O líder da lista Pelo Benfica acredita mesmo que as eleições de 25 de outubro, para o quadriénio 2025-2029, produzirão vencedores de diferentes listas aos órgãos sociais - Direção, Mesa da Assembleia Geral (MAG) e Conselho Fiscal (CF) -, cuja coabitação parece improvável, atendendo “às posições tão radicais” manifestadas pelos candidatos.
“O pior que podia acontecer ao Benfica é entrarmos numa ingovernabilidade nestas próximas eleições. E sinto que esse risco é grande e tudo farei para que isso não aconteça”, disse o candidato à presidência do Benfica, de 52 anos, exemplificando com os apoiantes de João Noronha Lopes e João Diogo Manteigas, que têm “alguma dificuldade em lidar com a democracia”.
O Sporting viveu uma situação semelhante em 2011, quando Luís Godinho Lopes foi eleito presidente e resistiu menos de dois anos no cargo, durante os quais conheceu oposição crescente da MAG liderada por Eduardo Barroso, afeta a Bruno de Carvalho, que tinha sido derrotado na corrida à presidência da direção leonina.
“É uma nova experiência no Benfica. Temos experiências em clubes rivais que não correram bem. Mas foi a vontade dos sócios. Os sócios aprovaram por mais de 90% estes estatutos. (...) E até acho que é o que vai acontecer. Vai haver uma lista (vencedora) à Direção, uma ao Conselho Fiscal, uma à Mesa da Assembleia Geral, de listas diferentes, porque os sócios manifestaram muito essa vontade, de querer essa autonomia”, observou.
O advogado e empresário disse que não foi por não ter encontrado pessoas com o perfil adequado que vai concorrer apenas à Direção e que, inicialmente, ainda ponderou apresentar listas aos outros órgãos sociais, mas “evoluiu o pensamento”, em função da sua “leitura da vontade dos sócios” e do reconhecimento de que existem “pessoas com muita qualidade” nas listas de outras candidaturas à MAG e CF.
“Só quero que o Benfica tenha, a partir do dia 25, ou a partir do dia da segunda volta, uma Direção que tenha o apoio de todos os benfiquistas e possa governar o Benfica durante os próximos quatro anos sem guerras, sem quezílias e com governabilidade. Esse vai ser o tónico do apoio que eu possa dar a alguma das candidaturas”, caso não vença, ou passe à segunda volta, assinalou o sócio 59.742 dos encarnados.
Cristóvão Carvalho defendeu que deve ser remunerado se for eleito presidente do Benfica, porque apresenta um projeto profissional, em contraponto com o amadorismo que identifica na maior parte dos atuais órgãos sociais, mas, como se trata de um valor que depende de várias variáveis, decidido pela Comissão de Remunerações, ainda não teve “curiosidade de fazer essa conta”.
O líder da Lista D está mais seguro sobre a necessidade de construir um novo estádio, nos arredores de Lisboa – indicou Amadora e Loures -, que ofereça melhores condições para adeptos e profissionais do clube, apesar de admitir que o Benfica poderá ter de esperar pela oportunidade certa para avançar, como o Mundial-2030, que será organizado por Portugal, Espanha e Marrocos.
“Acho que isso vai ser uma realidade. Neste momento, o Benfica não tem capacidade financeira para poder fazer isso, mas, aparecendo uma oportunidade financeira, e essa (Mundial-2030) pode ser uma delas, acho que esse é um caminho. O que implica que o atual estádio se mantenha, mas reformulado e para outras condições”, referiu.
O atual recinto transformar-se-ia em uma “grande arena dentro de Lisboa”, multidisciplinar, com capacidade para receber espetáculos e dinamizar toda a zona envolvente, ainda que permanecesse como “um ícone” do clube, recebendo os jogos da equipa feminina de futebol e de algumas modalidades.
Cristóvão Carvalho acena desde a primeira hora com um investimento de 400 milhões de euros (ME) – 100 ME por época -, com o qual pretende reestruturar o clube, reforçar a equipa masculina de futebol e recomprar ações da SAD, que foi negociado com “o melhor parceiro europeu” de intermediação, é apoiado por três bancos e tem uma taxa de juro de 3%. Contudo, quem quiser conhecer mais detalhes sobre a operação, terá de esperar por uma eventual segunda volta.
“Temos um contrato de confidencialidade com essa entidade, como é óbvio, mas há uma cláusula de abertura, que, caso eu passe a uma segunda volta, essa entidade estará em Portugal, daremos uma conferência de imprensa, onde explicaremos quem é essa empresa, quem é a pool de bancos que está connosco e quais são as condições gerais desse financiamento”, justificou à Lusa.
Cristóvão Carvalho deseja manter relacionamentos institucionais saudáveis com os rivais FC Porto e Sporting, sem “alimentar guerras, guerrinhas e intrigas”, até porque existem muitos interesses comuns, e recusa desanimar quando encontra o seu nome no último lugar das sondagens, às quais não atribui “nenhuma credibilidade”.
“Se não for agora, vai ser em muito pouco tempo, porque este é o Benfica do futuro, não é o Benfica que se defende agora, que é um Benfica pequenino, o Benfica a ganhar um ou dois campeonatos, mais uma tacinha, mais estas quezílias com a Liga (de clubes) e a federação. (...) Este é o Benfica que eu quero construir. É ambicioso? É. Os sócios estão preparados? Não sei, vamos ver”, observou.
Além de Cristóvão Carvalho, concorrem à liderança do Benfica o atual presidente, Rui Costa, o anterior, Luís Filipe Vieira, bem como João Diogo Manteigas, João Noronha Lopes e Martim Mayer. Caso nenhum dos candidatos receba a maioria dos votos (50%) em 25 de outubro, será realizada uma segunda volta entre os dois mais votados, em 08 de novembro.