Mais

Associação de Adeptos saúda proposta de democratização de bebidas alcoólicas nos estádios

Tema da democratização da venda de bebidas de baixo teor alcoólico foi levado pelo Vitória SC à reunião magna de terça-feira
Tema da democratização da venda de bebidas de baixo teor alcoólico foi levado pelo Vitória SC à reunião magna de terça-feiraHugo Delgado/LUSA

A presidente da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA), Martha Gens, saúda a proposta de democratização da venda de bebidas de baixo teor alcoólico nos estádios de futebol, mas não a considera uma medida prioritária.

Em bom rigor a venda de bebidas de teor alcoólico nos estádios é permitida. Só não é em todas as bancadas, porque nos camarotes ou nas zonas VIP não só há bebidas de baixo teor alcoólico como de todos os teores, nomeadamente vinho”, afirmou em declarações à agência Lusa.

A reação da APDA surge após o presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Reinaldo Teixeira, ter afirmado na terça-feira que mantém conversações com o Governo sobre a venda de bebidas de baixo teor alcoólico nos estádios.

Martha Gens recorda que a própria lei já consagra e permite a venda de bebidas alcoólicas em zonas próprias para o efeito e o que agora é proposto pela Liga, e que exige a adequação dos seus regulamentos, “é o seu acesso genérico, a democratização do seu acesso” a todos os adeptos.

A questão (como é apresentada pela LPFP) parte de uma premissa errada, populista, mas errada. Porque na verdade (o acesso a bebidas de vários teores alcoólicas) é permitido, só não é permitido a todos”, esclarece a presidente da APDA.

De acordo com Martha Gens, que considera que “a questão está mal apresentada pela LPFP”, o que está em causa não é permitir que se beba bebidas de baixo teor alcoólico, mas sim que se possa beber em todos os setores dos estádios e que estas estejam ao alcance dos vulgares adeptos.

“Isto (venda de bebidas de baixo teor alcoólico em zonas específicas dos recintos desportivos) está em lei e para nós não é uma prioridade. Não somos contra, somos a favor, porque ajuda a uma série de coisas”, justificou Martha Gens.

A responsável sustenta a sua posição com o facto de entender que quando se melhora o pilar hospitalidade nos recintos desportivos, todos os restantes, nomeadamente os relacionados com a segurança, são automaticamente ajustados e melhorados.

“Se nós promovemos melhores medidas de hospitalidade para os adeptos os outros pilares vão deixar de ser tão acutilantemente necessários. Se nós promovemos o acesso democrático a bebidas de baixo teor alcoólico promovemos que não haja diferenciação entre adeptos de primeira e de segunda”, defende.

Para Martha Gens a adoção desta medida permite ainda que as pessoas entrem atempadamente nos recintos desportivos, evitando o que vê todas as semanas, e promove o combate ao consumo de bebidas nas imediações, que faz com que os adeptos entrem nos estádios com níveis de álcool no sangue superiores ao desejado.

Só há benefícios e, depois, os clubes podiam explorar isso a seu favor. Se formos a um estádio como o do Bayern Munique a cerveja custa cinco ou seis euros. Claro que só bebe quem quer, mas ao menos há”, acrescenta a presidente da APDA.

Martha Gens sustenta que “há todo um leque de vantagens” suportado por esta medida, que coloca a hospitalidade ao adepto no centro e que “faz com que tudo o resto acabe por correr muito melhor, num processo em que só há vantagens”.

“Somos a favor, mas não é uma prioridade para nós. Eu prefiro que na casa de banho das mulheres haja papel higiénico ou um fraldário. Ou que seja melhorado o sistema de segurança à entrada nos recintos, para que não se revistem crianças de três anos”, adianta.

A presidente da APDA refere ainda que “para a liga portuguesa ser considerada uma boa liga não depende apenas de jogar bom futebol” e recorreu ao exemplo dos suecos, “que têm um péssimo futebol e raramente estão representados nas competições europeias”, mas que “têm excelentes adeptos”.

O assunto foi levado pelo Vitória SC à reunião magna de terça-feira, em que o clube lembrou que, em ligas como a inglesa, alemã ou neerlandesa, a venda de cerveja e sidra nos estádios representa receitas que podem ascender a centenas de milhares de euros por jogo.

Em Portugal, considerou o clube, os adeptos acabam por consumir no exterior, em condições menos controladas, bebidas de maior teor alcoólico, o que “incrementa o risco de violência no espaço público”.

Nesse sentido, os vimaranenses propuseram que a Liga e os clubes subscrevam uma petição pública a apresentar à Assembleia da República, pedindo a legalização regulada da venda em todas as bancadas dos estádios.