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Entrevista com Zé Pedro: A afirmação de Amorim e Jorge Jesus como principal referência

Zé Pedro encontra-se sem clube desde que deixou o Alverca
Zé Pedro encontra-se sem clube desde que deixou o AlvercaFacebook, Zé Pedro, Flashscore

Depois de uma carreira de jogador com participação em cerca de duzentas partidas na Liga Portugal e de ter sido adjunto de Jorge Silas, José Pedro continua a trilhar o seu caminho como treinador principal. Depois de passagens por B SAD, Vitória FC e Alverca, está neste momento à espera do projeto certo para voltar ao ativo. Nesta entrevista ao Flashscore, José Pedro fala da sua carreira no futebol, do sucesso de Ruben Amorim, com quem jogou no Belenenses e do momento atual do campeonato português.

- Podemos começar por perceber como é que um treinador que não está no ativo ocupa o seu tempo futebolisticamente falando?

- Além de ir fazendo um balanço do meu trajeto até aqui, acompanho jogos nos estádios, em casa, para analisar equipas e jogadores de vários campeonatos, naturalmente.

- Já é treinador há algum tempo, que balanço pode fazer das suas experiências como técnico?

- Faço um balanço positivo. A entrada na B SAD, a poucas jornadas do fim, com a iminente descida em que conseguimos ir a play-off e depois não conseguimos pela diferença de um golo. No ano seguinte, no Vitória FC, na pré-temporada estipulámos a subida de divisão e esse objetivo foi alcançado e agora penso que a passagem no Alverca… sair à quarta jornada foi precoce. De uma forma geral, é um balanço positivo.

- Neste percurso, qual foi o ponto mais alto da carreira?

- Como treinador adjunto, sem dúvida a passagem pelo Sporting. Como treinador principal, a subida de divisão com o Vitória FC.

Zé Pedro foi adjunto de Silas no Sporting
Zé Pedro foi adjunto de Silas no SportingSporting CP

- O Vitória FC é um clube muito especial para si.

- O Vitória FC foi um clube muito marcante na minha carreira, quer a nível pessoal, quer a nível profissional. Vivi 10 anos da minha infância na cidade de Setúbal, não tive oportunidade de representar o clube nos escalões de formação, só depois tenho essa hipótese através do Boavista, quando sou emprestado ao Vitória FC, já enquanto jogador profissional. Aí, o Vitória FC jogava na Liga 2, com o objetivo de subir de divisão e nesse ano acabámos por subir no final, uma marca histórica no clube, com mais uma subida de divisão onde eu estive presente. Após isso, tenho uma passagem pelo Belenenses durante seis épocas e depois vou acabar por terminar a carreira como profissional novamente no Vitória FC e aí represento o clube três anos consecutivos. A seguir ao Belenenses, foi o clube onde estive mais tempo. As vivências foram imensas, com os jogos feitos, a paixão do clube, da própria cidade, a afinidade da cidade com o clube. Enquanto treinador, tive oportunidade de representar o Vitória FC, numa divisão muito mais abaixo em relação à história que o Vitória FC nos deu ao longo de toda a sua existência, com o objetivo de pôr o clube na divisão acima, ou seja, na Liga 3, e consegui. Não sei se fui o único ou não, mas sei que fui um dos poucos ou até o único que foi jogador, subiu de divisão, fui treinador no mesmo clube e também subi de divisão. São duas marcas importantes na minha carreira, quer como jogador, quer como treinador. Há uma ligação em muitos aspetos. Desde a cidade, enquanto jogador, treinador, e é um clube muito importante para mim.

- Depois da saída do Alverca, já recebeu convites para assinar por um novo clube?

- Já tive duas propostas a nível nacional, uma do estrangeiro, para além de abordagens em Portugal e a nível internacional.

Zé Pedro fez apenas quatro jogos como treinador do Alverca
Zé Pedro fez apenas quatro jogos como treinador do AlvercaFC Alverca

- E que tipo de projeto pode ser decisivo e pode agradar para voltar ao ativo?

- Um projeto que acho que possa fazer sentido, mas principalmente quero que sinta que sou o treinador certo para estar à frente desse mesmo projeto.

- Presumo que esteja a acompanhar a Liga Portugal, que lhe parece?

- Em relação à luta pelo título, passará pelos três grandes. Apesar de, em termos de pontuação estarem próximos na tabela classificativa, vejo mais à frente o Sporting e o Benfica, ligeiramente mais fortes do que o FC Porto, pela qualidade dos seus próprios plantéis. Depois, SC Braga e Vitória SC, como sempre, a tentarem chegar o mais próximo possível dos clubes da frente. A surpresa do Santa Clara esta época e depois uma sequência de clubes que vai estar a lutar entre a manutenção e os lugares de despromoção. Estamos no segundo terço do campeonato, ainda há muito campeonato, um campeonato que continua a ser competitivo e interessante. É assim que o vejo.

Os cinco primeiros lugares da Liga Portugal
Os cinco primeiros lugares da Liga PortugalFlashscore

- Alguns jogadores que podem e devem ser referidos?

- De destacar o coletivo do Sporting, naturalmente Gyökeres e Trincão, que têm sido fundamentais e os dois maiores destaques da equipa. Do lado do Benfica, Di María tem respondido com o que tem sido ao longo de toda a carreira, um jogador decisivo e diferenciado. Gostaria também de destacar o Bruma. Já gostava muito dele, no passado fez boas temporadas em Braga, mas este ano está a ser um grande destaque.

- Foi capitão do Belenenses, entre outros clubes, jogou com Ruben Amorim. Já na altura se notava que podia ser o treinador que agora mostrar ter capacidade para o sucesso?

- Sim, fui um dos capitães, no qual o Ruben Amorim também fazia parte. Jogámos quatro anos no Belenenses e durante esses quatro anos, por incrível que pareça, nunca houve um comentário sobre esta possibilidade. Quando começou a aparecer na área do treino, deixou-me a mim e alguns colegas surpreendidos. De qualquer forma, o papel e o trabalho que tem vindo a fazer tem sido de excelência.

Zé Pedro comentou passagem de Ruben Amorim a treinador
Zé Pedro comentou passagem de Ruben Amorim a treinadorVitória FC, Opta by Stats Perform

- O que pensa da evolução dele como treinador?

- Conheço o Ruben como pessoa e a sua personalidade. É extremamente extrovertido, comunicativo, fez parte do lote de capitães dessa equipa onde jogámos, ainda com tenra idade. Depois, foi o trajeto natural. Inicia no Casa Pia, passa para o SC Braga para a equipa B, equipa principal, Sporting e Manchester United. Foi mesmo uma evolução também a nível de clubes. Por isso, extremamente competente, o trabalho dele fala por si. Depois, uma das coisas que é importante, teve sempre tempo em todo o lado para desempenhar o seu trabalho e evoluir. Um trajeto brilhante e espero o melhor para ele.

- O Ruben Amorim admitiu que a sua maior influência foi o Jorge Jesus. Também foi a sua? E já agora o que faz deste técnico alguém tão especial no futebol?

- Sim, é bem conhecido que o mister Jorge Jesus deixa marcas em quase todos os jogadores que se cruzaram com ele e quem seguiu esta área do treino. O que torna Jesus especial? Está aos olhos de todos o que conquistou e o que o mister tem. Se formos a falar mais especificamente, em termos de técnico-tático, defensivos, momentos do jogo, liderança, mas para mim, enquanto meu treinador, também foi a minha maior referência, sem dúvida.

Zé Pedro regressou aos sadinos com um novo papel
Zé Pedro regressou aos sadinos com um novo papelVitória FC

- Do tempo do Zé Pedro jogador, o que mudou no futebol para o tempo do Zé Pedro treinador?

- Enquanto profissional, desde o primeiro ano como jogador, até ao término da minha carreira, já foram feitas algumas mudanças. Quando acabei a carreira, não tinha nada a ver com quando iniciei, também pelo contexto, iniciei em divisões inferiores e acabei na Liga Portugal, mas o que noto, de uma forma geral, em termos de mudanças do meu tempo para agora é que todas as áreas são multidisciplinares. Houve uma evolução notória em todos os setores, desde o departamento médico, gabinetes de performance, mentalidade dos jogadores, evolução da tecnologia que veio permitir uma mudança enorme no jogador, as condições que eles têm neste momento, os acessos que os treinadores têm com esta evolução. De uma forma geral, acho que as diferenças que sinto enquanto treinador é que o futebol de rua que nós falamos, onde há imprevisibilidade do próprio jogador, não se vê muito hoje em dia. Vê-se um futebol mais técnico-tático, mais ligado a regras. Houve uma evolução muito grande em todas as áreas, mas isso não deixa de querer dizer que o futebol seja interessante e cativante também.