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André Castro: "Um jogador do FC Porto não pode ter medo"

André Castro foi homenageado no Dragão
André Castro foi homenageado no DragãoFC Porto
Numa longa entrevista à revista Dragões, André Castro reviveu as passagens pelo FC Porto, a saída pela Turquia e a desilusão com a Seleção Nacional.

Jogador à FC Porto: “É difícil dizê-lo por palavras, mas se tivesse que escolher uma era constância. Claro que ninguém gosta de perder, mas importante é pensar ‘o que é que tu fazes para não perder?’. Não podes ir abaixo e tens de continuar a dar o máximo todos os dias. Tens que sentir as coisas. Atualmente há muitos jogadores que não se arriscam a querer muito uma coisa para depois não sofrerem muito com isso. Um jogador do FC Porto não pode ter medo de sentir, tem mesmo que querer muito e conseguir viver com a desilusão. Um jogador relaxado nos treinos, para quem perder a bola é quase desporto, não pode representar este clube”.

Estreia pelo FC Porto: “Foi o jogo contra a União de Leiria. Não me lembro de tudo, mas lembro-me da atenção dos meus colegas a quererem dar-me a bola para me sentir confortável com ela. Todos me deram a bola para eu me mostrar e aproveitar. Senti muito isso quando entrei”.

Ser campeão: “Foi um sonho, sem dúvida, mas ao mesmo tempo tinha um espírito tão crítico que nunca me senti verdadeiramente campeão. Nessa época só fiz dois jogos, por isso estava feliz pelos meus colegas e por o FC Porto ser campeão, não orgulhoso pelo meu contributo, embora soubesse que treinava bem e ajudava no que podia. Um jogador que não joga ao fim-de-semana tem uma responsabilidade acrescida durante a semana, que é fazer com que os titulares treinem bem durante a semana”.

André Villas-Boas treinador: “No início da época chamou-me ao balneário e disse-me que eu ia fazer parte do grupo dos capitães. Estava a chegar doo empréstimo ao Olhanense e já era um dos cinco capitães do FC Porto num plantel cheio de nomes ilustres. Era um comunicador nato, percebíamos exatamente o que ele pretendia dentro do campo e a exigência era enorme, mas havia uma leveza e uma onda positiva dentro do balneário. A energia vencedora era grande”.

Os números de Castro
Os números de CastroFlashscore

Seleção Nacional: “Custou-me muito, é uma das coisas que mais custou. Fui convocado por que fazia parte da equipa jovem do ano em Espanha e fiz meia época muito boa no Sporting Gijón. Claro que tinha o sonho de me estrear. O jogo estava decidido e lembro-me de estar a aquecer e ouvir os meus colegas dizerem-me para ficar tranquilo que ainda faltavam 15 minutos. Para eles já era um dado adquirido que ia entrar, por causa do resultado e tudo, e quando não entrei pensei logo se voltaria a ter uma oportunidade igual. Não tive e claro que fiquei com este sentimento amargo”.

Saída para a Turquia: “Fiz 25 jogos e fui o jogador mais utilizado a seguir aos onze titulares. Nessa altura foi vendido o João Moutinho e o Fernando Reges e eu pensei ‘na próxima época vou agarrar isto para ser titular’. Queria afirmar-me no FC Porto, era o meu maior sonho, mas os anos começam a passar. Era um dos jogadores com o salário mais baixo, mas não jogava no FC Porto por dinheiro. É muito importante dizer isto porque eu seria titular por aquele dinheiro e isso ficou bem vincado. Recebi uma proposta para a Turquia e perguntei se contavam comigo para jogar. Foi assim que saí emprestado com opção de compra”.

Regresso: “Falei com o meu empresário e disse para ele informar o FC Porto de que caso me quisessem para equipa B eu estaria disponível para sair do Moreirense. Passado cinco minutos liga-me o Jorge Costa e foi num abrir e fechar de olhos que se resolveu isto. A vontade era muita dos dois lados”.

Último jogo: “Foram lágrimas de tristeza. Sou completamente apaixonado por aquilo que faço, ou que fazia, ainda não sei falar dessa maneiria. Não me lembro de mim sem ser jogador profissional de futebol desde os 10 anos. Sempre tive muito cuidado com o corpo, mesmo nas férias e sempre vivi para isto. Acabou, tenho que me fazer de novo e tirar proveito de toda a experiência que fui ganhando ao longo daqueles anos”.