Mais

Economista diz que pressão sobre Benfica e FC Porto fez disparar gastos na Liga

Alberto Costa e Ricardo Mangas são caras novas no FC Porto e Sporting
Alberto Costa e Ricardo Mangas são caras novas no FC Porto e SportingPATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP
O economista João Duque considerou que o recorde de 362,96 milhões de euros (ME) gastos pelos clubes da Liga Portugal na contratação de futebolistas no arranque da época 2025/26 resulta da pressão exercida sobre Benfica e FC Porto.

Depois de terem sido incapazes de travar a caminhada vitoriosa do Sporting nas últimas duas temporadas, os rivais do bicampeão nacional desembolsaram em conjunto 216,9 ME fixos na janela de transferências de verão, com os dragões a baterem mesmo o recorde de investimento em Portugal, com 111,35 ME.

Há aqui dois fenómenos muito importantes. O Benfica tem eleições à porta e o FC Porto, em função da recente eleição do novo presidente (André Villas-Boas), como não tem obtido resultados, começou a sentir-se profundamente acossado e teve de abrir os cordões à bolsa”, observou João Duque, em declarações à Lusa.

O FC Porto, que se sagrou campeão pela última vez em 2022, despendeu 94,35 ME em novos reforços, de um investimento global de 111,35 ME, enquanto o Benfica, que detinha o recorde deste período (108,5 ME no verão de 2020), ficou muito perto desse valor, com 105,55 ME gastos em contratações.

Portanto, o que vai acontecer, do ponto de vista financeiro, é que um dos dois, ou até os dois, terão feito uma desastrosa política de investimento, porque não é possível FC Porto e Benfica ganharem o campeonato dos dois. Podem é perdê-los os dois”, argumentou.

No caso do Benfica, de acordo com o economista, a pressão sobre o presidente Rui Costa é acrescida pela proximidade das eleições para os órgãos sociais do clube, marcadas para 25 de outubro, em contraste com a situação de Frederico Varandas, líder do rival lisboeta

Não tem essa pressão. Para o Sporting não ser campeão nacional significa não fazer o tri. Agora, não ser campeão há não sei quantos anos, isso já é tramado”, sustentou João Duque.

O Sporting foi campeão nas vendas de jogadores, com um encaixe total de 181,4 ME fixos (novo máximo do clube), muito por força da transferência do avançado sueco Viktor Gyökeres para o Arsenal, por 65,8 ME, mais 10,3 ME em objetivos, mas reutilizou apenas 79,8 ME em reforços.

O Sporting pode ser acusado de excessivo conservadorismo na utilização dos meios. Mas eu acho que é bom ter um clube que, depois de ter dado tanto sobressalto do ponto de vista da sobrevivência do próprio clube, tende agora para a estabilidade”, defendeu.

Se o saldo benfiquista no mercado de verão se traduziu num saldo negativo em 10 ME, uma vez que também obteve um valor significativo em vendas, com 95,5 ME recebidos, o FC Porto registou um prejuízo de 34,18 ME, pois encaixou 77,17 ME com saídas de jogadores.

Fazer este esforço, preterindo o equilíbrio financeiro do clube, e arriscando as fichas todas... Isto não é suportável”, advertiu João Duque, antecipando um segundo período de transferências de agitado para estes clubes, em janeiro, “se as coisas começarem a correr mal”.

Os números do SC Braga não se aproximam daquela grandeza, mas a proporção é ainda mais desfavorável do que os de águias e dragões, uma vez que o clube presidido por António Salvador gastou 28,57 ME, um novo máximo, pelo terceiro ano seguido, e recebeu apenas 9,90 ME.

Com um total de 352,90 ME recebidos com a venda de futebolistas, o saldo dos clubes da Liga é ainda positivo em 17,94 ME, mas este valor é o mais baixo da última década, o que pode levantar problemas de gestão ao longo da temporada, atendendo ao modelo de negócio dos clubes portugueses.

Nestas contratações todas, a gente só ouve o valor do passe. Não sabe o valor do pagamento mensal aos jogadores. Há as saídas, que aliviam a conta de resultados, mas a pergunta é: nessa conta de exploração, qual é o impacto”, questionou João Duque.