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Puxemos a fita atrás. Samu estreou-se no dia 31 de agosto, entrando em campo para os últimos 18 minutos na derrota frente ao Sporting em Alvalade. Seguiu-se uma paragem para seleções (na qual ficou em branco nos sub-21 de Espanha), antes de entrar com tudo na Liga Portugal: em apenas 28 minutos em campo, apontou o seu primeiro golo frente ao Farense.
Seguiu-se um período fantástico: dois golos ao Vitória SC, um na derrota com o Bodo/Glimt, outro frente ao Arouca e mais um bis no empate contra o Manchester United. Ficou em branco com o SC Braga, veio nova paragem internacional e voltou para aterrorizar defesas ao marcar um ao Hoffenheim e um hat-trick ao AVS, adversário deste sábado (11 golos em 9 jogos). Três jogos depois, um golo ao Benfica e três semanas sem marcar, até chegar um dezembro produtivo: seis golos em seis jogos (bisou com o Boavista, não marcou ao Estrela).
Em 2025, um período de seca que ajudou ao despedimento de Vítor Bruno e não fez muitos favores no início da era Anselmi. O espanhol só voltou aos golos no Olímpico de Roma e fê-lo em grande estilo, voltando a marcar frente ao Arouca, na ronda antes do desaire (ou desastre) em Braga.

Matador de área
Foquemo-nos nos números apenas da Liga Portugal: 14 golos marcados em 9 golos esperados (9xG), com uma diferença de cinco pontos (Gyokeres, por exemplo, tem 27 golos e 21.92xG, uma diferença de 5.08 pontos). Isto faz dele o melhor marcador espanhol nas 10 principais ligas europeias. Dados relevantes para os campeões europeus que precisam de substituir Morata e colocar alguém que aproveite a vertiginosidade de Williams e Yamal.
Já se percebeu que não tem grande dificuldade na arte de marcar golos, mas aprofundemos ainda mais o trabalho de matador na grande área. Samu intervém na grande área a cada 16 minutos (Gyokeres só precisa de 8,5 minutos), e remata a cada 30 minutos, um valor semelhante ao de Clayton, do Rio Ave, terceiro melhor marcador do campeonato. O espanhol precisou de 54 remates, 21 dos quais à baliza, para anotar 14 golos, uma percentagem de acerto de 25,9%, semelhante à de Gyokeres (26,5%), enquanto Danny Namaso tem apenas 11,5%.

No entanto, apesar do registo individual positivo de 20 golos em 33 jogos em todas as competições - tendo em conta que se trata de um miúdo de 20 anos em época de estreia -, há algo que continua a preocupar os portistas. Pode parecer um pleonasmo, mas Samu tem muita dificuldade em causar impacto nos jogos em que não marca.
Jogo associativo
Se Namaso é constantemente atacado pela falta de golos - e faz sentido, uma vez que intervém na área tal como o Samu (de 16 em 16 minutos), mas com uma taxa de conversão de 11,5% (marcou apenas três golos no campeonato) -, a nível associativo, Samu é menos ativo. Tenta, em média, 14 passes, 9 deles no meio-campo adversário, a cada 90 minutos, claramente abaixo dos 23 e 13 do que colega de equipa.
O britânico, além disso, ultrapassa os 80% de precisão nos passes em terreno adversário (81%) enquanto o espanhol não chega aos 75%. Embora ambos estejam acima de Gyökeres (70%) e Clayton (58%), demonstrando talvez que mesmo com a mudança de Vítor Bruno para Martín Anselmi, o FC Porto é uma equipa que tende mais para a associação do que outras. Se olharmos para o seu mapa de calor, Samu é preferencialmente um avançado de área, um finalizador clássico.

Outro aspeto claro do perfil final de Samu são as conduções de bola. Fez 72 até ao momento no campeonato, contra as 104 de Namaso. Uma diferença considerável quando vemos que o espanhol tem muitos mais minutos (Samu 1.641 e Namaso 985). A mesma coisa acontece com as conduções de 10 metros ou mais: o jovem espanhol fez 13, menos metade do parceiro (28).
O último duelo dos dragões foi terrível em toda a linha, mas uma das coisas que mais chamou à atenção foi a incapacidade de a equipa avançar no campo. Abaixo, podemos encontrar uma razão para isso: ao longo dos 90 minutos, Samu concluiu apenas sete passes, nenhum dos quais pode ser considerado verdadeiramente um passe para a frente, sendo que a direção de ataque é da esquerda para a direita.

A conclusão é clara. Estamos a olhar para um avançado que cumpre 21 anos já no próximo mês de maio e, por isso, com ampla margem para evolução. Nos primeiros anos de carreira tem vindo a mostrar que é um grande goleador, principalmente esta temporada. Nunca lhe faltará instinto de goleador, mas terá de melhorar para crescer no jogo coletivo.
Felizmente ou infelizmente para os adeptos do FC Porto, que não são propriamente conhecidos por terem muita paciência com jogadores - especialmente os que custaram 20 milhões de euros -, escolheu um destino propício para crescer. A tarefa está nas mãos de Anselmi.
Este sábado, Samu reencontra a sua vítima favorita até agora em Portugal. Na primeira volta, anotou um hat-trick em menos de 15 minutos na goleada por 0-5. Agora, no Dragão, que melhor altura para voltar a ganhar a confiança e o aplauso dos portistas?

Outras estatísticas relevantes:
Golos: Zero golos de fora da área em todas as competições pelo FC Porto (2.552 minutos), 50% de conversão de grandes oportunidades (16 em 32 acabaram em golo).
Passes: Na Liga Portugal (1.641 minutos), em 258 passes tentados, apenas 38 foram para a frente. Soma apenas 18 lay-offs (passes curtos em combinação, como uma tabelinha), 9 flick ons (passe a um toque) e três assistências.
Duelos: 39,3% de sucesso nos duelos na Liga Portugal (1.641 minutos) e abaixo dos 50% nos duelos aéreos (35 ganhos em 74).
Defesa: Na Liga Portugal (1.641 minutos), soma dois cortes tentados, um bem sucedido, cinco interceções, 37 posses de bola ganhas. Estatísticas no campeonato.
Progressão: 101 toques no meio-campo adversário, 5 dribles completados (em 28 tentados, 17,9% de sucesso) na Liga Portugal (1.641 minutos).
