O documento, ao qual o Flashscore teve acesso, revelou um "impacto negativo estimado de 50 milhões de euros resultante de comissões acordadas acima dos referenciais FIFA e/ou dos standards de mercado", assim como "irregularidades relativas aos processos de venda de bilhetes" à claque Super Dragões e casas do FC Porto.
As 10 temporadas investigadas pela Deloitte reportam ao período em que Pinto da Costa liderou o clube e a SAD, cargos que deixou de exercer em 2024 ao fim de 42 e 27 anos depois, respetivamente, após ter sido derrotado por André Villas-Boas nas eleições mais participadas da história portista, com o antigo treinador a prometer uma auditoria forense.

Transferências e comissões
"47% de comissões em excesso, contratando 158 milhões de euros, face a um máximo de 105,9 milhões de euros, caso fossem respeitados os limites FIFA e/ou standards de mercado. O montante total das comissões acordadas foi de 158M (cerca de 16M por época), com 46% do valor associado às saídas, 37% às entradas e 16% em renovações, e uma contribução reduzida de empréstimo e rescisões (cerca de 1%)", pode ler-se quanto às transferências.
Ainda sobre a compra e venda de jogadores, a auditoria revela a existência de uma concentração de intermediários, sendo que 50% das comissões foram atribuídas a apenas oito agentes: Gestifute (31,1M€), PP Sports + N1 Carreiras Desportivas (14,7M€), Bertolucci Assessoria (10,1M€), BM Consulting+Yes Sports (7M€), Passion Sports (5,1M€), Livesoccer (4,8M€), STV - Soccer Talents Vision (4,0M€) e Northefields Sports BV (3M€).

Ao mesmo tempo, "há 16 mandatos de exclusividade atribuídos a intermediários, alguns dos quais sobre jogadores-chave, restringindo a liberdade de negociação", com o capitão Diogo Costa a ser um desses casos.
Segundo o documento, numa análise aprofundada a 55 jogadores transaccionados pelos dragões nas últimas cinco temporadas, 51 dessas transferências não tiveram qualquer tipo de documentação que as justificassem, como relatórios de scouting.

Despesas da Administração
A última área de gestão analisada denunciou 3,6 ME de despesas de representação não elegíveis em consonância com o regulamento interno da SAD, mas que foram usufruídas por anteriores administrações da sociedade gestora do futebol profissional dos dragões.
Entre as despesas da anterior administração, destacam-se os 420 mil euros acima do plafond, que o relatório refere que "uma parte significativa foi utilizada para fins estritamente pessoais": cerca de 1,1 milhões de euros gastos em viaturas, 700 mil euros em refeições (cujo plafond era de 275 mil euros), 70 mil euros em joalharia e relojoaria e 700 mil euros em viagens.

Irregularidades na venda de bilhetes
Além das transações de futebolistas, a auditoria forense revelou irregularidades na venda de bilhetes para jogos do FC Porto aos Super Dragões, uma das claques, e às casas do clube, estimando perdas de 5,1 milhões de euros em 2017/18, 2018/19, 2021/22, 2022/23 e 2023/24.

Os Super Dragões averbaram dívidas de 2 M€ em relação a ingressos não restituídos ao FC Porto e uma perda de 1,45 M€ em faturas não elegíveis à luz do protocolo, tendo utilizado de forma indevida recursos do clube para pagarem viagens pessoais a membros e familiares da direção da claque rumo a destinos onde não existiam jogos dos dragões.
"A auditoria confirmou ainda ter havido um uso indevido de recursos do clube para pagar viagens pessoais a membros e familiares da Direção dos Super Dragões para destinos onde não existiam jogos do Clube (Cuba, Cancun, Maldivas, Brasil, Tanzânia, Ibiza, Sardenha)", pode ler-se.
Ainda sob a esfera daquele grupo organizado de adeptos, que deixou de ser liderado em 2024 por Fernando Madureira, um dos arguidos na Operação Pretoriano, eram atribuídos com regularidade descontos não autorizados aplicados sobre o valor facial dos bilhetes vendidos para os jogos do Estádio do Dragão, resultando numa perda de 850 mil euros.

Já o impacto financeiro da oferta indevida de ingressos consumada pelos Super Dragões aquando de partidas com grande relevância comercial de bilheteira cifrou-se nos 340 mil euros.
Diversas casas do FC Porto também atuaram na venda de bilhetes sem fornecer dados legais obrigatórios, causando perdas de 81 mil euros, abaixo dos 110 mil resultantes do excesso de ingressos comercializados face à bolsa média permitida, restringida a 2.500.

Villas-Boas destaca "nova era"
“A conclusão desta auditoria marca o início de uma nova era para o FC Porto. Este é um compromisso cumprido com os nossos sócios e adeptos, que merecem um clube transparente e exemplar na sua gestão. As evidências encontradas não só revelam desafios do passado, mas também permitem virar a página e construir um futuro mais sustentável e ético”, afirmou André Villas-Boas, em declarações aos meios dos azuis e brancos.
A auditoria analisou um período de 10 épocas, de 2014/15 a 2023/24, com foco em três áreas de gestão - bilhética, transferências de jogadores e despesas de representação -, “revelando práticas que impactaram negativamente a saúde financeira e a reputação do clube".
“Estamos a implementar mudanças estruturais para garantir que estas práticas não se repetem e que o FC Porto continue a honrar a sua história. É o momento de olhar para o futuro com confiança e determinação”, frisou Villas-Boas, num dia em que os associados tiveram acesso prioritário ao documento através do portal da transparência dos dragões.