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José Mourinho: "Olhar para o banco e ver o Barreiro com 25 anos a ser o avô..."

José Mourinho, treinador do Benfica
José Mourinho, treinador do BenficaPATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP / AFP / Profimedia

Leia abaixo as declarações de José Mourinho, treinador do Benfica, depois do triunfo diante do Gil Vicente, por 2-1, na abertura da 7.ª jornada da Liga Portugal.

Recorde as incidências da partida

Análise ao jogo: "Na globalidade não é o Benfica que queremos, nem eu, nem os jogadores nem ninguém. À Benfica foi o esforço, entrega, sacrifício. A equipa está esgotada. Há jogadores verdadeiramente esgotados. O Gil é uma ótima equipa, mas estas ótimas equipas têm uma semana para preparar jogos, detalhes, bolas paradas. É uma coisa que vivi enquanto treinador do Leiria. Vivi isto e joguei olhos nos olhos com os grandes. A pressão é tremenda. Há jogadores em dificuldade. Felizmente para o próximo jogo são 3 dias. Perdemos bola, tivemos pouca bola. Ficam os pontos que neste momento são importantíssimos, romper com os jogos em casa sem ganhar. Gente esgotada, mas com caráter. Tenho prazer em defender os que são atacados. O Richard Ríos deu uma certa segurança, num meio campo sem o Enzo (Barrenechea)."

Substituições na equipa: "O Sudakov estava em dificuladade. O Schjelderup é o Schjelderup. É um jogador que tem dificuldade em 90 minutos, dificuldade em intensidade, sacrifício de transições, é um jogador de bola no pé. O Lukebakio... disse que a gasolina não ia durar. Podia tê-lo no banco, mas preferi começar com ele e olhar para o banco e ver o (Leandro) Barreiro com 25 anos a ser o avô porque o resto tinha entre 19 e 21 anos. Com este tipo de atmosfera, meter os miúdos era complicado. Entrou o Barreiro para ter solidez. O Tomás (Araújo) não é lateral, mas tem capacidade no jogo aéreo. Como lhes disse, sempre que pudermos jogar para a frente, jogamos. Quando chega ao minuto 80/85 não se podem sofrer golos e hoje houve mais pragmatismo. Três pontos, que é o mais importante."

Agora três deslocações difíceis: "A equipa neste momento não tem identidade. Vive numa zona cinzenta entre ideias do treinador anterior e as minhas. Há contradições e isso não é fácil de ultrapassar. Não temos trabalho de campo. Vamos pensar num jogo de cada vez. Sabemos que jogamos com equipas fortes no seu estádio, ao qual juntamos o Chaves, mas felizmente não há lesões. Recuperamos o Enzo (Barrenechea) que estava em extremas condições de fadiga. Alguns a roçarem o risco de lesão. O que bom fizemos foi a resiliência e mentalidade."

Equipa ainda "sem morder": "Para morder muito precisas de boa condição física e frescura que nós não temos. A equipa está cansada, à segunda já começa a ser difícil e à terceira já é quase impossível. Tive essa experiência no Leiria, quando há qualidade que é o caso do Gil, do treinador, podem jogar olhos nos olhos com os grandes quando estão em dificuldade, e nós estamos em dificuldades. Agora com três dias já podemos limpar um bocadinho a fadiga. Sem morder muito, foram resilientes. À Benfica o espírito, a resiliência, o lutar pelo Benfica. Depois não se jogou à Benfica, não se pensou à Benfica, faltou qualidade individual e coletiva. Mas o importante eram os três pontos e conseguimos, contra equipa muito boa."

Gil Vicente de César Peixoto coincidiu com o que esperava? "Não coincide porque ele tinha 21 anos com todos os defeitos dos jogadores de 21 anos, ele reconhece. Estivemos a conversar antes do jogo. Reconhece que é um período diferente. Estive na operação ao ligamento cruzado dele, e ajudou-me muito. Eu era daqueles que queria que recuperassem depressa, depois disso comecei a ser mais equilibrado. Perguntei se gostava e ele disse que gostava muito, mais que quando jogava e isso é o que um treinador precisa. Não me surpreendeu, é o que vi desde o início do campeonato, tem qualidade para olhar para cima, não tem medo de descida de divisão. Jogadores frescos contra jogadores mortos faz diferença significativa. O Ríos foi muito importante porque foi o que conseguiu equilibrar as transições. Depois os alas, do ataque, não tinham - um por caráter e o outro por físico - para 90'. Entrámos depois numa fase em que era preciso ser humildes, não podíamos sofrer golos e gerimos no fim até o jogo acabar."

Escolhas nas alas do ataque: "O Ivanovic na direita não consegue, perde muito a bola. Fui com o Lukebakio, pensei mais na primeira parte. Queres segurar, mas, ao mesmo tempo, ter alguém que possa atacar e ser perigoso, por isso deixei-o um bocadinho mais."

Por que não guardá-lo? "Você vai-se rir, mas o objetivo era começar bem. E quem começou bem foi o Gil. Queríamos começar forte, não começámos. Mas tivemos gente em campo para dar boa resposta. O movimento que faz no penálti só ele nesta equipa consegue, movimento profundo, controlo é ótimo. Quis jogar com ele de início para começar bem, não temos alas puros em abundância. Quis dar largura. O Gil defende com quatro e quando sai deixa a equipa não muito bem preparada para a transição. Pensei que podia fazer mais golos."

Passou de Special One a Practical One? "Para mim pragmatismo é levar o jogo para onde queremos, é mais controlo. E não levámos para onde queremos. Depois vai de encontro à pouca energia, à pouca velocidade. Depois meti o Tomás a lateral porque fecha melhor o espaço, onde fizeram o golo anulado, receei que pudesse acontecer algo por ali. Acho que o pragmatismo acontece em momentos do jogo, mas não como filosofia. Há momentos e neste momento foi importante para nós."

Cumprimento ao apanha-bolas: "Ele estava ali... não sei se são da academia, mas são miúdos que vivem o clube. Estão ali a sofrer e, ao mesmo tempo, a sonhar. O caso mais bonito era o Pep Guardiola que era apanha-bolas do Barcelona e passou a ser grande jogador e grande treinador do clube. É bonito que os jogadores lhe façam uma prenda, um cumprimento. Para os miúdos é engraçado."

A equipa precisa de uma cirurgia? "Não há tempo para grandes cirurgias, no máximo um bocadinho de botox em alguns lugares para mudar a forma e dar juventude. A equipa é jovem, mas precisa de juventude ao nível da energia. O Aursnes é pau para toda a obra, joga 40 ou 50 jogos por época em ritmo altíssimo e teve dificuldades. A equipa precisa de descansar, depois aumentar os níveis de confiança. Eu preciso de os conhecer melhor e eles a mim. Não há dois treinadores iguais, com ideias iguais. Quando convergem e quem chega fica contente a deixar continuarem princípios, é bom. Mas quando quer mudar, não pode mudar assim. Os jogadores precisam de tempo. Falam da chicotada psicológica, eu digo chicotada metodológica, pensar e trabalhar de forma diferente. Hoje eu e o meu staff não dormiremos a preparar o próximo jogo. Não é fácil."

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