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Exclusivo com Marinho: "Rui Vitória foi um anjo que me foi caindo nos momentos certos da carreira"

Marinho com a braçadeira de capitão da Académica
Marinho com a braçadeira de capitão da AcadémicaAcadémica

Marinho é um nome incontornável da história da Académica de Coimbra. Em 2012, foi dele o golo que valeu aos estudantes a conquista da Taça de Portugal, no Jamor, frente ao Sporting, clube onde foi formado. O agora comentador de futebol na televisão e na rádio esteve à conversa com Pedro Castelo, onde destacou o papel que Rui Vitória teve na sua carreira de jogador, técnico que o orientou no Vilafranquense e no Fátima, antes de se estrear na Liga Portugal pela Naval. Sobre a temporada atual, Marinho olha para o Sporting como o principal candidato à conquista do título nacional.

- Aos 41 anos como olhas para a carreira e o ponto alto, que muita gente deve continuar a falar-te sobre isso, o golo no Jamor (com a Académica) que é algo que fica para a memória de todos os adeptos?

- Em relação à minha carreira e ao que fui fazendo… podia ter sido melhor, podia, mas a verdade é que houve ali uma altura em que podia ter sido bem pior. Muitas dúvidas, muitas dificuldades.

- Que altura?

- Principalmente quando acabo a formação no Sporting e vou cair na terceira divisão. Ainda fui apanhar campos pelados e vinha de 10 anos de formação do Sporting onde não faltava nada e às vezes até tínhamos demais. Mesmo assim consegui lutar, subir um patamar e no ano seguinte, em que estou muito bem, aparece o serviço militar obrigatório e a meio da época tive de arrancar para Elvas e deixar o Vilafranquense. Felizmente correu tudo bem, consegui fazer praticamente todos os jogos, mesmo não treinado com a equipa todos os dias. São histórias engraçadas.

- Para quem não sabe, tu nessa altura apanhas o início da carreira do Rui Vitória

- Sim, e eu costumo dizer, a brincar, mas muito a sério, que o Rui Vitória foi um anjo que me foi caindo nos momentos certos da minha carreira. Esse foi o primeiro, em que me puxa para o Vilafranquense. Não faço ideia como ele se lembrou de mim, a carreira dele foi ali, e lembrar-se de alguém que fez a formação no Sporting e estava desterrado a jogar na terceira divisão, em Santiago do Cacém… Foi difícil, mas ele lá se lembrou, o telefone tocou e eu aceitei, longe de saber a carreira de sucesso que ele ia ter.

- Uma carreira que fica marcada pelo lançamento de muitos jovens..

Eu se não fui o primeiro, fui dos primeiros. Mesmo nesse ano, com muita dificuldade, eu chego a novembro e começo a treinar à sexta-feira ao final do dia e sábado com a equipa e ele nunca me deixou cair. É verdade que o rendimento que ia tendo ajuda a isso, mas era o mais fácil deixar cair alguém que não treina com a equipa para segurar o grupo. Ele já tinha esse jogo de cintura, percebia o balneário, o balneário também ajudou e percebia a minha situação. Desde cedo que dava para perceber que era uma pessoa especial, principalmente na forma de liderar, não no grito, no berro, mas pelo exemplo, proximidade. Foi um ano muito importante para mim. Volto a cruzar-me com ele dois anos depois, em que subo de divisão com o Olivais e Moscavide e acabo por não ficar no clube por várias razões, com a ilusão de poder jogar patamares mais acima e fui rejeitando convites, um deles foi o do Fátima de Rui Vitória. Acabei por lhe voltar a ligar, ele disse que tinha lugar para mim, não nas condições que me tinha colocado antes e eu agarrei a oportunidade como se fosse a última. E sentia que era a última, porque estava a chegar à idade em que tinha de chegar a um patamar interessante na carreira ou virar para outro lado. Aproveitei bem e foi com o Rui Vitória onde consegui aparecer e chegar à primeira divisão.

Marinho em conversa com o Flashscore
Marinho em conversa com o FlashscoreOpta by Stats Perform

- Onde representaste a Naval e Académica, e és uma figura muito ligada a este clube onde estiveste desde 2011 a 2019. Naquela zona do país o que recordas com mais carinhos?

Há uma coisa que não consigo dissociar da Figueira da Foz e de Coimbra. Os meus filhos vieram nascer a Lisboa, mas no fundo são filhos daquela zona, foi ali que cresceram, mais em Coimbra, mas as pequenas conquistas em família, e eu tinha casado pouco tempo antes, a minha vida como homem casado começou ali. Depois disso vieram as amizades, as conquistas, algumas tristezas, faz parte do futebol. Fiquei muito ligado aquela zona do país. Ficando ligado a um título com a Académica não há como fugir a isso e serei sempre mais recordado com isso do que com a Naval onde conseguimos chegar a uma meia-final da Taça de Portuga (eliminado com o Chaves). Eu cheguei a Coimbra em 2011, deixei de jogar me 2019, continuei a ligado à estrutura da Académica mais dois anos, mas chego à Figueira em 2008, a minha ligação com aquela zona já durava há mais tempo..

Os últimos anos da carreira de Marinho
Os últimos anos da carreira de MarinhoFlashscore

- Agora é esta fase de comentador, como tem corrido, era algo que pensava antes?

- Não era nada que eu alguma vez tivesse pensado, longe disso. Apareceu de forma simples, os meus pensamentos iam noutra direção, mas fui desafiado como convidado a ir a um programa, as pessoas gostaram e depois lançaram-me o convite se estava interessado em comentar jogos. Nunca tinha feito, nunca tinha pensado como se fazia, o trabalho que dava preparar o jogo, mas estou a gostar muito, os desafios têm sido constantes, o crescimento tem sido interessante. Quem veio do zero e em dois anos já fazer jogos com mediatismo grande, ter a oportunidade de fazer um Sporting – Benfica é muito interessante e acaba por deixar o bichinho. Agora percebo quando me falam do bichinho da rádio.

- Falaste de jogos entre candidatos, por isso queria perceber a tua opinião sobre esta edição do campeonato e se há um grande candidato?

- A partir do momento em que o Sporting é campeão nacional, tem que ser o alvo a abater, supostamente a equipa mais preparada. Na realidade era, estavam acima de Benfica e FC Porto. A saída de Ruben Amorim veio abanar. Contudo, o facto de Benfica e FC Porto não estarem tão estáveis acaba por dar a margem ao Sporting que, mesmo com alguns erros, consegue manter essa distancia. Está tudo em aberto, faltam muitos jogos. Já se percebeu que o campeonato está nivelado por baixo, mesmo os próprios grandes com muitas dificuldades – o turbilhão com o Benfica, as mudanças de treinadores que já tiveram, mostra a irregularidade. Poderia ser um ano para o SC Braga aproveitar, mas também não estão ao nível que estiveram. Vão aparecendo surpresas como Casa Pia e Santa Clara e há qualidade aí.