Entre duas lesões graves, momentos de dúvida, golos emotivos e uma resiliência sem fim, Miguel Reisinho deixou o seu nome gravado na história do Boavista. Seis anos depois de ter chegado ao Bessa com uma mala cheia de sonhos, o médio parte com a consciência tranquila e a certeza de que aquilo que leva (e aquilo que deixa) vai muito além das quatro linhas.
O agora ex-camisola 10 axadrezado recorda uma temporada marcada por enormes dificuldades no emblema portuense, que terminou com a descida de divisão, e aponta a um futuro que, espera, passe por fora de Portugal. Aos 26 anos, Reisinho procura um projeto sólido, que lhe permita continuar a viver o sonho do futebol, com ambição renovada e cabeça limpa.

"Só um grupo com grandes homens conseguiria lutar até ao fim"
- Miguel, a temporada terminou sensivelmente há um mês. Como é que tem vivido este período e que reflexões tem feito desde então? Imagino que tenha sido uma época bastante desgastante, sobretudo, e corrija-me se estiver enganado, a nível mental, até porque terminou, infelizmente, com a descida do Boavista.
- Sim, sem dúvida. Foi uma época muito desgastante, tanto a nível físico como mental. Não apenas pelos motivos que todos conhecem e que o clube tem vindo a ultrapassar, mas também pelas dificuldades que enfrentámos. Não pudemos inscrever jogadores. A equipa tinha uma base, é verdade, mas houve muitas entradas de jogadores novos, o que tornou tudo mais complicado. Ainda assim, acima de tudo, a equipa mostrou caráter. Só um grupo com grandes homens conseguiria lutar até ao fim, nas condições em que estávamos. Esta época fica marcada pela descida, é certo, mas também pela forma como conseguimos mostrar o nosso valor e fazer com que todos acreditassem que o impossível podia tornar-se realidade, mesmo que, infelizmente, não tenha sido possível. Saímos de consciência tranquila, porque demos tudo o que tínhamos.
- Já vamos falar um pouco mais sobre a última temporada, mas gostava de lhe perguntar, em jeito de balanço: foram seis anos ao serviço do Boavista e, nos dias de hoje, isso é quase uma vida no futebol. Não é muito comum vermos um jogador permanecer tanto tempo num só clube. Que memórias é que mais o marcaram ao longo desses seis anos?
- Foram momentos de grande aprendizagem. Tive fases boas, outras menos boas, como é normal. Mas, acima de tudo, levo comigo os valores do clube e a sua mística. Desde o primeiro dia senti isso, pois fui sempre muito acarinhado. Também procurei sempre dar o meu melhor para ajudar o clube. Foram seis anos de uma história marcante, cheia de lições. Sinto que o clube me ajudou muito e que eu também dei o meu contributo. Poderia falar de muitas situações concretas, mas o que fica mesmo é essa identidade, a mística e a paixão que fazem do Boavista um clube especial. E tudo se torna ainda mais especial quando estamos lá dentro.

- Já tocou aí em alguns pontos, mas gostava de lhe perguntar: em que aspetos é que sente que mais evoluiu, tanto como jogador como enquanto pessoa? No fundo, passaram seis anos, que fazem naturalmente diferença na sua idade e percurso. O que é que sente que mudou desde que chegou ao Bessa?
- Acima de tudo, cresci como pessoa, como homem. As dificuldades que enfrentei ajudaram-me a evoluir. Passei por momentos complicados, como lesões, e nesse ciclo acabei por me transformar, tornei-me alguém mais maduro. Aprendi a ver as coisas com outra perspetiva e a dar valor a aspetos da vida que antes talvez não valorizasse tanto. Em relação ao Boavista, poderia destacar muitos momentos, mas o que realmente fica são os valores do clube. Quem está por dentro sabe o quanto isso é importante e marcante.
- Falava há pouco dos momentos difíceis, e é inevitável recordar essa fase. Foi ali entre 2020 e 2021, numa altura que acredito ter sido muito importante para si, numa fase de afirmação como atleta sénior, já numa realidade de Liga. Foram lesões muito próximas, ou seja, ainda estava a recuperar de uma e, pouco tempo depois, surge outra. Agora, com algum distanciamento, como é que recorda esses momentos? E o que é que o ajudou a dar a volta, para conseguir, por exemplo, nas últimas duas épocas, apresentar números tão interessantes?
- Após a minha primeira lesão encarei tudo com muita positividade e sempre acreditei que iria recuperar bem. Era uma lesão comum no futebol atual, muitos jogadores já tinham passado por isso, por isso nunca duvidei que conseguiria voltar ao meu nível. Já a segunda lesão foi diferente. Tive uma conversa importante com os médicos e percebi que a minha carreira podia estar em risco, por ser no mesmo joelho. Sabia que, se a recuperação não fosse bem feita, se os timings não fossem respeitados, seria muito difícil voltar ao nível que eu desejava.
Felizmente, correu tudo bem. Recuperei bem. A nível mental foi um desafio duro, mas hoje sinto-me muito mais preparado para lidar com qualquer adversidade. Trabalhei bastante esse lado também. Fisicamente, estou bem, sem dores, sinto-me praticamente como estava antes e isso, para um jogador, é fundamental. Sinto-me limpo, que é o mais importante, e pronto para o que aí vem.
- Se calhar, na altura, o grande desafio era mesmo perceber como é que iria reagir no regresso, não é verdade? Mas agora, passados alguns anos, sente-se completamente tranquilo? Já não há qualquer medo em relação ao que viveu?
- Não, não foi fácil. Os primeiros tempos, os primeiros meses, são muito complicados. O corpo está a adaptar-se novamente, o joelho também, e, quer se queira quer não, há sempre algum receio. Já tinha passado por isso uma vez, era a segunda, e havia sempre aquele medo de poder acontecer uma terceira.
Mas hoje, felizmente, sinto-me completamente limpo a nível mental. Já não tenho receios, não há medos. E isso foi fundamental. Acho mesmo que esta lesão foi das que mais me fez crescer, não só como homem, mas também como jogador. Comecei a ver o jogo, e a vida, de outra forma. Coisas que naquela altura talvez não conseguisse perceber, hoje consigo.

"Desde o início da época já estava alinhado que esta seria a minha última temporada no Boavista"
- No final da época passada teve a felicidade de marcar aquele golo que acabou por garantir a permanência do Boavista. Este ano, apesar de todos os esforços, tanto individuais como coletivos, isso infelizmente não foi possível. Já falámos aqui de como foi uma época difícil e emotiva, algo que também referiu na sua carta de despedida. A minha pergunta é: independentemente do desfecho desta temporada, já sentia que esta poderia ser a sua última época no Boavista?
Sim, desde o início da época já estava alinhado que esta seria a minha última temporada no Boavista. Independentemente de o clube se manter ou descer, como infelizmente acabou por acontecer, a decisão já estava tomada. Sentia que era o momento certo para dar um novo passo na minha carreira, abraçar outros projetos e procurar novos desafios. Portanto, não foi uma decisão influenciada pelo desfecho da época, mas sim algo que já estava pensado há algum tempo. Claro que não era desta forma que queria terminar - gostava de ter deixado o clube na Liga, ainda por cima depois de seis anos de ligação tão forte e especial. Infelizmente não conseguimos, mas sigo o meu caminho com a consciência tranquila e com a certeza de que o Boavista vai voltar ainda mais forte à Liga.
- Miguel, já falámos bastante sobre esta época… Se tivesse de a descrever numa só palavra, qual seria?
- Resiliência. Uma época de muito trabalho, de grandes sacrifícios e de muitas coisas que, muitas vezes, passam despercebidas aos olhos de quem está de fora, mas que foram feitas com dedicação. Acredito que, se o Boavista tivesse conseguido manter-se na Liga, teria ficado marcado na história, não só do clube, mas também do futebol português.
- Foram públicas as várias dificuldades que enfrentaram ao longo das últimas épocas. Como é que, internamente, enquanto jogadores, foram lidando com tudo isso? A situação já era, por si só, delicada e o foco tinha de estar em ganhar jogos e conquistar pontos, mas imagino que não tenha sido fácil abstrair-se do que se passava à vossa volta.
- Como disse, tínhamos um grupo de homens com um enorme caráter. Independentemente das dificuldades, nunca nos escondemos de nada. Podia estar a acontecer muita coisa no clube - algumas conhecidas, outras nem tanto - mas, quando chegava o dia do jogo ou a hora do treino, dávamos sempre tudo de nós. Isso sentia-se no balneário, no relvado, no ambiente. O clube exigia isso, os adeptos também. E o grupo respondia sempre da melhor forma. Nos momentos mais complicados, era quando mais nos uníamos e mais caráter mostrávamos e isso foi, sem dúvida, a imagem deste grupo.
- E Miguel, sendo um dos jogadores mais antigos do plantel, como é que viveu a chegada dos reforços, sobretudo depois de todo aquele período complicado em que nem era possível inscrever jogadores? De repente, chegam vários jogadores de uma só vez, alguns deles até com nomes bem consagrados, com passagens por grandes clubes. Como é que o grupo lidou com essa mudança e como foi essa integração dentro do balneário?
- No início, para ser honesto, nem acreditávamos muito. As notícias iam surgindo, eram nomes bastante sonantes, e havia algum ceticismo no grupo. Mas, à medida que começaram a chegar e quando o próprio presidente nos disse que ia conseguir inscrever jogadores, ficámos naturalmente entusiasmados. Queríamos reforços, claro e sabíamos que era importante ter mais opções para ajudar a equipa. E, pelos nomes que se falava, a expectativa ainda aumentou mais.
Eles vieram, deram o seu contributo, nós também fizemos a nossa parte. Infelizmente, não conseguimos o objetivo, mas vimos sempre essas chegadas com bons olhos. Toda a ajuda era bem-vinda naquela fase.
- E a nível técnico também houve muita instabilidade. Certamente não deve ser fácil, para um jogador, estar constantemente a lidar com mudanças de treinador. Como é que foi esse processo para si e para o grupo?
- Como costumo dizer, quando há mudanças de treinador é sinal de que as coisas não estão a correr como se gostaria. Ainda assim, cada um, à sua maneira, ajudou-nos muito ao longo da época. O Mister Bacci, que começou a temporada, fez um trabalho incrível antes de sair. Depois, com a chegada do Mister Lito, um treinador que já conhecia, também sentimos o seu impacto e o contributo que trouxe à equipa.
Mais tarde, com a entrada do Mister Baxter, fui surpreendido pela positiva. Ajudou-nos bastante, tentou tudo o que estava ao seu alcance, tal como os outros, mas, infelizmente, não foi suficiente. Todos deram o máximo, como nós também demos, mas nem sempre o esforço se traduz nos resultados que desejamos.

- Sabemos que o Boavista é um clube histórico em Portugal, com uma grande tradição e uma massa adepta muito apaixonada. O que é que tem a dizer aos adeptos, especialmente agora, num momento em que muitos perderam alguma fé no futuro do clube?
- É verdade. O que posso dizer aos adeptos, em primeiro lugar, é pedir desculpa por não termos conseguido alcançar o objetivo. Em segundo lugar, deixar uma mensagem clara: nunca deixem de acreditar no clube nem em vocês próprios. Nós, dentro de campo, sentíamos a força deles e sei que essa força não é só importante para os jogadores, é essencial para o clube.
Nestes seis anos, levo comigo um carinho muito especial pelos adeptos do Boavista. Foi um clube que me marcou profundamente. Tenho a certeza de que eles não vão abandonar o clube. São adeptos fiéis, que estão presentes nos bons e nos maus momentos. E é isso que desejo continuar a ver, porque o Boavista merece esse apoio incondicional.
- Acredita que foi essa resiliência e união dentro do grupo, entre jogadores, equipa técnica e também com os adeptos, que vos permitiu lutar até onde foi possível, mesmo perante todas as dificuldades?
- É verdade. Se, no início da época, me dissessem que íamos conseguir lutar até à última jornada, tendo em conta todas as dificuldades que enfrentámos, provavelmente não acreditaria. Mas foi precisamente essa resiliência e essa união, entre jogadores, grupo de trabalho e adeptos, que nos permitiu chegar tão longe na luta pela manutenção.
O que deixa mais tristeza é o facto de termos dependido de nós na última jornada… outros perderam, e nós não conseguimos ganhar. Podíamos ter feito história. Foi uma época extremamente desgastante a todos os níveis. Demos tudo o que tínhamos. E os adeptos também: apoiaram-nos sempre, estiveram connosco até ao fim. Só podemos agradecer por tudo o que fizeram e por toda a força que nos deram.
A vida segue, e acredito sinceramente que o Boavista vai voltar ao topo. É um clube grande e vai reencontrar o seu lugar.

"Têm surgido algumas propostas, mas ainda não tomei uma decisão"
- A vida segue, Miguel e o que é que segue agora para si, na sua vida e na sua carreira? Acredito que já tenha recebido algumas abordagens. Tem 26 anos, é ainda um jogador jovem, fez uma boa época e até terminou como o melhor marcador do Boavista, com cinco golos.
- Têm surgido algumas propostas, é verdade, mas neste momento ainda não tomei uma decisão. Optei por tirar estes dias para limpar a cabeça, recuperar física e mentalmente, e aproveitar o tempo com os meus amigos e a minha família. Não escondo que existem propostas em cima da mesa, mas o mais importante para mim agora é escolher um projeto estável, um projeto que me dê garantias, tanto a nível financeiro, como pessoal e desportivo. Quero pensar com calma e escolher aquilo que for melhor para a minha carreira.
- Neste momento, tem preferência por continuar a jogar em Portugal ou está mais inclinado para uma experiência no estrangeiro?
- Como disse, depois de tudo o que aconteceu com o Boavista, é difícil continuar em Portugal, não apenas pela situação do clube, mas também por tudo o que envolve o futebol português neste momento. Neste momento, estou mais inclinado para abraçar um novo projeto fora do país, talvez no estrangeiro. Mas, claro, vamos ver com calma o que o futuro reserva.
- Qual é o país que mais o seduz neste momento?
- Há vários países onde tenho curiosidade em jogar, mas talvez aqueles que mais me atraem sejam Itália e Espanha. São ligas que me interessam bastante, acompanho muitos jogos e identifico-me com o estilo de futebol que se pratica por lá.
- Falava há pouco sobre o facto de o futebol português ter-se tornado, neste momento, menos atrativo para si. Todas as dificuldades vividas e tudo o que gravitou à volta do Boavista contribuíram para lhe criar uma imagem mais negativa do futebol português?
- Não é uma questão de ter uma imagem negativa. Já são seis anos no futebol português, sempre na Liga, é muito tempo. Sinto que chegou o momento de abraçar um novo projeto, de conhecer outras realidades e outros ambientes. Já conheço bem o futebol português, e não é uma crítica, pelo contrário. Acredito que há muita qualidade por cá, muitos jogadores talentosos, e que o nosso futebol pode ser ainda melhor aproveitado. Mas, depois da forma como acabou a minha passagem pelo Boavista, sinto que preciso de um novo desafio fora de Portugal. Neste momento, é isso que procuro.

Elogios a Vitinha e o futuro: "Sinto-me pronto para novas experiências"
- Miguel, olhando agora um pouco para o início da sua relação com o futebol… Sei que o seu pai também jogou e, se não me engano, foi campeão da Segunda Liga pelo Paços de Ferreira na época 1999/2000, precisamente quando nasceu. Esse 'bichinho' foi-lhe incutido pela família desde cedo? E em que momento é que percebeu que tinha condições para chegar ao futebol profissional?"
- Desde muito pequeno que o futebol faz parte da minha vida. Os meus pais contam que eu ficava feliz só com uma bola, estava sempre a brincar com ela. Comecei a assistir aos jogos do meu pai desde muito novo, e a minha família, de forma geral, sempre foi muito ligada ao futebol, por isso o 'bichinho' começou cedo.
Segui o percurso normal, e quando cheguei ao Vitória SC comecei a encarar o futebol de forma mais séria. É um clube exigente, com uma massa adepta incrível, e isso ajudou-me a crescer. Aos 16, 17 anos comecei realmente a acreditar que poderia ser jogador profissional. Já competia a um bom nível no futebol nacional, que tem um papel importante na formação dos atletas. A partir daí, tudo foi acontecendo com naturalidade: jogava, treinava, dava o meu melhor, e as oportunidades foram surgindo.
- O Vitória SC, tal como o Boavista, é um clube histórico e, além disso, são rivais. Como é que recorda essa mudança na sua vida? Era ainda muito jovem, mas acabou por sair de um clube com grande tradição para outro igualmente marcante. Como é que viveu essa transição, especialmente tendo em conta essa rivalidade?
- Foi uma mudança natural. Na altura, estava em final de contrato e houve algumas situações que se passaram, o que me levou a tomar a decisão de seguir o meu caminho. Apareceu o Boavista, um clube histórico, como todos sabem, que já foi campeão nacional, e, para mim, foi impossível recusar. Queria jogar na Liga, ter outra visibilidade, e este era o passo certo. Independentemente de ser considerado um rival, encarei a mudança com naturalidade. Não vejo isso como uma traição, como às vezes se diz. Foi simplesmente o que tinha de acontecer naquele momento da minha carreira.
- Aos 26 anos, como é que se sente para abraçar novos desafios, mesmo que ainda não saiba exatamente onde será o próximo passo?
- Fisicamente e mentalmente, sinto-me totalmente capaz. A verdade é que os momentos menos bons acabaram por me fortalecer. Podia dizer o contrário, mas, olhando para trás, acho que foi importante ter passado por essas dificuldades. Ajudaram-me a crescer muito, como pessoa e como jogador. Hoje, com 26 anos, sinto-me preparado para qualquer desafio. Acredito que posso contribuir, não só em Portugal, mas em qualquer parte do mundo onde venha a abraçar um novo projeto. Acima de tudo, sinto-me pronto para novas experiências e para continuar a evoluir.

- Miguel, é claro que hoje em dia as pessoas podem ver o que faz em campo através de vídeos e estatísticas. Mas, para além disso, num clube para onde venha a ir, o que é que podem esperar de si? O que é que pode garantir, dentro e fora de campo?
- Sou uma pessoa muito tranquila, que se dá bem com toda a gente. Considero-me alguém humilde, que gosta de ajudar os outros, por isso, a nível de balneário e no plano pessoal, creio que vão encontrar alguém com valores bem vincados, que me foram incutidos desde cedo, e com muito respeito por todos. Dentro de campo, acho que continuarão a ver o jogador que sempre fui: alguém que tenta sempre mostrar o seu valor, que não desiste, que tem personalidade e, acima de tudo, que dá tudo de si para ajudar o clube que representa e defender os seus interesses.
- Já referiu que tem como objetivo jogar no estrangeiro e experimentar outras realidades. Mas para além disso, que outros objetivos ainda tem por concretizar? Há alguma lista definida, mesmo que seja só na sua cabeça?
- Como disse, as lesões ensinaram-me a focar-me no presente e não tanto no futuro. Na altura, isso fez toda a diferença, e ainda hoje continuo a pensar dessa forma. Claro que todos os jogadores têm objetivos que gostariam de cumprir, mas, sinceramente, neste momento não estou a pensar a longo prazo. Ainda nem pensei exatamente onde vou jogar a seguir. Quero apenas aproveitar este período de férias, desfrutar com os meus e recuperar energias. Acredito que os objetivos vão surgir naturalmente. Independentemente de querer ir para o clube A, B ou C, o que tiver de acontecer, acontecerá. E estou tranquilo quanto a isso. O mais importante agora é viver o presente.
- Já passou pelas seleções jovens, por isso impossível não é... Mas a Seleção A é algo em que ainda pensa? Representar Portugal continua a ser um objetivo presente na sua carreira?
- Sim, claro. Acho que todo jovem jogador português sonha com a seleção nacional. E seria impossível não pensar nisso. Sei que é difícil, mas nunca se sabe. Já esteve mais longe, e às vezes basta uma grande época, um bom momento, e as coisas podem mesmo acontecer. Representar a Seleção é, sem dúvida, um dos meus grandes sonhos e objetivos. Vamos ver o que o futuro reserva.
- O que é que lhe parece a concorrência no meio-campo, a esse nível? A verdade é que há cada vez mais médios portugueses de grande qualidade a surgir. Quais são aqueles que mais gosta de ver atualmente, sobretudo entre os portugueses?
- Em Portugal temos, de facto, muita qualidade, mesmo muita. E muitas vezes essa qualidade não é devidamente reconhecida ou valorizada. Vejo isso especialmente nas seleções jovens e também na principal: há uma geração com talento incrível. Se tivesse de destacar um jogador português que, neste momento, me encanta, talvez escolhesse o Vitinha. Pelo percurso que fez, pela forma como lidou com os desafios: não se fixou no Wolverhampton, voltou ao FC Porto e conseguiu afirmar-se.
O mais impressionante é que nunca mudou o seu estilo de jogo. Manteve-se fiel ao seu futebol, que é bonito de se ver, inteligente, e que, acredito, agrada a qualquer amante do jogo.
- Sabemos que o futuro, como disse, aprendeu a encará-lo de outra forma, um dia de cada vez. Mas no dia em que decidir pendurar as botas, esperemos que ainda demore muitos anos, o que é que gostaria que as pessoas dissessem sobre si? No fundo, quem é que foi o Miguel? Que resposta gostaria que ficasse?
- Acima de tudo, não quero ser recordado apenas como o Miguel jogador. Jogadores vão sempre existir, com qualidades diferentes, e é natural que uns gostem mais, outros menos.
O mais importante para mim é ser lembrado como uma boa pessoa. Alguém que sempre foi fiel aos seus valores, que deu tudo o que tinha, dentro e fora de campo.
Gostava que levassem um bocadinho de mim, assim como eu levo um bocadinho de cada pessoa que passou pelo meu caminho.