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Com a primeira jornada (frente ao Rio Ave) adiada, o Benfica ocupa o quarto lugar, com 10 pontos, a cinco do líder FC Porto. Mais do que os resultados, o que se tem destacado nas águias é a dificuldade em atacar a baliza adversária.
Em quatro jogos na Liga, o Benfica marcou sete golos, quase metade dos apontados pelo Sporting no mesmo número de jogos (13), e atrás de FC Porto (11) e SC Braga (10). Uma melhoria em relação à época passada (cinco), mas que não deixa de preocupar os adeptos encarnados.

Ideia ou jogadores?
O debate foi lançado ainda na pré-época. Thiago Almada, João Félix e agora Sudakov. O objetivo do Benfica pareceu ser sempre encontrar um criativo para fazer a diferença na zona do meio-campo. Mas a ausência desse tipo de jogador ajuda a justificar a falta de golos e a chegada do ucraniano vai resolver? Ou é um problema da ideia de jogo de Bruno Lage?
Nos quatro jogos que o Benfica fez esta temporada na Liga Portugal, Bruno Lage utilizou duas ideias diferentes para a equipa. Contra Estrela da Amadora, Tondela e Santa Clara, juntou dois avançados de raíz na frente – Vangelis Pavlidis e Franjo Ivanovic – enquanto em Alverca juntou um médio – Leandro Barreiro – ao ponta-de-lança.

Sempre dois homens na frente, advoga Bruno Lage, mas as diferenças nos estilos de jogadores alteram a cara da equipa. Por exemplo, Pavlidis e Ivanovic, jogando juntos, ocupam muitas vezes a zona central, como é possível ver pelos terrenos onde mais vezes tocaram a bola no duelo com o Santa Clara.

Ivanovic mais descaído para direita, com Pavlidis a ocupar mais vezes o lado esquerdo.

Já Leandro Barreiro é totalmente diferente. Um segundo médio, o luxemburguês raramente tocou na bola dentro da área. Pegando no exemplo de Alverca, que o Benfica dominou - e utilizando apenas os dados do primeiro tempo para evitar o viés da expulsão de Dedic (ainda que só tenha feito 9 minutos em inferioridade) - Barreiro esteve predominantemente no lado direito do ataque e não tocou uma única vez a bola na área ribatejana em bola corrida, pese embora os 70% de posse dos encarnados nos primeiros 45 minutos.

Muita posse, pouco risco
Contra blocos baixos e obrigado a atacar de forma organizada, o Benfica só consegue fazer circular a bola por fora do bloco adversário. Olhando para os números da Opta, os encarnados são a equipa, de entre os três grandes, que menos passes progressivos fizeram (566, contra 699 do FC Porto e 781 do Sporting), que menos golos criaram de bola corrida (três, contra seis dos dragões e 10 dos leões) e a que menos oportunidades criou (47, contra 58 azuis e brancas e 75 verdes e brancas). O mesmo cenário em oportunidades flagrantes (seis).
É certo que nestes dados há que ter em conta o facto de os encarnados terem menos um jogo, mas também é preciso sublinhar que FC Porto e Sporting já mediram forças entre si.

O Benfica tem, neste momento, um meio-campo bem definido, com Enzo Barrenechea e Richard Ríos. O argentino e o colombiano estão entre o top 10 de jogadores com mais passes de posse (ou seja, para conservar a bola) da Liga Portugal, mas ainda não fizeram nenhum passe progressivo.
Quando chegam ao último terço do campo, e isso foi especialmente visível diante do Santa Clara, em que o Benfica jogou em superioridade numérica, a dupla de médios opta por lateralizar o jogo e raramente procura furar o bloco.

Sudakov pode surgir aqui como uma solução. Olhando para os dados da Opta relativos à edição passada da Liga dos Campeões, Sudakov esteve entre os 20 jogadores com mais passes progressivos (cinco), tantos como Pedri, por exemplo, sendo que o Shakthar Donetsk fez apenas os oito jogos da fase principal.
Resta perceber como vai ser utilizado por Bruno Lage. Se como 10 ou numa faixa – entrou para o lugar de Schjelderup diante do Santa Clara – e acima de tudo se vai ser vítima da ideia de jogo ou ter ele a criatividade para resolver o problema ofensivo das águias.
