Mais

Entrevista Flashscore a Iván Fresneda: "Acredito que no futuro vão ver um Fresneda ainda melhor"

Iván Fresneda em entrevista exclusiva ao Flashscore
Iván Fresneda em entrevista exclusiva ao FlashscoreFlashscore
Aos 20 anos, a cumprir a segunda temporada no Sporting, Iván Fresneda impôs-se como titular na lateral-direita dos leões desde a chegada de Rui Borges ao comando técnico do atual campeão nacional. Passou por Real Madrid e Leganés, deu nas vistas no Valladolid e chamou a atenção de Ruben Amorim, com quem não se conseguiu afirmar. Da lesão no ombro aos inéditos três golos em 2024/2025, Fresneda revela ao Flashscore o "trabalho na sombra" que fez em Alcochete, fala da incerteza que sentiu no mercado de janeiro e dos objetivos, individuais e coletivos, no futuro a curto e médio prazo.

- Não teve muitos minutos com Ruben Amorim, as coisas têm vindo a mudar com Rui Borges. Com Amorim, o que é que não correu bem? Adaptação ao futebol português? Ideias do treinador?

- Para mim acho que foi um conjunto de fatores que se deram naquela altura. Quando chego ao Sporting chego com muita ilusão, muito feliz por assinar com uma equipa assim tão grande. Todos os jogadores que chegam a esta equipa nunca sabem a grande dimensão que este clube tem em Portugal. Cheguei sem saber também da pressão que é representar um clube tão grande como o Sporting. Cheguei, comecei a ter alguns minutos nos treinos, nos jogos, mas com uma espécie de lesão no ombro, com uma dor que me estava a impedir de fazer as coisas bem. Acabava os treinos muito frustrado porque sentia que não me estavam a sair as coisas, não estava a demonstrar o nível que eu sempre tive. Uma coisa levou à outra, também acho que aquele jogo na Liga Europa contra a Atalanta, foi um ponto de inflexão, onde percebi que não estava a dar, o ombro não estava a funcionar. Senti bastantes dores, naquele golo que sofremos eu nem tentei chocar de ombro com o lateral-esquerdo porque não podia. Depois disso foi chegar aos treinos, falar com o médico, tentar encontrar a melhor maneira. Também falei com Ruben Amorim, ele, com os adjuntos e preparadores físicos tentaram ajudar-me nesse aspeto, sempre tentando fazer algum trabalho antes dos treinos, tentando sempre ajudar-me a perder aquele medo que eu tinha com o ombro. Mas acho que acima disso não era apenas uma dor, um medo, acho que também era um problema grave o suficiente para ter de corrigi-lo. Falei com o mister, ele também percebeu que a melhor maneira era ser operado. Depois da operação foram três meses, três meses em que eu tentei trabalhar o melhor possível para voltar rapidamente e quando voltei a equipa estava a um nível muito alto. Para mim foi difícil voltar a entrar na equipa. Sempre tive muito boa relação com todos, não foi por esse lado, mas o nível a que toda a equipa estava era superior ao que eu cheguei depois da lesão. Tentei sempre trabalhar, tentar merecer mais minutos mas também percebo perfeitamente a ideia do mister. Tinha a equipa, tinha o onze que estava a responder.

As lesões de Iván Fresneda
As lesões de Iván FresnedaFlashscore

- Não sentiu o peso, o fantasma de Pedro Porro, que fazia todo o corredor direito? Inclusivamente chegou a jogar com Ruben Amorim na linha de três centrais.

- Em relação a Pedro Porro, na minha cabeça nunca fiz esse tipo de comparações. O Porro é um jogador fantástico, que agora está a um nível incrível, na seleção principal de Espanha. Nunca me tentei comparar com o Pedro (Porro) mas sim, aquela mudança de lateral para a linha de três também foi um bocado estranha para mim, nunca me senti confortável naquela linha. O mister percebeu isso, nos últimos dias antes de se ir embora voltou a meter-me nos treinos na minha posição de ala direito. Mas é isso, foi um conjunto de fatores, o meu ombro e também o patamar da equipa naquele momento, o facto do mister perceber que se calhar naquela altura havia jogadores melhor que eu. Acho que merecia mais minutos naquela altura mas acho que também foi uma aprendizagem muito boa para mim. São os momentos difíceis que te tornam mais forte, onde aprendes mais, a trabalhar contigo mesmo, e foi o que fiz neste tempo todo. Foi uma época e meia difícil para mim mas também onde aprendi muito, melhorei muito, como jogador, e aprendi a trabalhar de outra forma. Ninguém vê isso, porque não estás a jogar, mas a parte mais difícil, a parte que se tem de valorizar num jogador, é quando tem lesões, quando não está tão bem, e tem de trabalhar na sombra. As pessoas vêm apenas o resultado final mas o facto de eu agora estar a ter aquela… não gosto de chamar sorte, mas ajudar a equipa, com assistências, com golos, é reflexo de todo o trabalho que fiz no passado. Com Ruben Amorim, com o curto período com João Pereira, trabalhei sempre muito na sombra e tentei sempre fazer o melhor possível quando tive minutos. Não é fácil quando jogas pouco, quando tens cinco minutos estás muito ansioso, queres fazer muita coisa e acabas por não fazer nada. Mas foi uma aprendizagem muito boa. Muito difícil mas tento sempre levar as coisas positivas.

As comparações com Pedro Porro
Flashscore

"Janeiro? Tentei sempre estar relaxado"

- Falou-se numa saída para o Como, em janeiro. Ficou, é titular. O mau tempo já passou? Como lidou com essa indefinição no mercado?

- É óbvio que não é fácil, sobretudo quando não sabes com o que te vais deparar no futuro, mas também são as coisas mais bonitas no futebol, mudam de um dia para o outro. Sempre tentei trabalhar, sempre tentei fazê-lo bem e no mercado de inverno foi igual. Tentei sempre estar relaxado, a falar com os colegas, a desfrutar. Porque se fossem os últimos dias, teria desfrutado. Fiz tudo normal. No futebol, no desporto, na vida em geral, o aspeto mental é uma das coisas mais importantes. E também tens de saber gerir os teus pensamentos, tentar sempre procurar o lado positivo. Quando tudo é bom, sabes que vai chegar um momento mais difícil, quando chega a altura em que tu tens de te tornar forte mentalmente para lidar com isso.

- E o momento atual é bom. Três golos marcados, os primeiros três como jogador profissional. Marcou ao Farense, no Dragão ao FC Porto, e ao Famalicão. O Porro também começou assim… Este é o Fresneda que o futebol português vai ver no futuro?

- Espero e acredito que no futuro vão ver um Fresneda ainda melhor. Sempre tens de tentar melhorar, eu só me comparo comigo próprio, e se calhar agora estão a entrar aqueles golos mas também se formos ver as minhas estatísticas no Valladolid e com Espanha, só tive uma assistência com a seleção espanhola mas sempre tive muita capacidade ofensiva. As coisas às vezes não saem, agora parece que entram todas. É o que o futebol tem de bom e acho que no futuro vão vir coisas ainda melhores. Ainda tenho de fazer mais assistências, mais golos. O Viktor (Gyokeres) chateia-me todos os dias que ainda não lhe fiz uma assistência. Quero chegar àquele patamar onde sempre ajudo a equipa, seja com golos, assistências, manter a baliza a zeros. Para mim conta tudo, do ofensivo ao defensivo. Quando ficas com a baliza a zero estás sempre mais perto de ganhar.

A sequência até ao golo contra o FC Porto
A sequência até ao golo contra o FC PortoOpta by Stats Perform/Profimedia

- Podemos dizer que o atual Iván Fresneda, com Rui Borges, é mais o Fresneda que as pessoas conheciam do futebol espanhol?

- Sim, possivelmente sim. Agora estou a melhorar cada vez mais, a confiança também é muito importante e está cada vez mais alta. Daqui para a frente tentar melhorar cada vez mais e acredito que no futuro as pessoas vão ver um Iván Fresneda muito melhor. 

- Houve uma fase esta temporada em que o departamento médico estava lotado. Existiram muitos problemas físicos, a equipa perdeu muitos pontos que acabaram por encurtar as distâncias para o Benfica. O pior já passou?

- A verdade é que nesse aspeto sim. Foi um período difícil para nós porque ficámos com muitos jogadores de fora mas também naquele momento percebeu-se a força desta equipa. Quando os que não estão a jogar entram, como eu, tentando fazer o melhor possível, e a equipa respondeu. Viu-se bem ali o plantel da equipa, dos bês, dos sub-23, o nível que tem. Foram semanas difíceis, perdemos muitos jogadores mas também foi um momento bonito para as pessoas perceberem que a Academia do Sporting tem muito talento, com jogadores que nos ajudaram muito nos treinos e nos jogos. Todos os jogadores são importantes nesta caminhada, todos têm de dar o máximo se queremos ser bicampeões.

A onda de lesões no Sporting
Flashscore

- O Fresneda é jovem, como a maioria do plantel. Ficou surpreendido com a qualidade que existe na Academia do Sporting?

- Sim, claro que sim. Para mim, todos os jogadores ou quase todos que já vi passar na equipa principal, seja nos treinos ou sobretudo nos jogos, é incrível. Vê-se o nível do Quenda, do miúdo João Simões, que agora se lesionou, o Felicíssimo, o Brito, todos os jogadores que estão a fazer um grande trabalho no Sporting vão ser compensados no futuro. Há um nível muito grande na Academia do Sporting e no futuro vai ver-se ainda mais.

"Quenda? O que aquele miúdo faz, ficarias maluco"

Elogios a Geovany Quenda
Flashscore

- O Quenda já está vendido ao Chelsea, pese embora fique mais um ano no Sporting. Ficou surpreendido com esta ascensão?

- Tenho uma muito boa relação com o Quenda, tenho 20 anos e ele 17. Pela idade também temos essa relação. E fiquei surpreendido, claro. Só tens de ver os treinos, ficar aqui uma semana a ver o que aquele miúdo faz, ficarias maluco. O interesse do Chelsea não surpreende ninguém no clube. No futuro o Quenda vai ser grande. Esta época, na próxima e daqui para a frente. Vai dar muito que falar.

Iván Fresneda e os elogios a Gyokeres
Iván Fresneda e os elogios a GyokeresOpta by Stats Perform/Sporting CP

- E Gyokeres? Nos treinos também é como nos jogos, uma máquina imparável de fazer golos?

- Sempre, sempre. Ele precisa sempre de mais. Precisa sempre de marcar golos, fica frustrado quando não marca. É uma máquina nos jogos, nos treinos, na vida. É um craque de outro mundo. 

- Dizia o Conrad Harder que está em outro nível…

- Sim, sim. É um jogador muito completo, porque é forte fisicamente, é rápido, potente, tem remate mas não é apenas isso. A qualidade que ele tem, com a altura que tem, forte fisicamente. Tentas encontrar um jogador assim e no futebol atual não vejo muitos como ele, que sejam tão fortes fisicamente e depois tenham qualidade. No último golo que fiz, com o Famalicão, logo no primeiro minuto, a jogada é toda dele. E não é uma jogada só de potência mas também de qualidade, como quando ele faz aquele auto-passe para sair do adversário. Tecnicamente também é um privilegiado e creio que é isso que faz a diferença porque tem capacidade física mas também capacidade com os pés para lidar com a bola da melhor maneira.

- Não surpreende por isso que meio mundo ande atrás de Gyokeres.

- Nada, nada. Ele é sempre igual. O que as pessoas vêm no jogo é o que nós vemos no treino. Já muita gente falou sobre ele e não muda nada, ele é assim todos os dias.

- Frederico Varandas anunciou que se o Sporting chegasse à paragem das seleções em 1.º lugar, dificilmente o título fugiria. No balneário também se pensa assim?

- O que nós pensamos é que daqui até ao fim da época será um tempo de muito trabalho, difícil porque faltam oito jogos mas cada um deles é uma final, com a Taça de Portugal, as meias-finais, pelo meio. Todos os jogos vão ser muito importantes. Obviamente que chegar a esta paragem em 1.º lugar é importante mas não podemos cair, temos de ir até ao último jogo em primeiro lugar e a depender apenas de nós.

O objetivo do bicampeonato
Flashscore

"St. Juste já voltou, Pote esperamos que esteja em breve"

O Sporting ainda tem jogos complicados. Tem de receber o SC Braga, tem de ir aos Açores, ao Rio Ave, à Luz com o Benfica, que tem FC Porto, Vitória SC, Sporting e acaba em Braga. Há aqui muita coisa em jogo, desde o título a um lugar na Champions. O plantel do Sporting está preparado para essas oito finais?

- Está perfeitamente preparado. Estamos quase todos prontos, o St. Juste também já voltou, esta paragem das seleções também nos ajuda a recuperar aquele nível anterior. O Pote também esperamos que esteja em breve. Todos vamos ser importantes mas sim, o plantel do Sporting está perfeitamente preparado.

- Chegou a Portugal e foi campeão na primeira época. Que sensações lhe trouxe esse título e como seria fazer o bis?

- O título da época passada foi algo incrível. Nunca tinha visto tantas pessoas juntas numa cidade. Foi incrível, uma sensação única. Ser campeão pela segunda vez seria ainda melhor. Já estamos a falar de deixar um legado no Sporting com apenas duas épocas cá. Foi o que sempre sonhei desde que cheguei cá, triunfar no Sporting, e o que tento fazer todos os dias, com trabalho e esforço.

Os números de Iván Fresneda
Os números de Iván FresnedaFlashscore

- Ainda há a questão da Taça de Portugal, jogar uma final no Jamor, estádio mítico. Ganhar a Taça também está nos vossos objetivos.

- Claro que sim. Estamos a jogar duas competições, são ambas para ganhar. É o que vamos tentar até ao último minuto e é o nosso objetivo, ganhar o bicampeonato e fazer a festa no Jamor também.

- Recuando à Liga dos Campeões, o Sporting na fase de liga fez 11 pontos. Passou para o play-off e deu toda a sensação que o Borussia Dortmund estava ao alcance. O que falhou?

- Já falámos disso, claro. Eu acredito que nós temos nível para ganhar a este tipo de equipas. Acho que tínhamos tudo para ganhar. Na primeira parte tivemos oportunidades para fazer o 1-0 e quando na segunda entrámos a sofremos aquele golo, acho que a equipa baixou a confiança. E a seguir o 0-2, a partir daí a equipa baixou muito no jogo. A primeira parte foi muito boa, acreditava mesmo que podíamos ganhar aquele jogo. Na Alemanha também fizemos um bom jogo mas creio que a mentalidade era outra, perante o resultado da primeira mão.

O olhar de Fresneda à Champions
O olhar de Fresneda à ChampionsOpta by Stats Perform/Sporting CP

- Quem é, para si, o principal favorito a conquistar a Liga dos Campeões?

- Sendo espanhol, acredito que, uma vez não sendo o Sporting, pode ser uma equipa espanhola. O Barcelona está a fazer jogos incríveis e o Real Madrid tem jogadores fantásticos. Acho que até final da época vai alcançar um patamar ainda maior, e obviamente o Real Madrid na Champions toda a gente sabe que nunca podemos dar aquela equipa como morta. Agora é o Arsenal, com Mikel Arteta, um treinador fantástico, uma equipa de craques, e acredito que vai ser muito difícil. Mas o Real Madrid na Champions é a melhor equipa do mundo, acredito que vai ser um jogo muito bonito.

- Campeonatos, taças, competições europeias, seleções. A sobrecarga de jogos tem vindo a elevar o número de lesões em todas as equipas. Como lidam com este desgaste constante?

- Hoje em dia o futebol é cada vez mais físico, já não é apenas a qualidade que cada jogador tem. Vai mais além disso. Fisicamente os jogadores têm de estar muito preparados. As pessoas que gerem o futebol, acredito que o que querem é dar mais jogos ao público, fazer mais dinheiro com o futebol mas não é nada bom sobrecarregar os jogadores. Perdes jogadores fantásticos. Perder uma época do Rodri, do Militão, custa muito. Para o público é pior, todos gostam de ver os melhores jogadores e os melhores bem fisicamente. Quanto mais jogos há, mais probabilidade há de existirem lesões.

- A FIFA disse que no Mundial de Clubes era para estarem os melhores e Guardiola perguntou: ‘Quem define quem são os melhores, vocês ou o treinador?’

- Claro. E acredito que Guardiola neste aspeto tem toda a razão. Porque não é natural fazer tantos jogos numa época porque vai correr mal, para não dizer outra coisa.

Fresneda e o sonho da seleção espanhola
Fresneda e o sonho da seleção espanholaOpta by Stats Perform/Profimedia

- O Fresneda é internacional sub-18 e sub-19 por Espanha, tem um total de 15 internacionalizações. Nesta caminhada e com a afirmação que está a ter no Sporting, é legítimo pensar em La Roja? 

- Sim, claro. Para mim é um objetivo. É a coisa mais linda do mundo representar a tua seleção. Para mim é muito importante e seria um sonho voltar a representar a seleção espanhola. Seria um sonho e acredito que um dia consegui-lo, vou ter essa oportunidade e vou ter de estar preparado. Tento estar cada vez melhor, estar num patamar ainda maior para ter essa oportunidade.

O sonho da seleção espanhola
Flashscore

- O Sporting é o clube ideal para chegar a esse patamar?

- É um clube suficientemente grande e importante, não só no futebol português mas também europeu. Acredito mesmo que toda a gente vê os jogos do Sporting. Senão convido a ver, só estou eu como espanhol no Sporting mas é uma equipa com bom nível e acredito mesmo que fazendo um bom trabalho aqui vou ter essa oportunidade.

- Como tem visto a LaLiga este ano, com tanto equilíbrio?

- Primeiro de tudo, por um lado estou triste porque o meu Valladolid está em último lugar e está difícil esta época. Acredito que se tiverem de voltar para a 2.ª Liga, vão trabalhar para rapidamente estarem de volta. Mas é sempre difícil, é uma equipa que merece, uma equipa muito reconhecida em Espanha e o clube tem de tentar fazer um trabalho para cimentar o Valladolid na LaLiga. Sei que não é fácil mas acredito que no futuro vai conseguir essa estabilidade. Por outro lado, está a ser uma liga fantástica. É muito bom ver os jogos da LaLiga porque o Atlético de Madrid parecia estar a um jogo, mesmo para ganhar a competição e agora com esta derrota com o Barcelona já não sei. Mas está a ser muito engraçado e interessante de assistir. Vai ser uma competição muito bonita até final da época, até mesmo na luta pela Europa, como o Athletic Bilbao, a Real Sociedad, o Real Betis. 

Fresneda começou no futsal com apenas 4 anos
Fresneda começou no futsal com apenas 4 anosOpta by Stats Perform/Sporting CP

- Vamos recuar até ao início da sua carreira. Se lhe falar em Quijorna, no futsal, o que lhe lembra?

- Bom, em primeiro lugar que nem me lembro do meu primeiro jogo no futsal. Comecei com 4 anos. Só os meus pais sabem que no primeiro jogo fiquei parado no meio do campo, sem mexer-me, do nervoso que estava. O meu começo foi no futsal, é um desporto muito engraçado porque é muito rápido, com qualidade, com técnica. Agora posso ir ver o futsal do Sporting, o meu pai está sempre a dizer-me. A equipa é muito boa, vai ser bom ver.

- O dérbi entre Sporting e Benfica em futsal é considerado o maior do mundo.

- Sim, verdade. Barcelona também tem grande capacidade. Por acaso ainda não vi nenhum jogo do Sporting ao vivo, é algo que tenho pendente e quero fazer no futuro.

- O Fresneda também esteve no Real Madrid, em Valdebebas, e queria ser avançado.

- Sim, é verdade. Ainda era miúdo, passava-me muitas coisas pela cabeça. Passei pelo futsal, fui para o futebol 7 e ali quando passas para sub-9, sub-10, aí no Real Madrid já se começava a jogar com 11 jogadores. E ali eu jogava sempre pela direita, às vezes como avançado, e eu queria, tentei. Mas foi mesmo nas provas do Real Madrid que um treinador, o Alejandro Durado, que daqui mando já um grande abraço, foi muito importante para mim, foi o primeiro treinador que me colocou a lateral-direito e não estava errado. Tentei como avançado, tentei como extremo-direito, porque gostava de ir para a frente. Com o tempo melhorei a defender, sobretudo no Valladolid. 

- Assinou depois pelo Leganés e o Javier Suárez, responsável pela cantera do Valladolid, convenceu os seus pais a mudar-se para lá, enquanto sub-17. Impressionou tanto o José Rojo Martín, o Pacheta, que foi lançado num jogo da Taça do Rei frente ao Betis. Foi aí que decidiu que queria ser profissional ou era uma ideia que já vinha de muito atrás?

- A verdade é que tenho muita sorte porque tenho uma família, uns pais que sempre me colocaram como base ter estudos e sempre tentaram guiar-me pelo caminho. Eu na minha cabeça nunca tive outra hipótese que não fosse ser jogador de futebol. Sempre acreditei e os meus pais nunca me negaram isso, nunca me negaram o sonho. Por outro lado, tive sorte porque os meus pais sempre me disseram para ter formação, da escola. Sempre acompanhei o futebol com a escola. Se não tivesse conseguido ser jogador de futebol teria seguido algo parecido, algo ligado ao desporto, dentro dos estudos que estava a ter.

- Foi por isso que tirou um curso de gestão desportiva. Isso quer dizer que no final da carreira, em vez de um treinador vamos ter um diretor desportivo?

- Pode ser, vamos ver. Ainda espero jogar muitos mais anos, no Sporting e na minha carreira. Mas gostei desse lado, comecei a estudar isso porque gosto de desporto e gosto da gestão de uma empresa. Tento sempre aprender cada vez mais e quem sabe, no futuro…

"O objetivo sempre foi ser o melhor jogador na minha posição"

Nesta altura, sente que o Sporting é a sua casa? Quer ficar muitos anos?

- O que penso agora é que estou em casa. Ainda tenho muitas coisas para fazer no Sporting, ainda tenho muito que demonstrar aqui. Também me sinto obrigado a isso porque cheguei e não tive tanta sorte, em muitos aspetos. Acredito que ainda tenho de fazer mais pelo Sporting. O primeiro objetivo esta época é o bicampeonato, depois a Taça de Portugal, onde ainda temos as meias-finais. Depois, o meu objetivo não é jogar num sítio ou outro, mas sim ser o melhor jogador possível dentro das minhas características. Para mim o objetivo sempre foi ser o melhor jogador na minha posição e é o que vou tentar no futuro. Quando chegas a esse patamar as coisas vêm logo.  A seleção, renovar com o Sporting… vai ser ao nível do que eu mostrar. 

Os números Opta de Iván Fresneda
Os números Opta de Iván FresnedaOpta

- Um artigo no Flashscore no final de 2023 apontou o Fresneda como um dos mais promissores talentos do futebol espanhol, ao lado de Assane Diao (Betis), Mosquera (Valência), do Iker Bravo e do Mario Martín (Real Madrid), do Alarcón (Barcelona), do Akhomach (Villarreal), do Juan Larios (Southampton) e do Samu (FC Porto). Como se sente por estar entre estes nomes e se sente que o seu crescimento coloca-o nesta linha de afirmação, agora com 20 anos.

- Obviamente é um prazer estar nomeado entre esses grandes jogadores, seja o Samu ou o Assane. Tenho boa relação com todos. Por exemplo com o Samu no último jogo com o FC Porto ficámos ambos chateados com o que aconteceu mas é muito amigo meu, tenho muito boa relação com ele e desejo-lhe o melhor. O objetivo está aí, é aumentar o nível, cada vez mais, para um dia chegar ao patamar de ser o melhor jogador da minha posição. Se estiveres nesse patamar as coisas vêm logo. As pessoas falam de ti, as pessoas colocam-te nessas listas, com o nível que estiveres a demonstrar. 

- Para terminar, perguntas para respostas rápidas. Melhor equipa da Liga Portugal?

- Sporting Clube de Portugal, claro.

- Melhor jogador da Liga Portugal?

- Neste momento, Viktor Gyokeres.

- Jogador de referência para Fresneda, e porquê.

- Carvajal, que está lesionado neste momento, e Pedro Porro, que jogam na mesma posição que eu.

- Adeptos do Sporting.

- Incríveis.

- Lisboa.

- Uma cidade fantástica. Adoro, adoro. É a minha casa.

- Paella ou bacalhau.

- Muito difícil porque gosto imenso do bacalhau à brás, mas vou ficar com a paella porque é a terra. Encanta-me. Adoro.