No futebol, para se ser campeão, é preciso muito mérito, um pedaço de sorte e aparecer à hora certa, no sítio certo. Às vezes, mais parece que o caminho é definido por pequenos pedaços de uma ordem cósmica a que muitas vezes chamamos destino.
"Estás predestinado para o êxito. A tua vida será um longo e amplo êxito... A menos que tu próprio tenhas quebrado um tal destino", escreveu o rapper Sam The Kid, na música 16/12/95.
Foi essa ideia - a de um destino que se cumpre, a não ser que o próprio o traia - que pareceu pairar sobre Pedro Gonçalves ao longo desta temporada: quando, no dia 10 de novembro de 2024, decidiu arriscar uma lesão grave para jogar na despedida de Ruben Amorim - acabando por sair ao fim de apenas 26 minutos - ninguém imaginava que isso marcaria o início de um período tão complicado para o internacional português.
O regresso antecipado aos relvados, celebrado pelos adeptos sportinguistas no primeiro dia de 2025, parecia o fim do problema. Mas o verdadeiro reaparecimento só aconteceu a 12 de abril, mais de três meses depois daquela story que anunciava a recuperação.
Só após o título se soube o que realmente se passou: uma lesão agravada naquele jogo da Taça da Liga, num passe arriscado, que atrasou todo o processo de recuperação. Pedro Gonçalves podia ter "quebrado um tal destino". Mas o camisola 8 estava mesmo "predestinado para o êxito".
Naquele jogo nos Açores, entrou com vontade de ganhar ritmo o mais rápido possível e, passados apenas 12 dias, já era titular diante do Rio Ave. A gestão foi pensada para a fase decisiva da época, nomeadamente para o dérbi com o Benfica. Mas a decisão do título tinha mesmo de passar pelos pés do médio.
Sem que nada ficasse definido no Estádio da Luz, o Sporting recebeu o Vitória SC a depender apenas de si para ser campeão. A verdade é que a equipa de Rui Borges estava a dominar por completo, mas o golo tardava e o nervosismo começava a instalar-se em todo o lado. Ou quase todo o lado.
Com a tranquilidade e classe que lhe são reconhecidas, Pedro Gonçalves fez um remate e um golo à Pote que encaminharam o Sporting para o bicampeonato, 71 anos depois. E confirmou-se: com o internacional português, a vida do Sporting pode mesmo ser "um longo e amplo êxito".
São já três campeonatos guardados no pote de Pedro Gonçalves, o senhor do seu próprio destino.
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