Que a posição de guarda-redes é a mais ingrata do futebol é quase uma constatação unânime na modalidade. Última barreira na hora de impedir que a equipa sofra um golo que mude para sempre o desfecho de um resultado, de uma competição ou até de uma vida, é no guarda-redes que reside o maior peso de uma partida. Esquecido durante 90 minutos, um guardião pode virar herói ou vilão num só lance em toda a partida.
A segunda posição mais ingrata será, porventura, a de segundo guarda-redes. Reduzido a suplente durante todo o campeonato e utilizado em partidas das Taças, desde que contra adversários de níveis inferiores, um guarda-redes suplente pode fazer carreira quase só a treinar para aquecer, literalmente. Mas a verdade é que tem de estar preparado para o momento em que, por um motivo ou por outro, surge uma oportunidade para entrar em campo.
Os motivos podem ser os mais variados e às vezes não é fácil resistir à tentação de procurar minutos noutro emblema, especialmente quando o jogador ainda é jovem e tem muito para conquistar. E é aqui que chegamos a Hornicek.
O guarda-redes checo chegou a Braga como uma jovem promessa das balizas do seu país, que durante anos foram guardadas por Petr Cech, e foi com esse estatuto que foi recebido no Minho, a troco de 900 mil euros. Durante anos, passou pelos juniores, sub-23 e equipa B, até que, em 2021/22, se estreou na equipa principal pelas mãos de Carlos Carvalhal. Uma estreia que não teve grande seguimento.
Desde essa temporada, fez apenas seis jogos em duas épocas pelo SC Braga e assistiu de perto à continuidade de Matheus Magalhães na baliza minhota, até que o inesperado aconteceu. O guarda-redes brasileiro pediu para sair e perdeu a titularidade de imediato, mas era para isto que Hornicek estava a ser preparado. Para já, a resposta tem sido para lá de positiva.
Aos 22 anos, Hornicek recebeu finalmente a oportunidade que procurava quando veio para Portugal e está a aproveitar para somar pontos já a pensar na próxima época e, quiçá, na seleção principal da República Checa. Isto numa altura em que o compatriota Vaclik, antigo titular da seleção, assinou pelo Boavista.
Desde 23 de janeiro, foi titular em seis partidas, tantas como nas últimas duas épocas, e só perdeu a primeira (2-1), frente ao Union St. Gilloise. Nesse jogo, sofreu mais golos (dois) do que nos cinco restantes (um) e respondeu à altura a testes exigentes.
Na Pedreira, foi o grande responsável pela inglória vitória (1-0) para a Liga Europa, ao brilhar com quatro intervenções de grande nível, forma que transportou para os restantes jogos da Liga Portugal - tem culpas no golo do Moreirense, mas foi decisivo para manter o resultado antes da reviravolta arsenalista.
Guarda-redes de reflexos apurados, Hornicek é uma garantia de defesas tão eficazes como vistosas na baliza bracarense, que será sua até ao final da época. Caso consiga manter o nível e até melhorar em alguns aspetos, nomeadamente a saída a cruzamentos, prevê-se que a posição não sofra alterações para 2025/26, com Tiago Sá a manter-se como número dois e o jovem Hornicek, que renovou até 2028 com o SC Braga, a confirmar finalmente o estatuto de sucessor de Petr Cech.
