A 28 de julho, o FC Porto surpreendeu o mercado nacional ao garantir a contratação do experiente Jan Bednarek, de 29 anos, capitão do Southampton, entretanto relegado para a segunda divisão inglesa. Pouco mais de um mês depois e já com a época em andamento, nova bomba: Kiwior trocou o Arsenal, candidato ao título da Premier League e Liga dos Campeões, pelos dragões, num empréstimo com opção de compra.
Começava-se a desenhar a "muralha polaca" que viria a efetivar-se depois da lesão grave de Nehuén Pérez que escancarou as portas do onze ao mais novo dos centrais. Em 10 jogos já realizados pela dupla na retaguarda azul e branca, a turma de Farioli sofreu quatro golos, dois dos quais de grande penalidade frente ao Nottingham Forest, para a Liga Europa. O impacto tem sido de tal forma positivo, que Jan Bednarek foi eleito defesa do mês de outubro pela Liga Portugal.

Agora, o FC Porto revela as primeiras impressões dos dois jogadores que, curiosamente, se estrearam no Estádio do Dragão ao serviço da seleção polaca na Liga das Nações.
Primeiras impressões sobre a cidade
Bednarek: “A primeira impressão que tive foi em novembro do ano passado quando jogámos pela seleção polaca no Porto. Uma cidade que deixou uma boa impressão. Agora, posso ver a cidade sob uma perspetiva diferente e vou conhecendo os cantinhos mais típicos dos locais. A primeira coisa que vem à cabeça é que toda a cidade e os adeptos vivem o FC Porto e amam este clube. Parece mesmo uma religião ou uma cultura para quem aqui vive. Isso nota-se mesmo numa perspetiva mais pessoal. A minha esposa e eu gostamos muito de termos a praia por perto, com restaurantes e cafeterias por perto.”
Kiwior: “É difícil, para mim, experimentar comidas novas. No entanto, estivemos juntos num restaurante e comemos bastante bem. O tempo que passei aqui, até ao momento, foi muito agradável. Tanto no clube, como fora dele.”
Bednarek: “A francesinha assusta-me. É um prato que tem tudo. Às vezes ainda penso em experimentar, mas... adio sempre. Não estou preparado ainda. Eu sou dos arredores de Poznań, mas vivemos em Poznań, e lá há uma cafetaria de um rapaz que se apaixonou pelo Porto e aperfeiçoou a arte de fazer pastéis de nata. Ele abriu uma cafetaria em Poznań que apenas serve pastéis de nata, só que altera um pouco a receita original.”
Kiwior: “As paisagens aqui são realmente fantásticas. Já tive a oportunidade de jantar com a minha esposa perto da ponte Luís I e o sítio é mesmo muito agradável.”
Bednarek: “O que mais me impressiona aqui são mesmo as pessoas. A forma como elas são. São muito agradáveis, abertas e transmitem muita energia positiva. Sente-se mesmo aquela cultura da Europa do Sul".
A estreia no Estádio do Dragão
Bednarek: “Tudo aconteceu muito rápido. Mas o que fica gravado é a sensação de jogar num Estádio cheio, numa apresentação da equipa (com o Atlético de Madrid), com muitas emoções e um entusiasmo evidente. Vencemos um adversário de qualidade, por isso foi positivo. Algo que me impressionou foi a chegada do nosso autocarro ao estádio, com milhares de pessoas presentes, muitos fãs a apoiarem-nos e a receber-nos calorosamente. Como disse antes, esta cidade vive o clube, transmite muita energia aos jogadores e, desde o primeiro momento, se sente que há motivos para lutar e pessoas pelas quais vale a pena lutar. E isso, para mim, é o mais importante.”
Kiwior: “Talvez não tenha tido uma receção tão calorosa na minha estreia, mas, de facto, já tínhamos tido a oportunidade de jogar aqui antes, na Liga das Nações, e já naquela altura sentia-se um ambiente agradável. Contudo, o meu primeiro jogo contra o Nacional (1-0) vai certamente ficar na minha memória. A atmosfera também era muito boa e ajudou-me imenso a entrar no ritmo da partida. Sem dúvida que essa atmosfera que os adeptos criam já antes do jogo, seja na receção ao autocarro, ou quando vamos a caminho e as pessoas estão nas varandas com os cachecóis a acenar para nós, vê-se a alegria das pessoas que vão ao jogo para nos apoiar.”
A "muralha polaca"
Bednarek: “Claro que sim, é ótimos podermos jogar juntos e sem dúvida, isso facilita a comunicação no nosso trabalho, contudo, creio que aqui temos simplesmente uma função definida em campo e, tal como o Kiwior, a minha principal tarefa é ajudar os colegas dentro do jogo e fazer sempre o que for melhor para a equipa. Acho que nenhum de nós pensa em termos de ser uma “muralha polaca”. Focamos-nos, sim, no próximo jogo para conseguirmos manter a baliza inviolada nos encontros seguintes. Isso sim seria ótimo e vencermos esses jogos. Penso que a humildade tem de ser mantida para que não fiquemos demasiado satisfeitos com o que alcançámos. Os jogos mais importantes ainda estão para vir, por isso vamos avançando passo a passo".

Kiwior: “Concordo totalmente, não vamos ganhar o jogo só os dois, por isso precisamos do resto da equipa. Nós fazemos a nossa parte no campo, os nossos colegas fazem as deles. Eu joguei um pouco menos que o Janek, mas desde o início que me entendo muito bem com os colegas dentro de campo. Nota-se que essa comunicação é fácil, porque é fácil para conversar diariamente e criam uma boa energia e ambiente. Isso ajuda-nos muito a estar mais entrosados durante o jogo".
Infância na Polónia
Kiwior: “Quando a minha avó ainda era viva, eu falava sempre com ela no dialeto da Silésia. Mas já não me lembro nada. E até era uma vergonha sair à rua comigo de tanto que falava no dialeto, mas, sinceramente, já não me lembro de nada disso. Agora, por exemplo, se o Kamiński disser alguma coisa na seleção eu percebo. Mas falar já é algo muito mais difícil. Em Tychy já praticamente não se usam os dialetos. Há outras cidades perto, onde isso ainda se mantém, e talvez isso seja bom. Mas é difícil... é mesmo muito diferente.
Kiwior recordou ainda o seu clube de infância (GKS Tychy) e destacou os bons momentos
Kiwior: “Quando era miúdo, ia sobretudo aos jogos de hóquei no gelo com o meu pai. Mais hóquei do que futebol, inclusive. Os adeptos eram espetaculares, mas falta bons resultados ao Tychy no futebol.”
Bednarek: “Eu nasci em Słupca, mas não tenho nenhuma ligação com a cidade, para além de ter nascido lá. Eu sou de Kleczew, cidade ao lado de Słupca. Basicamente, como Słupca tinha um bom hospital.. os meus pais quiseram que eu nascesse lá. Acabei por ser criado em Kleczew, onde a minha mãe era professora e o meu pai também trabalhava lá. No fundo, é uma cidade pequena e quando tinha 14/15 anos fui estudar para Szamotuły, onde existia uma Academia de Futebol e, mais tarde fui para o Lech Poznań. Poznań será para sempre um local ao qual estarei ligado para sempre. Eu e a minha esposa gostamos muito da cidade, porque - tal como aqui - as pessoas têm uma ótima energia e tem tudo o que uma pessoa precisa para viver bem”.
Saudades de casa
Bednarek: “Senti mais falta da comida polaca em Inglaterra do que aqui. Mesmo os restaurante polacos, em Inglaterra, não tinham aquele ar típico da Polónia. Agora, a comida portuguesa é deliciosa. Seja carne ou peixe, há uma grande variedade por onde escolher. A comida aqui é muito boa, mas a polaca é excelente. Embora nem toda a gente conheça ou valorize. Para além disso, a questão da segurança, aqui, em Portugal, é muito boa. Principalmente para mim, enquanto pai".
Kiwior: “Visitámos muitos restaurantes em Londres, mas não era nada como esperávamos".

Quem é Jakub Kiwior?
Bednarek: “Ele é tranquilo e calado fora de campo. Embora, agora, com o tempo que passamos juntos, ele já se abra um pouco comigo. Mas dentro de campo é bem barulhento. Ele tem dois lados. Parece que, quando o jogo começa, ele “ativa uma chave (um botão) e muda o seu comportamento. Foi algo que eu já percebi há bastante tempo. Todos falam que o Kiwi é muito calmo e tal, mas quando corro ao lado dele no campo... Mas é algo positivo. E temos algo que nos une: o gosto pelo café".
Quem é Jan Bednarek?
Kiwior: “Não vou dizer que é um líder, mas ele tem mesmo algo especial. Se ele quiser algo, ele vai atrás disso com determinação. Agora estamos a ter a oportunidade de passar mais tempo juntos e dá para ver que o Janek é mesmo uma daquelas pessoas que, bom sentido, quando tem um objetivo, faz tudo para o alcançar. Tanto dentro como fora do campo".
FC Porto numa palavra
Jan Bednarek: “Paixão. Sente-se a paixão de todas as pessoas. Seja no clube, ou na cidade. Mas não consigo descrever o Clube numa só palavra. Parece-me que a história, de facto, é grandiosa neste clube. Como se ganhar estivesse no seu ADN. Aqui é obrigatório vencer. Não há outra alternativa. E vejo isso como algo positivo. Dá-te uma energia extra nos momentos difíceis. Eu penso: ‘há tantas pessoas que acreditam e apoiam este Clube, por isso tenho de me esforçar ainda mais'".
Jakub Kiwior: “Qualidade. Mesmo quando estás na cidade a passear e a visitar, consegues ver futebol em todo o lado. Vês os adeptos com as bandeiras penduradas, nos prédios, nas varandas, em vários lugares. Por exemplo, quando andava a passear junto da Ponte Luís I, percebi logo que estavam lá adeptos do FC Porto. Vi a presença de adeptos em todo o lado. A presença do futebol sente-se em todo o lado. Também é agradável que todos aqui têm um único objetivo e que todos sabem que, em cada jogo, cada um entra com a mesma ideia de que é preciso ganhar. Isso sente-se aqui, pois não são só os jogadores, mas também os adeptos e outras pessoas partilham o mesmo pensamento: vencer".
