 2022/23, sob o comando de Carlos Carvalhal, o médio espanhol teve a sua verdadeira época de afirmação num contexto difícil, contribuindo de forma decisiva (11 golos) para a manutenção da equipa galega. No último jogo pela formação de Vigo, bisou na vitória (2-1) frente ao Barcelona, que confirmou a permanência, provando assim que, apesar da idade, não treme sob pressão.
No FC Porto, Gabri Veiga irá encontrar um contexto diferente. A exigência dos adeptos, especialmente depois da última época, será ainda maior, e a adaptação deverá ser feita o quanto antes. Mas o jovem natural de Porriño tem todas as condições para se afirmar no futebol português.
Claro que a decisão de rumar à Arábia Saudita tão jovem, que motivou críticas até de companheiros de profissão como Toni Kroos, justifica alguns julgamentos. No entanto, o desejo de regressar, mesmo sabendo que iria perder bastante dinheiro, mostra que o espanhol está preparado para desfrutar do seu futebol e dos desafios que terá neste regresso à Europa, algo que esteve sempre no seu pensamento.
"O aspeto económico foi muito importante, mas há também o aspeto desportivo, a flexibilidade que um contrato de curto prazo proporciona (...) Não acho que vou fazer toda a carreira aqui", disse, em entrevista ao Mundo Deportivo, sobre a sua decisão de aceitar a proposta do Al-Ahli.
Ao fim de duas épocas, além da conta mais recheada, Gabri Veiga aterrou na cidade do Porto com novas experiências, o primeiro título da carreira e um saldo de 66 jogos, 12 golos e 10 assistências ao serviço da equipa saudita.
Novo Nico ou parceiro para Rodrigo Mora?
Em entrevista aos canais da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Gabri Veiga admitiu que queria “tocar no ouro” com a seleção espanhola sub-21 no Europeu que se realiza este mês, depois de ter perdido a final em 2023. No entanto, é já em junho que os portistas vão perceber o que vale o seu novo reforço, com o médio a ficar fora da competição de seleções para jogar no Mundial de Clubes.
"Sou um jogador que gosta de chegar à área, gosto de aparecer desde trás, tenho boa condução e um bom arranque, mas sinto que sou um jogador muito solidário com a equipa".
Foi assim que Gabri Veiga se caracterizou dentro de campo, em declarações ao canal Mundo Maldini, no YouTube. O Flashscore, com a ajuda de César Suárez, editor do Flashscore Espanha, analisou o novo reforço portista ao pormenor e o possível papel que poderá ter na equipa de Martín Anselmi.
Comecemos com a pergunta que antecede este ponto do artigo: afinal, Gabri Veiga pode ser um substituto de Nico González ou jogar ao lado de Rodrigo Mora, antecipando até a saída de Fábio Vieira depois do Mundial de Clubes?
"(O Nico) foi formado para ser um novo Busquets e o City contratou-o para ser um novo Rodri. Mas creio que rende melhor quando tem mais liberdade", começou por dizer o jornalista, recordando o antigo jogador do FC Porto.
"No caso do Gabri Veiga, ele é mais um médio-ofensivo do que um criador de jogo, ou seja, mais um 10 do que um 6. Entra muito bem na área vindo de trás, mas não é um jogador para atuar como médio defensivo. Com essas qualidades, parece mais um parceiro para o Rodrigo Mora", acrescentou.
Pontos fortes e pontos fracos
“A sua maior qualidade é a capacidade de chegar à baliza ao estilo Bellingham, aparecendo de surpresa vindo de trás. Na verdade, dizia-se que o Real Madrid o queria, embora isso tenha sido mais por causa do seu agente do que por um interesse real. Tem muito golo, oportunismo e um grande remate. No seu último ano no Celta marcou 11 golos, a maioria na segunda parte dos jogos”, analisou o jornalista espanhol.
“O pior do Gabri Veiga pode ser o seu posicionamento defensivo. Cometia muitas faltas por querer ajudar na defesa e, por vezes, deixava muito espaço nas costas".
Claramente mais 10 do que 8, Gabri Veiga tem tudo para elevar o jogo ofensivo do FC Porto a outro nível e até contribuir para a recuperação da veia goleadora de Samu, muitas vezes sozinho na área adversária. Em Espanha, não há dúvidas: a transferência do espanhol foi boa tanto para os dragões como para o próprio jogador.
“Fico contente por ver o Gabri Veiga de volta à Europa, a um futebol mais competitivo e a uma equipa que luta por títulos. É demasiado jovem para estar, com todo o respeito, numa liga menor como a saudita”, opinou o jornalista do Flashscore.
“O Gabri Veiga foi muito criticado por ter ido para a Arábia apenas a pensar no dinheiro, por isso agora esta pode ser uma oportunidade para relançar a sua carreira e, porque não, voltar ao radar da seleção”, concluiu.
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