Exclusivo com Ianis Stoica: "No último clube também fui a transferência mais cara, sei lidar com a pressão"

Ianis Stoica, extremo do Estrela da Amadora, em entrevista ao Flashscore
Ianis Stoica, extremo do Estrela da Amadora, em entrevista ao FlashscoreMaciej Rogowski / Alamy / Profimedia / Flashscore

Apontado desde cedo como uma promessa do futebol romeno, onde se estreou com apenas 15 anos, Ianis Stoica vive a sua primeira experiência fora do conforto de casa, mas encontrou um novo lar na Amadora. O internacional sub-21 romeno tornou-se numa das contratações mais caras da história do Estrela, mas não vive preso por esse rótulo. Em entrevista ao Flashscore, o extremo falou da sua adaptação ao futebol português e das diferenças que encontrou na Liga Portugal, competição onde já tem um jogador favorito.

- Fizeram recentemente um estágio em Espanha. Como correu?

- Foram dias bons, deu para preparar o jogo contra o Sporting. Estivemos em Espanha, jogámos bem, ganhámos confiança e continuamos o processo até ao próximo jogo.

- Marcou contra o Valladolid.

- Sim, precisava de marcar para ganhar confiança, ganhar a confiança do treinador, dos colegas de equipa. Fiquei muito feliz por marcar e porque ganhámos um troféu. É um troféu amigável, mas para nós é importante porque dá a sensação de que estamos a ir no bom caminho.

- Como tem sido a adaptação ao país e a experiência no Estrela da Amadora?

- As primeiras três semanas foram duras para mim porque precisava de estar atento a muitas coisas, a forma como as coisas funcionam, mas agora posso dizer que as pessoas aqui são muito boas, o futebol é de topo e sinto-me em casa. Já não sinto diferença quando vou a casa ou estou aqui. Para mim já é igual.

- O que mais o surpreendeu? Quem é que o ajudou mais na adaptação?

- Todos. Este é um grupo especial. Toda a gente ajuda toda a gente. Desde o primeiro momento senti apoio, não só porque marquei ou pelos resultados, mas por causa deste grupo forte. Quero agradecer por isso.

Ianis Stoica, jogador do Estrela da Amadora
Ianis Stoica, jogador do Estrela da AmadoraMIGUEL A. LOPES/LUSA

"As pessoas aqui colocam muito coração no clube"

- O Estrela é um clube com uma identidade muito forte, adeptos leais e um estádio que costuma dificultar a vida aos adversários. Como tem sido lidar com esse nível de exigência e com a paixão dos adeptos?

- Quando perdemos, os adeptos sentem muito, mas continuam a apoiar. As pessoas aqui colocam muito coração no clube. Gosto muito disso. Nos jogos em casa são como um jogador extra em campo. É uma grande motivação para mim ganhar porque posso fazê-los felizes.

- O início da época não foi fácil. Já houve uma mudança de treinador e a equipa foi eliminada da Taça de Portugal, mas os últimos jogos mostraram sinais positivos. Como é que a equipa pode transformar isso em resultados?

- Estamos num bom caminho com o novo treinador (João Nuno). Todos dão 100% para ajudar a equipa. Estamos a tentar resolver todos os problemas com ele e chegar ao nosso melhor nível o mais rápido possível.

- Entrou a partir do banco e marcou o golo que garantiu os primeiros pontos da equipa na liga, logo na sua estreia (frente ao Estoril). Que sensação lhe deixou esse jogo?

- Tive muitas emoções porque tudo era novo: o estádio, o futebol, o primeiro jogo. Quando entrei, tentei apenas dar o meu melhor. Concentrei-me em jogar bem e o golo deu-me confiança. Começar assim foi muito bom para mim e, seja a partir do banco ou no onze inicial, espero continuar a ajudar a equipa.

Os números de Ianis Stoica
Os números de Ianis StoicaFlashscore

"Tinha uma proposta da Turquia, mas apareceu o Estrela"

- Já iniciou alguns jogos, mas tem sido usado mais vezes como suplente utilizado. O que acha que precisa de fazer para conquistar um lugar no onze inicial?

- O treinador sabe o que é melhor para mim. Vim de um futebol diferente, por isso talvez precise de tempo para me adaptar e aprender como as coisas funcionam aqui. Ele é muito bom comigo, ajuda-me bastante e, sempre que me coloca, eu tento dar o meu melhor.

- Ainda é cedo, mas quais são as suas impressões sobre o futebol português, a Liga, os clubes, os jogadores e Portugal em geral?

- É um futebol muito bom, muito físico. Pensava que seria mais parecido com o espanhol, mas quando cheguei percebi que é diferente, no bom sentido. Os jogadores têm muita qualidade e cada jogo é difícil, seja contra o último ou contra as melhores equipas da Liga.

- Antes de vir, sabia alguma coisa sobre a Liga ou sobre o Estrela da Amadora? Como surgiu a mudança?

- Tinha de escolher entre ir para a Turquia, porque tinha uma proposta, ou vir para aqui. Mas quando o Estrela apareceu, a minha decisão ficou tomada. Escolhi o Estrela porque é um belo clube, com muita história, e é um grande prazer estar aqui.

- Falou com alguém que conhecesse o Estrela antes de aceitar o projeto?

- Não. Procurei informações na internet e tudo o que encontrei era positivo e mostrava que o clube tinha bom nível.

- Foi uma das contratações mais caras da história do clube. Como lidou com essa responsabilidade e como vê o seu papel na equipa?

- É uma grande responsabilidade. Tento dar o meu melhor e fazer as pessoas felizes. No meu último clube também fui a transferência mais cara, por isso já sei lidar com essa pressão. Confio nas decisões do treinador e dou o meu melhor, jogue um minuto ou o jogo inteiro.

- E não sente essa pressão?

- Não.

"O meu jogador favorito é o Zalazar"

- Dentro do plantel, houve algum jogador que o surpreendeu mais quando chegou, pela qualidade?

- Não apenas um. Temos muitos jogadores de qualidade. Tento observar o que os outros fazem bem para imitar e aprender para podermos trabalhar melhor como equipa.

- Nomes como o Sidny Cabral, por exemplo, que está a fazer uma época incrível?

- Sim, ele é muito bom jogador, mas também temos o Renan, o Jovan, o Schappo, o Kikas... muitos bons jogadores. Não é só um.

- E na Liga Portugal, houve algum adversário que o impressionou mais?

- Há muitos bons jogadores, mas o meu favorito é o Zalazar, do SC Braga.

"Não queria estrear-me e parar de evoluir"

- Falando dos seus primeiros anos na Roménia: estreou-se profissionalmente aos 15 anos e até marcou no jogo de estreia. Como recorda esses primeiros meses e o facto de começar tão cedo?

- Começar tão jovem traz pressão, porque muitos jogadores estreiam-se aos 16 ou 17 e depois desaparecem. Tentei fazer tudo passo a passo, dar os passos certos, para chegar a um bom nível. Não queria estrear-me e parar de evoluir, precisava de trabalhar mais. Com essa mentalidade, cheguei ao Estrela.

- Mudou de clube várias vezes na Roménia e foi sempre visto como um dos maiores talentos da sua geração. De que forma essas mudanças constantes afetaram a sua carreira?

- O meu primeiro clube emprestou-me, o que é normal para jovens que precisam de jogar. Os empréstimos ajudaram-me a ganhar experiência, porque é difícil passar diretamente da equipa B para um clube de topo. É preciso dar passos, como a Segunda divisão, clubes mais pequenos da Primeira divisão. Os empréstimos ajudaram-me.

- Portanto sente que esses passos foram os certos?

- Sim. Alguns não correram bem, mas aprende-se com os erros. Ninguém acerta sempre.

Ianis Stoica marcou no particular com o Valladolid
Ianis Stoica marcou no particular com o ValladolidCF Estrela da Amadora, SAD

- Na Roménia sente que existe muita pressão sobre os jovens jogadores?

- Temos muitos jovens bons agora. Acho que em breve a seleção será muito forte. Como país, precisamos de bons resultados na Europa, porque sem isso é difícil atrair clubes de grandes ligas para olharem para jogadores romenos.

- Tendo jogado nos dois países, qual é a maior diferença entre o futebol romeno e o português? O que está a aprender aqui?

- Há muitos pequenos detalhes, mas o que mais gosto é o foco no grupo. Aqui trabalha-se mais a equipa do que o individual.

- E dentro de campo, não acha que há coisas diferentes em comparação com o futebol romeno?

- Sim, sobretudo a nível tático, mas não posso falar muito disso porque é confidencial (risos). Mas aqui trabalha-se muito a parte tática. O campeonato é mais tático e também mais físico.

- A sua antiga equipa, o Hermannstadt, tem tido dificuldades este ano depois de uma boa época. Tem acompanhado os resultados? Acredita que vão recuperar?

- Não acompanho muito, para ser sincero, porque ao fim de semana foco-me em ver jogos daqui para aprender mais sobre o campeonato e os adversários. Mas acho que o Hermannstadt vai manter-se no primeiro escalão sem problemas. Na época passada estivemos na mesma situação e depois da primeira vitória acabámos por subir na tabela e até fomos à final da taça. Por isso acho que vão conseguir a manutenção sem problemas.

- Disse que ao fim de semana vê futebol português. Há alguma equipa que goste especialmente de seguir?

- Não. Vejo o campeonato para estudar adversários, especialmente os laterais, para perceber como jogam, que qualidades têm, para tirar notas e analisar o adversário que vou ter.

Stoica é internacional sub-21 pela Roménia
Stoica é internacional sub-21 pela RoméniaALEX NICODIM / NURPHOTO / NURPHOTO VIA AFP

"Não quero que digam 'o Ianis é o melhor'"

- Tem já 10 internacionalizações pelos sub-21 da Roménia, mas ainda não foi chamado à seleção principal. É algo que o motiva ou deixa impaciente?

- Estou focado no meu processo aqui no Estrela. Passo a passo, as coisas boas virão. O meu objetivo é fazer um bom trabalho aqui e, se for chamado, irei feliz.

- A Roménia vai jogar o play-off para o Mundial contra a Turquia. Como vê as hipóteses da seleção?

- Acho que temos boas hipóteses porque temos tido bons resultados. Espero que ganhemos e que cheguemos à fase final do Mundial.

- A Roménia foi uma surpresa agradável no Europeu há alguns anos…

- Sim, e isso é mais um motivo para acreditarmos que podemos chegar ao Mundial.

- O seu pai (Pompiliu Stoica também foi jogador e chegou à seleção. Que papel teve na sua carreira e como o influenciou dentro e fora de campo? Tem estado consigo em Portugal?

- Não, ainda não, mas virá em breve. Ele trabalha na Roménia e tem uma escola de futebol. Não me dá conselhos táticos, apoia-me com confiança e palavras positivas. Nunca me diz 'faz assim' ou 'remata para ali'. Apoia-me como pai. Na Roménia dizia mais, mas aqui confia no meu processo. Agora dá mais conselhos pessoais, diz para estar focado, respeitar todos e fazer algum treino extra às vezes, mas nada de tática.

- Para terminar, quais são os seus principais objetivos, pessoais e com o Estrela? E o que gostaria que as pessoas em Portugal dissessem sobre si no final da época?

- Quero ajudar a equipa. Não estou muito focado em mim neste momento. No final, quero que as pessoas digam que sou um bom jogador e que ajudei a equipa, não quero que digam 'o Ianis é o melhor' ou algo assim.