“Se não tivermos uma visão de longo prazo e mais macro, acredito que, dentro de 10 ou 15 anos, os clubes de topo em Portugal poderão ter de deixar de ser apenas clubes, com sócios e adeptos, mas terem um dono, que lhes permita ter um brutal investimento que os faça aproximar-se dos investimentos dos principais clubes da Europa, para continuarem a ser competitivos”, assumiu o ex-treinador do Benfica.
Num painel do Portugal Football Summit, na Cidade do Futebol, em Oeiras, Bruno Lage focou a sua intervenção no papel das equipas B e da formação num clube de futebol, sugerindo que comprar um clube satélite pode tornar-se “mais rentável”.
“Podemos tentar projetar o futuro e ver a oportunidade de os clubes portugueses comprarem um clube. O ideal seria a compra de um clube português, mas não é permitido pelos regulamentos. Tem de haver um equilíbrio entre um campeonato competitivo e a visibilidade. Há mercados onde isto é possível e os jogadores que não chegam à equipa A podem ser rentabilizados. Consegue-se fazer mais retorno financeiro a competir no centro da Europa do que a jogar numa equipa B”, realçou.
Notando que “já há clubes brasileiros a fazer isto em Portugal”, por ser um país de “boa localização e uma legislação que não protege os jogadores locais”, o técnico apontou ainda a evolução dos valores de mercado, dando um exemplo do Benfica.
“No ano passado, Orkun Kökçü era o jogador mais caro de sempre do mercado do Benfica. Recentemente, já foi ultrapassado por Richard Ríos e Georgiy Sudakov. O mercado evolui de tal maneira e é uma preocupação perceber se há a capacidade de contratar jogadores ao mesmo nível que formamos, e tentar tirar o rendimento máximo dos atletas, o mais rapidamente possível”, realçou o técnico, de 49 anos.
Os jovens que conseguem ascender da equipa B à principal e ter a rentabilidade que é exigida “ainda são poucos”, com Lage a destacar o limite de empréstimos permitido, havendo diversos clubes agora a preferir não contratar atletas cedidos.
“A visão global dos outros clubes também mudou, pois antes aceitavam jogadores emprestados e hoje preferem também apostar nos seus jogadores, as mais-valias do clube. Temos a ameaça Arábia Saudita, com capacidade financeira diferente, e no Brasil o poder económico também mudou, com jogadores a serem negociados a preços mais elevados. Temos de continuar a formar melhor, adaptar os jovens à realidade da equipa A, tentar tirar o maior rendimento e vender”, constatou ainda.
O Portugal Football Summit, organizado pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), teve início na quarta-feira e decorrerá até sábado na Cidade do Futebol, em Oeiras, com o objetivo de discutir o futuro do desporto a nível nacional e mundial.