"Nunca nos cansamos de pensar e de evoluir"
- Obrigado por nos receber aqui, nesta que é a sua casa e onde está praticamente desde o início, vindo do Belenenses. Durante todo este tempo, como é que viu o crescimento deste magnífico Benfica Campus?
- Estou desde a inauguração do Benfica Campus. Vejo que, além do crescimento em termos de infraestruturas, porque desde o início, em 2006, já teve várias remodelações e vários momentos em que cresceu, um aumento de recursos humanos, de qualidade. É uma evolução e investimento muito grande em processos de trabalho e desenvolvimento de jovens jogadores. Portanto, tem sido um caminho longo, de muito trabalho, mas muito gratificante para quem está há 20 épocas no Benfica, ver aquilo que as direções do Benfica têm investido no futebol formação. Não só infraestruturas, com o aumento dos campos, o número de relvados e edifícios, o aumento da residência, tudo isso são mais-valias para o desenvolvimento dos jogadores. Mas aquilo que tem sido o investimento em processo de treino, de desenvolvimento de jogadores, no trabalho multidisciplinar com diferentes áreas de apoio, o crescimento e qualificação em termos de recursos humanos tem sido algo muito interessante e muito gratificante de ver no clube, e por isso, também os resultados que temos obtido ao longo destes anos.
- O Benfica Campus é uma referência internacional na formação de jogadores. Já foram imensos os que saíram daqui para os mais altos patamares do futebol mundial. Este facto aumenta a responsabilidade de quem tem por missão formá-los?
- Sem dúvida que isso é algo que a mim, e acredito que a todas as pessoas que trabalham aqui todos os dias, quando saímos de casa para vir trabalhar, sentimos o acréscimo de responsabilidade e dedicação, que vem desse peso ou dessa valorização que nós temos, pelo facto de todos os anos conseguirmos desenvolver os jogadores, formar os jogadores e que eles têm demonstrado tudo aquilo que valem por esse mundo fora. Portanto, nós temos de ser exigentes connosco próprios. Nunca nos cansamos de pensar e de evoluir. Estagnar não faz parte do trabalho que fazemos aqui. Nós queremos sempre melhorar, porque se tivéssemos estagnado há 10 ou 12 anos nunca teríamos conseguido dar continuidade ao trabalho. Portanto, esse é um desafio constante, quer para as pessoas que se mantêm e que estão há muitos anos cá, mas também para aqueles que entram, e que têm que saber que chegar ao Benfica, é bom, mas o trabalho começa nessa altura e, portanto, temos que continuar a evoluir e a melhorar, porque de outra forma, não vamos conseguir ter sucesso.
- Pelas suas mãos passaram jogadores que tiveram, e ainda têm, sucesso interno e externo. João Cancelo, Ivan Cavaleiro, Bernardo Silva, André Gomes, Renato Sanches, Gonçalo Ramos, João Neves, o António Silva, que é titular da equipa principal, e muitos outros. Quando estes jogadores chegam ao topo, o que é que pensa um treinador? Missão cumprida e vamos lá trabalhar por mais?
- Eu costumo dizer que esses são os maiores troféus que um treinador de futebol formação tem ao longo da sua carreira. Eu, felizmente, por trabalhar no Benfica, já ganhei muitos títulos a nível coletivo. Mas ver um jogador da formação estrear-se na equipa principal e afirmar-se no futebol internacional e profissional, enche-nos de orgulho. Lá em casa já me viram emocionar muitas vezes a ver esses jogadores a triunfarem, portanto, é a noção de que o objetivo para que nós nos propusemos e com que nos comprometemos com o Benfica, está a ser conseguido. Mas dizer que é um objetivo concluído ou atingido, não, porque este é o nosso trabalho e nós temos que, continuar a desafiar-nos para conseguir que mais jogadores consigam atingir esses patamares.
- Mas sentem que, da parte deles, também há um sentimento de gratidão. Mantêm, suponho, contacto…
- Sem dúvida que o que nos valoriza, é sentirmo-nos bem, porque, normalmente, os grandes obreiros de todo esse trajeto são os próprios jogadores, mas nós, de alguma forma, contribuímos para que eles atinjam o patamar que atingiram. Todos eles são reconhecidos por aquilo que o Benfica e os treinadores fizeram durante esse processo. E, portanto, o contacto não digo que é constante, mas sempre que nos encontramos é sempre muito bom relembrar e reviver os momentos em que trabalhámos juntos. É com muita satisfação que vivemos esses momentos.
- Desde cedo, para quem entra nesta casa, o nível de exigência é altíssimo. E suponho eu que até pode ser para muitos miúdos um choque chegar aqui e ver esta realidade. Ou seja, alguns miúdos que onde estavam eram, digamos, as estrelas da equipa, mas chegam aqui e são apenas mais um. Como é que se lida com, com isso? Nem sempre é fácil.
- Fácil não é. E a primeira noção de realidade que nós temos que transmitir é essa, e também é o que eles sentem quando chegam. É que, aqui não se pode trabalhar pelo que é mais fácil, mas sim por aquilo que é o necessário e a exigência que nos impõe. Alguns jogadores têm um processo de adaptação difícil e que tem que ser acompanhado. E felizmente, o Benfica tem muitos recursos que nos ajudam, não só aos treinadores, mas também ao resto da estrutura a apoiar os jogadores nesses momentos. Também temos vários jogadores que pela sua capacidade, pelo seu caráter, pela sua personalidade, entendem muito rapidamente a grandeza do clube e correspondem imediatamente. Para os que têm mais dificuldades, esta estrutura junta-se para os apoiar e felizmente temos tido sucesso nessa esfera.
- Um treinador de formação é muito mais que um treinador para esses miúdos. Não se limita a ir para o campo, dar o treino, estar no banco nos jogos. É muito mais. Alguns falam dos seus primeiros treinadores como os segundos pais. É assim mesmo?
- Sim. Neste momento, eu já estou numa realidade num espaço de transição para o profissional. Já encontro jogadores com uma maturidade e que se calhar mais do que um segundo pai, temos de ser uns orientadores e gestores de expectativas, porque eles estão naquele momento em que o objetivo está tão próximo, mas se para uns pode estar muito próximo, para outros pode demorar mais algum tempo. Portanto, a gestão de expectativas é muito importante. Mas sim, quando treinei sub-14, sub-15, sub-16, sub-17, muitas vezes somos as pessoas que os jogadores precisam para desabafar, para aprender coisas básicas que naturalmente são pais que fazem. Chegaram a perguntar-me como é que se fazia a barba, se aquela roupa era adequada para um determinado momento. É natural que nós tenhamos também uma função não só de treinadores e de trabalhar aquilo que é a essência técnico-tática do jogo, mas muito mais que isso…
- Há a necessidade de chamá-lo para a nova família…
- Exatamente, exatamente.
- E em tudo isso, na gestão de expectativas, sobretudo talvez a partir dos 15, 16 anos, quando estão a formar mais a personalidade, qual é o papel dos pais na sua evolução? Porque todos nós sabemos que toda a gente pensa que tem em casa um grande craque e nem sempre é assim e nem todos vão conseguir atingir o objetivo.
- Eu gostava de contrariar um pensamento que é comum a toda a gente, que os pais são um problema para jogadores de futebol. Aquilo que os pais querem sempre é o melhor para os filhos, e de sonhar ao lado deles, que podem ser jogadores profissionais de futebol, podem ter uma carreira profissional e serem aquilo que os ídolos deles são e que acompanham na televisão. É natural para um pai. Portanto, é importante que os clubes e toda a estrutura que está à volta do futebol, ajude os pais a entender que atingir esse objetivo não é para todos, e que não é pelo facto de não ser um jogador de Liga Portugal ou das principais cinco ligas europeias, que o seu processo de formação no futebol foi um fracasso, porque o futebol tem que ser mais um veículo para que eles se desenvolvam como seres humanos. E o futebol é fundamental. Todo o desporto é fundamental para a definição de carácter, para a saúde mental e física dos jogadores e, portanto, temos de trazer os pais para essa realidade. A gestão das expectativas passa muito por ajudar os pais a perceber que nem tudo vale para para chegar ao objetivo, que não existe só um caminho para o sucesso e que há muitos sucessos no futebol. Se os pais perceberem isso, não tenho dúvidas que são um auxílio muito grande para essa capacidade de os jogadores terem os pés no centro da Terra e perceberem que o sonho é para se sonhar e para se trabalhar, mas o sucesso não deriva apenas da concretização do sonho. Há vários sonhos, há vários objetivos e a maior parte deles consegue atingir os seus objetivos, porque o futebol e o desporto em si os ajudaram.

- Até porque, nem sempre um jogador que não seja de primeira linha significa que não possa vir a dar um grande treinador. E o Benfica tem hoje um grande exemplo disso na equipa principal. Portanto, o pensamento também tem de ir um pouco por aí, que o futebol também prepara para vida.
- Sem dúvida, todo o desporto prepara para a vida. E o futebol sem dúvida. O trabalho em equipa, o sacrifício, o sucesso, o insucesso, são mais-valias que o desporto e o futebol dão para a definição de carácter para qualquer profissão. E não é desfavor nem descrença para ninguém, para os jogadores que jogam no Distrital e Campeonato de Portugal. Há muitos jogadores que são muito felizes e se sentem realizados por jogar nessas competições. Não é insucesso só o facto de não conseguirem ser jogadores de primeiro plano. Mas para isso nós também temos que ajudar, não só os jogadores, mas os pais, a perceberem que o futebol tem mais benefícios do que só a questão financeira ou o reconhecimento público dos jogadores que atingem esse patamar.
- Falou em sucesso e insucesso. A taxa de sucesso do Benfica Campus, é enorme. Em cada dez jogadores, oito serão profissionais. É uma média simplesmente fantástica, mas depois também há os outros 20 por cento. Quando o treinador quando tem de dar a má notícia, isso dói? Como é que se gere isso? Porque devem ter tido inúmeros casos em que eles saíam daqui com as lágrimas nos olhos.
- Eu costumo dizer que é o pior dia para vir trabalhar. Se eu acho que o dia do jogo é o melhor dia para vir trabalhar, o dia em que nós dizemos que a continuidade no Benfica terminou, não é o melhor momento. É muito duro para os jogadores, mas também é muito duro para quem transmite e para nós treinadores que lidamos com eles todos os dias, que criamos relação. Às vezes não é a melhor, mas é uma relação que é sempre profunda, porque são muitas horas, muitas coisas… Não é fácil. No entanto, aquilo que nós temos de ter sempre em consideração aqui, a definição dos critérios para dizer se o jogador deve ou não continuar, e que são sempre a pensar muito mais naquilo que é melhor para o jogador do que para nós ou para clube. Portanto, quando nós dizemos a um jogador que a partir de agora, o caminho em busca do seu sonho não deve ser no Benfica, é porque para o jogador é melhor. Já houve vezes em que nesse momento o jogador não entendeu e não aceitou. Mas passado algum tempo, e por vezes já muitos anos depois, reconhecem que foi a decisão certa. Outros não, porque isso é a realidade da vida. Mas é muito importante que nós estejamos conscientes, e o Benfica tem uma equipa muito grande que pensa muito essas questões, que quando nós dizemos que este é o momento de nos afastarmos, tem de ser baseado muito nos critérios daquilo que é melhor para o próprio jogador. E, portanto, apesar de ser difícil e duro, vamos para esse momento com a consciência de que estamos a fazer o melhor para o jogador.
O modelo "Formar à Benfica"
- O mister Luís Araújo teve voz ativa, na elaboração de um documento, e num modelo de jogo e de jogador à Benfica. Pode explicar-nos, em linhas gerais, esse processo?
- Esse documento foi criado e feito após vários anos de interação e interligação daquilo que eram experiências dos treinadores que estavam e estão no Benfica Campus. Todos os treinadores que estiveram no início do Benfica Campus, foram pessoas que experienciaram pela primeira vez a criação de um espaço destes. Eram treinadores com muita experiência ao nível da formação, mas com este tipo de envergadura e com a exigência do Benfica, era algo novo. Todos nós fomos construindo aquilo que considerávamos ser o melhor processo para desenvolver jogadores. E depois, durante muitos anos, o facto de partilharmos o mesmo espaço de trabalho, criou muitos momentos informais de debate e discussão, sobre como jogar, o perfil do jogador, o perfil do jogador à Benfica, o perfil da posição, o modelo de treino, e foram essas discussões informais que deram aquilo que nós pensávamos que podia ser o modelo de treino e o modelo de desenvolvimento dos jogadores. Depois, faltava o passo seguinte, e que está muito dentro de cada um de nós. A partir desse momento tínhamos de pôr no papel. Desafiaram-nos a construir esse modelo e, portanto, esse documento, derivou dessa reflexão de muitos treinadores. Depois todos os treinadores que iam entrando foram dando um input para aquilo que ficou definido como o 'Formar à Benfica'. Há um documento, um modelo de desenvolvimento de jogadores que fazemos questão que nunca esteja fechado, está sempre em desenvolvimento e estamos sempre em permanente discussão para mais um acrescento àquilo que é o nosso modelo de desenvolvimento de jogadores.
- Com o objetivo de fornecer jogadores para a equipa principal a médio ou longo prazo. O objetivo é sempre esse. Dizia-me, o Guilherme Muller que troca um título por três, quatro jogadores na equipa principal todos os anos.
- Acho que trocamos todos. Sim, o modelo abrange desde os sub-seis, os sub-cinco até à equipa B. Portanto, uma das características que nós temos verificado nos jogadores que temos formado é que muitos deles passam o maior tempo no processo de desenvolvimento, ou seja, são jogadores ou que vêm sub-10, ou que vêm mesmo do espaço EUL, antigos pupilos do exército. Portanto, são jogadores que passam 10, 12 anos no nosso modelo que é muito extensivo e muito completo, que deriva desde os sub-seis e que tem várias etapas de desenvolvimento. Isto foi tudo criado não exclusivamente pelos treinadores aqui do Benfica Campus, mas por toda a estrutura técnica. Sem dúvida que o principal objetivo é formar jogadores para a equipa principal, mas sem nunca esquecer uma parte muito importante naquilo que é o desenvolvimento do jogador, que é a parte social e a parte de cidadania dos jovens, que os pais nos entregam e muitos deles com idades de 12, 13 anos deixam as famílias para virem residir aqui. Portanto, nós também temos uma responsabilidade acrescida de formar, não só jogadores, mas também homens.
- Em termos de espaço competitivo, a criação de equipas B, do campeonato sub-23, esta nova subdivisão da Liga três. Tudo isto ajuda, é um impulso para, na chamada fase de transição para sénior, se sentir mais preparado, à equipa principal?
- Sem dúvida, está mais do que verificado que a transição do futebol juvenil para o futebol sénior, tem diferentes estados de preparação. Há jogadores que podem estar logo preparados com 17, 18 anos. Há jogadores que têm um estado de maturação mais tardio, e isso não os pode impedir de atingir esse patamar. Portanto, a criação dessas competições foi uma mais-valia para clubes como o Benfica poderem reter e dar mais condições, mais possibilidades para o desenvolvimento dos jogadores. Para nós é fundamental a presença da nossa equipa B na Liga 2. Acho que foi um upgrade muito grande quando se criaram as equipas B, e o Benfica foi um dos pioneiros no seu regresso. Temos conseguido e feito tudo para que esse espaço competitivo se mantenha sempre no nosso desenvolvimento de jogadores. A Liga Revelação chegou mais tarde, e é bom que exista mais um espaço para os jogadores um pouco mais retardados no seu processo de evolução, que possam ter patamar intermédio entre o escalão de júnior e a Liga 2. Nos últimos anos, vários jogadores que chegaram à equipa principal e que inclusive já saíram, passaram por esse patamar e, portanto, têm sido acrescentos na nossa capacidade de reter e de ajudar os jogadores a desenvolverem as suas competências para o futebol profissional.

- O momento em que o jogador assina o primeiro contrato profissional, na sua opinião como treinador, é o mais decisivo, para ter uma carreira em que eventualmente começa a dar cada vez mais, a aumentar o rendimento para chegar lá acima? Como é que o Benfica trabalha isso?
- O momento do primeiro contrato profissional, acho que é o momento em que os jogadores deixam de ver o futebol exclusivamente como um hobby, como algo de que eles gostam e para entenderam que o que têm como sonho, pode ser uma realidade. Mas eu não digo que seja o momento mais importante, porque formar jogadores de futebol, é um processo contínuo e não há um momento pico de exigência ou de importância no desenvolvimento, que tem de ser gradual. Agora, também é nesse momento que todos nós que estamos à volta do jogador temos de os ajudar a gerir as expectativas, porque não é pelo facto de terem atingido o contrato profissional que têm capacidade para serem jogadores profissionais de futebol no futuro. O caminho ainda é muito longo. Muitos jogadores fazem contratos profissionais a partir dos 16 ou dos 18 anos…
- E alguns também ficam pelo caminho também.
- E há muitos que ficam pelo caminho. O caminho é muito longo e eles têm que ter a consciência que não atingir do objetivo, foi mais um passo para o objetivo e para o sonho.
- Qual é a estratégia que se tem nesse patamar de transição, de juniores para o futebol profissional? Há uma estratégia definida para potenciar ainda mais as qualidades de cada um deles?
- A exigência e o rigor são maiores. Os jogadores, até por questões de maturação, passam a perceber que todas as ações que têm, quer em treinos, quer na sua vida pessoal, têm influência naquilo que pode ser o atingir ou não do objetivo ou do sonho. Portanto, cada vez mais rigor, cada vez mais exigência. Há um constante, acompanhamento pessoal, psicológico, físico, que orienta os jogadores para que eles consigam atingir os objetivos. Cada vez mais se aproxima do jogador para lhe mostrar o caminho que ainda lhes falta para atingir o sonho.
"A nossa liga é um bocadinho refém daquilo que financeiramente é o país".
Infelizmente, o futebol português não consegue reter o talento. Com tantos jogadores que já lhe passaram pelas mãos e com o sucesso de uma enorme maioria deles, onde é que nós estaríamos se o futebol português conseguisse absorver todo esse talento? Alguma vez pensou nisso?
- Isso dá a entender que o futebol português não está num nível consentâneo com aquilo que tem sido o sucesso. E poderíamos dizer que se calhar a nossa liga não é reconhecida como uma das maiores a nível mundial. Mas eu acho que isso tem a ver também com fatores económicos, que também são influenciados pela grandeza e pela capacidade financeira que o país em si tem. Porque, em termos de seleções, qualquer seleção portuguesa, da principal até às jovens, são das que melhores resultados obtêm.
- E o Benfica tem lá imensos jogadores…
- E o Benfica tem lá imensos jogadores. Os treinadores são reconhecidos pelo mundo inteiro. Os jogadores, individualmente, jogam em todo o lado. Portanto, eu acho que Portugal, neste momento, está no topo das referências daquilo que é o futebol mundial em todas as áreas. Se calhar a Liga Portugal, e não exclusivamente por culpa do futebol em si, ou dos jogadores, ou dos treinadores, ou do que seja, acho que é influenciado pela capacidade financeira que o país também tem e por isso, não consegue competir com outras ligas que fazem parte de países com uma dimensão, geográfica e financeira diferentes. Eu não menosprezo aquele que é o nível e tamanho daquilo que o futebol português atingiu em termos internacionais. A nossa liga, eu acho que é um bocadinho refém daquilo que financeiramente é o país.
- O Benfica já venceu a Youth League, acredita que há potencial para voltar a vencer?
- O resultado desportivo deriva de fatores que às vezes são tão multifatoriais. Aquilo que eu sei e aquilo que eu sinto aqui todos os dias é que não houve até agora, desde que o Benfica começou a participar na Youth League, nenhum ano em que o Benfica não tivesse uma equipa com nível para competir com qualquer equipa na Europa. Eu não tenho dúvidas que o nível qualitativo do jogador formado no Benfica e das equipas, no seu conjunto, todas as épocas dão-nos garantias para sermos competitivos e jogarmos de olhos nos olhos com qualquer equipa na Europa, inclusive. Porque nós temos essas experiências quando participamos em torneios internacionais. Nós somos competitivos com qualquer clube e somos reconhecidos pelos outros nesse sentido. E, portanto, sim, respondendo concretamente à pergunta, acho que nós temos condições para voltarmos a estar presentes numa final four e lutar pela conquista da Youth League, mas como é óbvio, e sendo futebol, há tantos fatores que depois podem determinar se conseguimos ou não. Mas sim, sem dúvida que sim.
