- Que lembranças tem de Portugal e dos anos que passou pelo Sporting?
- Na minha chegada, no início, houve aquele jogo da Taça de Portugal na Luz, onde vencemos, acabei por marcar um golo, a vitória contra o FC Porto em Alvalade, a vitória contra o Salgueiros, onde faço o primeiro e o último golo da vitória que consagra o título, depois de 18 anos. Esses primeiros seis meses foram fantásticos. Em tão curto prazo, consegui essas vitórias. Deixei grandes amigos, novas amizades, tenho Portugal como a minha segunda casa e espero voltar logo porque já há algum tempo que não vou à Europa.
- Lembra-se do golo apontado ao FC Porto? O guarda-redes era Vítor Baía, foi um dos golos mais bonitos da sua carreira?
- Na verdade, não é lembrar, não dá para esquecer. Claro, é espetacular. Já via uma cobrança grande que eu não marcava golos de livre, já que fazia sempre golos de livre em todos os clubes por onde passei, então já existia uma cobrança, mas trabalhava muito e todos os dias esses livres no final do treino. Todos os dias, parava lá 10 ou 15 minutos e sabia que uma altura a bola iria entrar. Fui muito feliz naquele livre contra o FC Porto, num jogo extremamente importante, que nos deu o primeiro lugar naquele momento no campeonato, porque nós passámos o FC Porto. Foi um dos golos mais bonitos da minha carreira, sem dúvida.
- Jogou com Beto Acosta, também com Mário Jardel, dois matadores. Quem era o melhor?
- Não dá para dizer (risos). Os dois eram muito bons, mas eram jogadores diferentes. O Acosta era mais baixo, com muita mobilidade, com velocidade, sabia posicionar-se muito bem, finalizava muito bem. O Mário (Jardel) era um jogador mais alto que jogava dentro da área. As bolas colocadas dentro da área, o Jardel colocava quase todas dentro da baliza. Eram jogadores diferentes, com um nível extremamente elevado, com quem tive o prazer de jogar e ser campeão no Sporting.

- Alguma situação engraçada no balneário leonino que possa partilhar conosco?
- Uma situação que acontecia muito no balneário era em relação ao Paulinho. O Rui Jorge e o Pedro Barbosa colocavam-no dentro do carrinho de supermercado, que ele usava para recolher as roupas, corriam e batiam contra os armários e bancos. Era um divertimento que tínhamos praticamente todos os dias no balneário e o Paulinho divertia-se bastante.
- Jogou com o Hugo Viana, que será o novo diretor desportivo do Manchester City. Na altura já via alguma coisa no Hugo Viana que o levasse a pensar que pudesse a fazer este trajeto?
- Naquele momento, o Hugo Viana era jovem, já demonstrava qualidade acima da média, era uma pessoa muito séria, dedicada ao trabalho. É difícil, quando ainda é muito jovem. Acredito que também podia ter sido treinador, tem um perfil também para ser treinador ou até empresário de jogador de futebol, mas escolheu essa carreira de diretor, que também é muito boa, difícil, onde ele acabou por entrar com muito sucesso. Desejo muito sucesso ao Hugo e espero ter a oportunidade de o encontrar em Inglaterra.
- Acompanha o campeonato português, acompanha o Sporting, o que tem achado do Sporting esta temporada?
- Tenho acompanhado muito pouco, até. Por causa do trabalho, família, fuso horário, não acompanho muito. Acabo por ver alguns jogos, vejo o Sporting, que durante a pandemia recuperou o título e conseguiu manter-se, que é uma coisa importante e difícil de acontecer. Conseguiu manter o nível muito alto, contratou um treinador que alguns amigos achavam uma coisa negativa, o Ruben Amorim, mas ele chegou, mostrou personalidade, montou uma equipa, trabalhou, teve o grupo sempre nas suas mãos, sempre foi coerente com as coisas e acho que é por isso que os treinadores portugueses têm vindo a conquistar o Brasil. Temos muitos treinadores portugueses, mas também pelo mundo todo. Ele fez um excelente trabalho para esses títulos que teve, tanto ele como a direção e o Hugo Viana. É importante manter esse ritmo, essa mentalidade, porque é sempre difícil ficar lá em cima.
- Tem visto jogos do Gyökeres. O sueco passava pelo André Cruz ou nem por isso?
- Já vi, gosto dele, é forte, rápido, finalizador. É um avançado muito difícil de marcar. Não sei se passava por mim. Os defesas têm de entender bem o movimento dos avançados para evitar que toquem na bola ou tenham espaço, mas é um jogador muito forte, interessante. Já ouvi dizer que não ficará no Sporting porque grandes clubes já fizeram propostas, então o Sporting tem de pensar num substituto. Aqui costumamos dizer que quem tem um atacante não tem nenhum porque é a posição mais procurada. Acredito que já tenham feito isso, encontrar um avançado para o substituir.

- O ponto mais alto da sua carreira foi ter sido internacional brasileiro? Por exemplo, o Mundial-1998 e a Copa América?
- Sim, acredito que tenha sido. Apesar de, ainda mais jovem, em 1987/88, jogava na seleção brasileira também. Fui campeão da Pan-Americana, nos Olímpicos de 1988 fomos vice-campeões e depois a Copa América-1989. O golo contra Itália, no jogo que vencemos em Bolonha, com um golo meu de livre. Já era da seleção brasileira naquela época. Em 1995 houve novamente a Copa América, até chegar ao Mundial-1998. O Mundial é o objetivo de qualquer atleta e acredito que 1998 tenha sido o auge. Jogava no Milan, uma das maiores equipas do mundo naquele momento. Acho que ali foi o top da minha carreira.
- No AC Milan, dividiu balneário com jogadores como Paolo Maldini, Desailly, Costacurta, Davids, Leonardo, Kluivert, entre outros. Era um balneário de luxo.
- Sem dúvida. Aquele balneário era um balneário de estrelas. Tínhamos o Rossi, o Costacurta, Maldini, Albertini, Desailly, Ziege, Boban, Savicevic, Ibrahim Ba, George Weah, Kluivert, Bogarde. Num primeiro momento, ainda havia Baggio, Davids… Era um balneário recheado de estrelas. Depois chegou o Leonardo também, que era meu parceiro no Flamengo. Era um balneário de luxo.
- Augusto Inácio e Lazslo Boloni foram os dois treinadores que foram campeões consigo no Sporting. Como era o relacionamento com esses dois treinadores?
- Muito bom. Tenho um excelente relacionamento com Inácio e Boloni, apesar de não ver o Boloni há algum tempo. Reencontrei-no Rennes, em França, e a última vez foi no Catar. Depois falei uma vez por telefone quando ele estava no Antuérpia. O Inácio reencontrei-o em Portugal, mas há muito tempo que não o vejo. Foram dois treinadores com quem tive o prazer de trabalhar e fazer um excelente trabalho no Sporting, com títulos e são pessoas com que tenho um grande relacionamento até hoje. Foi um prazer trabalhar com eles. Aprendi muito. Às vezes não concordava muito, mas depois olhava, refletia e percebia que a cada momento conseguimos aprender um pouco com cada pessoa e com cada treinador.
- O que mais sente falta de Portugal?
- Do peixe, do vinho, da comida portuguesa. É um país muito bom. Tenho amigos que às vezes querem ir para a Europa, escolhem alguns países para visitar e eu digo sempre para irem a Portugal e conhecerem Portugal. Em vez de ficarem 15 dias um pouco por cada país, fiquem 15 dias em Portugal. Em Lisboa, no Algarve, no Porto, dá para dar um salto rápido a Espanha. A comida é maravilhosa, os lugares são espetaculares, o vinho é maravilhoso. Tenho saudades dessas coisas em Portugal e espero regressar no começo do ano que vem ou no meio do ano com a minha família.