Nesta entrevista ao jornalista João Paulo Ribeiro do Flashscore, Seba Pérez faz uma viagem pelo passado, fala da sua passagem pelo Boavista e projeta o futuro, no seu novo emblema.
"Fui muito feliz no Boavista e só tenho palavras de agradecimento para os adeptos"
- Como está a ser a nova realidade no Casa Pia?
É uma realidade diferente. Vinha do Boavista e encontrei uma equipa muito organizada, para um novo desafio. Estou a gostar muito da cidade, da equipa, da estrutura… Para já, está tudo a correr muito bem.
- O que é que está a achar da equipa e que ambições têm para esta temporada?
Temos muita qualidade. Chegaram vários jogadores novos e estamos todos a tentar adaptar-nos o mais rápido possível, porque o campeonato já começou e queremos, obviamente, somar o maior número de pontos possível, quem sabe até mais do que na época passada, que foi muito boa para o Casa Pia. Estamos a trabalhar para isso.
- Vem do Porto para Lisboa. Como tem sido a adaptação para si e para a sua família?
- Sim, já conhecemos alguns sítios e estamos a gostar muito. Lisboa é muito diferente do Porto: maior, com muito mais movimento, mas estamos a adaptar-nos bem. A minha família gosta bastante e o meu filho adora a cidade. Com mais tempo, vamos explorar ainda mais lugares.

- Seis anos em Portugal e já é quase português. No Boavista foi capitão e ídolo dos adeptos. Espera também deixar a sua marca no Casa Pia?
- Fui muito feliz no Boavista e só tenho palavras de agradecimento para o clube e para os adeptos, que sempre me fizeram sentir em casa. É verdade que as coisas acabaram de forma menos positiva, mas dentro de campo sempre dei o meu melhor. Agora, no Casa Pia, quero também deixar uma boa imagem e elevar o nome do meu país o mais alto possível. Para isso, é treinar, trabalhar com humildade e sacrifício. O resto virá naturalmente.
"Antes de vir para Portugal falei com o Uribe"
Quando veio para Portugal, falou com outros colombianos?
Sim, falei com o Uribe, que na altura jogava no FC Porto. Ele falou-me da cidade e da Liga portuguesa, ajudou-me muito a tomar a decisão de vir para cá.
Foi campeão na Colômbia, na Argentina e venceu uma Libertadores. Espera manter esse nível agora no Casa Pia?
Claro. Sei que é uma realidade diferente, com objetivos diferentes, mas ainda me sinto jovem e tenho muito futebol para dar. Quero ajudar o Casa Pia, somar minutos, contribuir para a equipa e, passo a passo, alcançar coisas boas.

Também teve experiências no México e no Equador. Como foram essas fases?
No México foi complicado porque vinha de uma lesão grave no joelho. Estive lá quatro ou cinco meses, joguei pouco e decidi ir para o Barcelona de Guayaquil, no Equador, um clube enorme. Aí tive continuidade, fiz mais de 30 jogos e voltei a sentir-me importante. Depois regressei ao Boca Juniors, chegou a pandemia e as coisas mudaram. Foram etapas diferentes, mas em todos os clubes aprendi muito.
Isso ajudou-o a evoluir como jogador?
Sem dúvida. Mesmo quando não jogamos muito, aprendemos fora de campo. Em todos os clubes tirei coisas positivas.
"É fácil falar de Messi ou Neymar, mas fiquei muito impressionado com Vitinha"
- Voltando ao início: como foi começar no Atlético Nacional?
Entrei no clube com 12 anos, muito novo. Era o sonho de muitos miúdos do meu bairro, em Medellín, e nem todos conseguiram. O caminho é difícil, mas foi uma fase bonita. Conheci muitos campos, fiz amizades e, aos 17, consegui estrear-me na equipa principal. Sou adepto do Atlético Nacional e terminar essa etapa com uma Libertadores foi incrível.
- Pensa um dia voltar ao Atlético Nacional?
Talvez, sim. Gostava que o meu filho me visse jogar com aquela camisola. Mas isso só vai acontecer se me sentir bem física e mentalmente. Se um dia sentir que não tenho motivação, prefiro terminar a carreira.
- Jogou com e contra grandes nomes. Quem mais o impressionou?
É fácil falar de Messi ou Neymar, mas fiquei muito impressionado com o Vitinha quando cheguei a Portugal, pois jogava com uma destreza incrível. Não o conhecia, mas desde cedo mostrou uma qualidade incrível no FC Porto. Para mim, é um dos melhores médios da atualidade.

- Então não fica surpreendido com o que ele está a fazer no PSG?
Nada. Já naquela altura via que tinha potencial para chegar ao topo. Está a jogar muito, foi nomeado para a Bola de Ouro e merece tudo o que está a conquistar.
- Como se define como jogador? Tem atuado em várias posições no meio-campo…
No futebol moderno, os médios têm de ser completos. Hoje sinto-me confortável a jogar mais central, mais pausado, ao lado de um médio mais ofensivo. No Boavista também cheguei à área e marquei sete golos. Aqui no Casa Pia, jogamos com dois médios, e provavelmente serei o mais recuado, o mais fixo.
Está preparado para o que o treinador pedir?
Claro. Trabalhamos de acordo com a estratégia do mister. Nuns jogos podemos atuar mais avançados, noutros mais recuados, mas estou preparado para fazer as duas funções.
"Tenho a certeza que a Colômbia vai estar no Mundial"
- Falemos da seleção colombiana. Como vê o momento atual da equipa?
É normal haver fases assim. Os jogadores chegam à seleção de quatro em quatro meses e o nível varia. Temos nomes como Luis Díaz, Durán e Richard Ríos, do Benfica, que estão a fazer um grande trabalho. Criamos muitas oportunidades, mas falta eficácia. Ainda assim, tenho a certeza de que vamos estar no Mundial.
- E você, ainda sonha voltar à seleção?
Por agora, não penso nisso. Sinto-me feliz por ter representado o meu país e por ter marcado com aquela camisola. Se um dia me chamarem, estarei disponível e orgulhoso, mas neste momento sou mais um adepto.
- Tem contacto com outros colombianos que jogam em Portugal?
- Falo mais com o Devenish, do Aves, com quem joguei no Boavista. Com os outros não tanto, mas há sempre respeito entre nós. O futebol colombiano está a crescer, e isso é bom para todos.

- É uma satisfação ver tantos colombianos a jogarem na Europa?
- Sim, muito. Quando eu era criança, eram poucos os colombianos na Europa. Agora, há jogadores nossos por todo o mundo. Mostrámos qualidade, profissionalismo e mentalidade positiva. Isso abriu portas para as novas gerações.
- Quais são os seus maiores sonhos no futebol e na vida?
Tenho muitos. No futebol, quero ajudar o Casa Pia, fazer muitos jogos, somar pontos e deixar o clube numa boa posição. Na vida, quero que a minha família esteja bem e tenha orgulho do que fiz quando terminar a carreira.
- É feliz aqui?
Muito feliz. Já é a minha sexta época em Portugal e continuo com a mesma alegria de quando cheguei.