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Destaques da jornada: Rui não é Ruben, Ricardo não é Richard, Portugal não é Inglaterra

Rui Borges, treinador do Sporting, depois do triunfo diante do Arouca
Rui Borges, treinador do Sporting, depois do triunfo diante do AroucaFILIPE AMORIM / AFP / AFP / Profimedia

Ao fim de cada jornada, é altura de balanços. Nesta rubrica, o Flashscore destaca os principais pontos positivos e negativos da ronda na Liga Portugal, desde os jogadores que surpreenderam aos que comprometeram. Sem esquecer momentos que marcaram o fim de semana futebolístico em solo nacional.

Rui Borges não é Amorim, nem tem de ser

Dois jogos, duas vitórias, oito golos marcados, zero sofridos. É este o registo do Sporting na Liga Portugal, ao cabo de duas jornadas. Muitas dúvidas se levantaram quando Rui Borges, enfim, largou o 3x5x2 de Ruben Amorim, que tantas alegrias deu aos sportinguistas, e apostou no "seu" 4x2x3x1, que o levou do Mirandela ao Sporting, da Liga 2 ao bicampeão nacional, em apenas dois anos.

As estatísticas do Sporting-Arouca
As estatísticas do Sporting-AroucaOpta by Stats Perform

É que Rui Borges não é Ruben Amorim. Nem tem de ser. Foi contratado por ser quem é, para ser quem sempre foi. Teve a humildade para voltar atrás na época passada, quando chegou com o comboio em andamento, mas a autoconfiança suficiente para implementar, com uma pré-época, as suas ideias, o tal "cunho pessoal" de que falou. Não há Amorim, não há sequer Gyokeres, mas no renovado José Alvalade, o leão voltou a casa com um 6-0 ao Arouca, naquela que foi a maior vitória da era Rui Borges no Sporting e a maior da sempre do emblema verde e branco diante dos lobos da Serra da Freita, suplantando dois 5-1: em 2015/2016, com Jorge Jesus, e em 2013/2014, com Leonardo Jardim.

O recorde de Bruno Lage

Depois de adiar a primeira jornada, diante do Rio Ave, para setembro, devido à presença na 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, o Benfica estreou-se na Liga Portugal na Reboleira, com uma exibição pálida, onde o penálti convertido por Pavlidis deu o magro triunfo por 0-1, num jogo onde o resultado, ainda que pela margem mínima, valeu bem mais que a exibição.

Bruno Lage, no final, recorreu aos factos, e esses dão-lhe razão: Quatro jogos, quatro vitórias, seis golos marcados, zero sofridos. E há mais: com o triunfo diante do Estrela da Amadora, no Estádio José Gomes, o treinador setubalense passou a ser o técnico do Benfica com maior percentagem (80%) de vitórias entre todos os treinadores da Liga, desde o início da temporada 1959/60 (com mínimo de dois jogos), tendo vencido 32 das 40 partidas como visitante (dois empates e quatro derrotas). Está acima dos 77% de Lajos Czeizler, dos 71% de Ruben Amorim e dos 68% de José Antonio Camacho.

De Ricardo a Richard

Ricardo Mangas regressou ao futebol português, após meia temporada no Spartak Moscovo, pela porta grande. O Sporting pagou 300 mil euros pelo lateral-esquerdo, que foi orientado por Rui Borges no Mirandela e no Vitória SC. Ao segundo jogo de leão ao peito, a titularidade, face à lesão de Maxi Araújo, carimbada com dois golos, um rating no Flashscore de 9.1 e a eleição como figura da jornada.

Richard Ríos é o reforço mais caro da história do Benfica, em termos de valor fixo, tendo custado 27 milhões de euros, mais três milhões em objetivos. Chegou à Luz com andamento do Palmeiras, após ter brilhado no Mundial de Clubes, mas a verdade é que, volvidos quatro jogos oficiais, ainda não mostrou os pergaminhos que fizeram dele o alvo preferencial da SAD liderada por Rui Costa, cobiçado por outros emblemas europeus, como a Roma.

Na Reboleira, na estreia na Liga Portugal, bateu de frente com uma nova realidade. "Welcome to the Portuguese League", disse Bruno Lage, em inglês, no balneário, no final do jogo. Para Richard Ríos, colombiano, o português bastava, após seis anos a viver e a jogar no Brasil, depois de ter começado no.... futsal na Colômbia. 

Os números de Richard Ríos contra o Estrela da Amadora
Os números de Richard Ríos contra o Estrela da AmadoraOpta by Stats Perform/SL Benfica

Custa ser europeu

Tem sido um problema crónico dos clubes portugueses, fora os três grandes (mais o SC Braga), época após época. A participação nas competições europeias prossupõe uma pré-temporada antecipada, um mercado muitas vezes antecipado e feito à medida que os dias vão passando e uma falta de frescura física inicial para fazer face a todas as frentes.

Com o 5.º lugar alcançado na época passada, à frente do Vitória SC, o Santa Clara garantiu a presença nas pré-eliminatórias da Liga Conferência, ultrapassadas com distinção, eliminando NK Varazdin (Croácia) e Larne (Irlanda do Norte). Segue-se o Shamrock Rovers, último obstáculo antes da fase de liga da competição. Entretanto, na Liga Portugal, dois jogos, duas derrotas, quatro golos sofridos e... zero marcados. Após o 3-0 em Famalicão, o desaire caseiro (0-1) diante de um Moreirense que, sublinhe-se, tem tudo para ser uma das boas surpresas desta temporada, liderado por um treinador jovem mas com provas dadas nas divisões secundárias e mais do que preparado para mostrar valor no escalão principal: Vasco Botelho da Costa.

Para Vasco Matos, treinador do Santa Clara, é altura de reflefir, e toque a reunir, porque a história é tudo menos famosa para os clubes portugueses, de média dimensão, que jogam nas competições europeias.

Os últimos jogos do Santa Clara
Os últimos jogos do Santa ClaraFlashscore

É respeito - e é cultura

Desta vez foi Joaquim Oliveira. Mas também já foi Jorge Costa. E Manuel Fernandes. E Eusébio. Tantos. Todos. Os minutos de silêncio em Portugal são tudo menos isso. Da moda bacoca de substituir o silêncio pelos aplausos, à falta de respeito e humanidade de aproveitar o silêncio para vociferar o que lhe vai na cabeça. O adepto português, no geral, tem falta de cultura desportiva. Tem cultura de clube. A clubite. Apenas isso.

Ver o que se passou nesta 2.ª jornada, da Reboleira a Barcelos, de Guimarães a Alvalade, não é bom para o futebol português. Não é bom para Portugal. E ver tudo isto no fim de semana em que arrancou a Premier League, com todos os estádios, sem exceção, e cumprirem de forma arrepiante o minuto de silêncio em memória de Diogo Jota, mostra-nos que Inglaterra é um mundo à parte e que Portugal, infelizmente, ainda está noutro mundo. O terceiro.