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Momento Flash: Afinal, eles são humanos

Daniel Penha com uma celebração especial
Daniel Penha com uma celebração especialHomem de Gouveia/LUSA
Todos os dias há belos momentos no desporto nacional, mas há destaques e destaques. Nesta rubrica, o Flashscore traz-lhe o melhor momento da semana, focando-se maioritariamente - mas não exclusivamente - no futebol português. Entre golos, defesas, cortes ou simplesmente um gesto, vai poder ver aqui o que realmente importa: o jogo bonito.

É costumeiro ouvir-se dizer que o futebol é um jogo de emoções. Mas muitas vezes parece que elas só são permitidas fora das quatro linhas, nas bancadas. Quantas vezes não se ouviu, numa qualquer discussão com amigos, conhecidos ou desconhecidos, a ideia de que o futebolista tem a vida perfeita, de que “são bem pagos” e como tal precisam de atuar como robôs, sem falhas, quando colocam as chuteiras e entram em campo?

Este fim-de-semana ficámos todos a perceber que, afinal, também são humanos. Os jogadores, os treinadores, todos os intervenientes. E salvo as exceções de topo, a maioria também sofre com as agruras da vida fora de campo e têm de continuar a realizar o trabalho, quando são chamados.

Vamos então por ordem cronológica. Sábado, 1 de março, o Nacional recebeu o Famalicão e venceu por 2-1, com Daniel Penha a abrir o marcador para os insulares. Foi o segundo jogo consecutivo a marcar em casa, mas este com um significado especial. Após a partida dirigiu-se à entrevista rápida da Sporttv e desabafou: "Comemorei com um L (de Larissa), pois há dois anos e meio que ela faz tratamento a um cancro. Nesse tempo temos vivido tudo à distância. Estive na Coreia e ela no Brasil, depois fui para a Austrália e ficámos 7 meses distantes. Aqui é igual: ela vem para cá e volta para fazer o tratamento. Ela serve de lição para mim. Muitas vezes encaramos a vida com um pouco de dificuldade e medo e com a minha esposa aprendi a ter coragem e a acreditar".

De repente, o Daniel Penha, médio de 26 anos do Nacional, com virtudes e defeitos, passou a ser o Daniel Penha, o marido preocupado em apoiar a mulher na luta mais importante da vida, enquanto tenta balançar a profissão que sonhou e, decerto, ajuda a pagar os tratamentos. Deixou de ser o jogador e passou a ser um humano, com uma situação, infelizmente, idêntica a muitas outras.

Continuemos no sábado. A surpresa quando se ficou a conhecer a equipa titular do FC Porto para defrontar o Arouca: 533 dias depois, Iván Marcano voltou a ser lançado num onze. A última vez que tal tinha acontecido? 15 de setembro de 2023, quando esteve nove minutos em campo diante do Estrela da Amadora.

Aos 37 anos, o caminho da recuperação não foi fácil, num futebol em que o desejo por encontrar a nova pérola e apostar em ativos vendáveis é regra, o regresso aos relvados num jogo competitivo parecia cada vez mais uma miragem. Mas aconteceu. E apesar das dúvidas – "Cheguei a pensar que não ia voltar", confessou – foi o jogador com melhor nota da defesa do FC Porto, ajudando a equipa a manter a baliza inviolada e transmitindo uma tranquilidade que parecia desaparecida. Mas acima de tudo, Marcano foi um pai orgulhoso. Afinal, concretizou o desejo do filho. “Tinha-me dito que o objetivo era que o filho o visse jogar uma última vez”, revelou Martín Anselmi.

Avançamos para domingo, descemos na tabela, mas ficamos na mesma cidade. Um dos cinco campeões nacionais, o Boavista atravessa uma das piores fases da sua história. Último classificado, tenta empreender uma fuga ao segundo escalão, com contratações de urgência e um novo treinador. Diante do Santa Clara, a surpresa desta época, eis que chegou a primeira vitória caseira desde 9 de março de 2024. As lágrimas de Lito Vidigal não deixavam enganar: saiu um peso de cima do treinador que assumiu talvez a tarefa mais complicada do futebol nacional e, de repente, há esperança no Bessa.

Momentos que nos ajudam a perceber que, afinal, eles são humanos.

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