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Exclusivo com António Simões: "Bruno Lage é inteligente e está bem preparado"

António Simões, antigo jogador e treinador
António Simões, antigo jogador e treinadorProfimedia
António Simões é um nome para sempre gravado nos anais do futebol português. Nascido a 14 de dezembro de 1943, em Corroios, tornou-se um dos mais talentosos extremos da sua geração.

Reconhecido pelos seus extraordinários dribles, inteligência tática e determinação inabalável, tornou-se uma parte vital da era dourada do Benfica nas décadas de 1960 e 1970.

António Simões também brilhou na cena internacional, representando Portugal em mais de 40 jogos, incluindo o histórico terceiro lugar no Campeonato do Mundo da FIFA de 1966. A sua parceria com Eusébio, tanto no Benfica como na seleção nacional, foi lendária, impulsionando o domínio do Benfica nas competições nacionais e europeias. Entre elas, a emblemática conquista da Taça dos Campeões Europeus em 1962.

Depois de se reformar como jogador, António Simões passou a ser treinador, partilhando a sua experiência com as gerações mais jovens. Hoje, o seu legado continua a ser um farol de inspiração para os aspirantes a futebolistas, personificando o próprio espírito do futebol português. Numa entrevista exclusiva ao Tribalfootball, António Simões falou sobre a sua ilustre carreira, o seu tempo no Benfica, o seu percurso como treinador e muito mais.

Reconhecido como uma lenda no Benfica:

"Claro que me sinto feliz com isso. Digo sempre que se um país, uma sociedade e o seu povo não tiverem memória, não podem respeitar a história. Não se trata apenas de mim, mas acredito que o país deve respeitar a sua história, e eu faço parte da história do futebol. Por isso, estou muito feliz e grato pelo facto de o meu país não se ter esquecido de mim e também de outros jogadores importantes."

Memórias do Benfica:

"Incluindo os anos de juvenil e sénior, joguei no Benfica durante 16 anos, cerca de 700 jogos. Fui sempre feliz e lembro-me de todos os dias, tanto dos treinos como dos jogos, com um sorriso no rosto. Comecei muito novo, com apenas 17 anos, e foi difícil entrar na equipa principal. Mas tive companheiros de equipa que me apoiaram muito. Ganhei mais de 10 títulos, incluindo a Liga Portuguesa e a Liga dos Campeões em 1962, contra uma equipa do Real Madrid com jogadores como Puskás e Di Stéfano, que tinha ganho cinco Taças dos Campeões Europeus seguidas. Essa vitória fez de nós heróis. Outro momento inesquecível foi a participação no Campeonato do Mundo de 1966, em que ficámos em terceiro lugar. Perdemos na meia-final contra a Inglaterra, que acabou por vencer o torneio."

Final da Taça dos Campeões Europeus de 1962 contra o Real Madrid:

"Recordo-me de algumas coisas. Quando entrámos em campo, olhei para a minha esquerda e vi o Di Stéfano e o Puskás, jogadores que só tinha visto na televisão. Com apenas 18 anos, eu estava no mesmo campo que eles. Parecia um sonho. Até hoje, ainda sou o jogador mais jovem a ter vencido aquela final, e isso é algo que valorizo muito. Estávamos a perder 3-2 ao intervalo, mas o nosso treinador fez um discurso incrível. Disse-nos: 'O Real Madrid está cansado. Joguem o vosso melhor, dêem tudo, e vamos ganhar'. Esse discurso ensinou-me uma lição para toda a vida: mesmo perante as dificuldades, podemos alcançar grandes feitos se acreditarmos em nós próprios. Voltámos e ganhámos. Foi mágico".

Amizade com Eusébio:

"Joguei com o Eusébio durante 14 anos. Quando se fala dele, nunca nada é demais - ele era extraordinário. Tornámo-nos amigos íntimos e até as nossas famílias criaram laços fortes. As minhas filhas e as filhas dele ainda são muito amigas. Um dos momentos mais emocionantes da minha vida foi quando o Eusébio me chamou "irmão branco". Eu disse-lhe: 'Tu és meu irmão, independentemente da cor. E essa cor é o amor. Essa recordação fica-me para sempre".

Representar a Seleção Nacional:

"Vestir a camisola da Seleção Nacional é um privilégio. Jogar por Portugal num palco mundial é uma sensação que nunca esquecerei. Dei tudo para representar o meu país e estou orgulhoso por ter dado o meu melhor pela seleção nacional."

Aventura nos Estados Unidos em 1975:

"Quando recebi o convite, o meu instinto foi dizer não. Mas depois pensei no que os EUA poderiam oferecer à minha família - novas oportunidades, boas escolas para as minhas filhas e uma hipótese de viver algo diferente. Não se tratava apenas de mim; tratava-se do crescimento da minha família. Jogar lá ao lado de lendas como Pelé, Cruyff, Beckenbauer e Eusébio ajudou o desporto a crescer nos EUA."

Diretor técnico do Benfica com José Mourinho a treinador:

"O José não era uma pessoa fácil de trabalhar, mas era muito ambicioso e atento a todos os pormenores dos treinos e dos jogos. Foi um dos primeiros a combinar as elevadas exigências em campo com um interesse genuíno pela vida pessoal dos seus jogadores. Compreendia a importância de se relacionar com os jogadores como indivíduos e não apenas como atletas. Isso distinguiu-o."

Adjunto de Carlos Queiroz na seleção do Irão:

"O Carlos estava à frente do seu tempo em muitos aspetos. Era incrivelmente inteligente, culto e preparado para os desafios de treinador. Lembro-me de quando ele ganhou o Campeonato do Mundo de Sub-20 duas vezes - foi um testemunho da sua visão e capacidade. Não era apenas um grande treinador, mas também um ser humano maravilhoso".

O momento atual do Benfica:

"O Benfica está numa fase de transição. Gosto do novo treinador, Bruno Lage, que é inteligente e está bem preparado. Mas um bom treinador precisa de jogadores talentosos. O clube tem de investir bem na prospeção e garantir a contratação de jogadores com verdadeiro potencial. Espero que possam voltar a ser campeões".

Momento atual da Seleção Nacional:

"Não conheço pessoalmente Roberto Martínez, mas ele tem a sorte de ter um plantel muito talentoso. Portugal pode ter duas equipas de classe mundial com os jogadores disponíveis. Se todos estiverem em forma, acredito que seremos um dos mais fortes candidatos ao Campeonato do Mundo."