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Opinião: O Vitória SC devia ter contratado Luís de Matos e não Luís Pinto

Luís Pinto, treinador do Vitória SC
Luís Pinto, treinador do Vitória SCHUGO DELGADO/LUSA
Os primeiros dias de setembro trouxeram a saída de (mais) duas figuras importantes do plantel do Vitória SC. Tomás Händel e Tiago Silva fizeram as malas e deixaram a cidade de Guimarães, reforçando a revolução em curso no plantel dos vitorianos para a época 2025/26, que está praticamente irreconhecível. Afinal, qual é o rumo dos vitorianos?

Após uma temporada em que o Vitória SC falhou o objetivo do 5.º lugar, que garantia o acesso às pré-eliminatórias da Liga Conferência, o presidente do histórico emblema de Guimarães abriu a porta de saída a Luís Freire, entretanto anunciado como selecionador nacional dos sub-21. Para o seu lugar chegou Luís Pinto, um desejo antigo da SAD vimaranense.

O que o jovem treinador, responsável por guiar o Tondela de forma surpreendente ao título de campeão da Liga 2 na sua primeira época no futebol profissional, certamente não esperava era encontrar-se, nesta fase, a lidar com uma autêntica revolução no plantel.

Borevkovic, Händel, Bruno Varela e tantos outros

Vamos a dados. Luís Pinto foi apresentado em Guimarães a 13 de junho, chegando “entusiasmado” para abraçar o novo projeto e a tempo de assistir a uma autêntica debandada no plantel: Filipe Relvas (AEK), Jesús Ramírez (Nacional), Bruno Gaspar (Apollon Limassol), Zé Carlos (Gil Vicente), Borevkovic (Samsunspor), Bruno Varela (Al-Hazm), Tomás Händel (Estrela Vermelha) e Tiago Silva (Al-Rayyan) deixaram o clube. Já o tinham feito Mikel Villanueva e João Mendes.

Parece uma realidade paralela, mas a verdade é que, em apenas 15 dias, o Vitória SC abriu mão dos três capitães - Bruno Varela, Borevkovic e Tomás Händel - e ainda do camisola 10, Tiago Silva, um dos jogadores mais influentes da equipa nos últimos anos. E nenhuma destas saídas foi devidamente compensada antes do fecho do mercado. Não há memória de algo semelhante.

Os números de Tiago Silva
Os números de Tiago SilvaFlashscore

Saída atrás de saída, há uma que considero particularmente incompreensível: a de Tomás Händel. Um médio formado no clube, com 16 anos de casa, avaliado pelo Flashscore em 12,5 milhões de euros e a quem lhe foi entregue a braçadeira de capitão no início da época. Saiu para o Estrela Vermelha por pouco mais de três milhões de euros, um valor que, no mínimo, levanta sérias questões sobre a estratégia do clube.

A somar a este mercado turbulento, os resultados desportivos têm ficado aquém das expectativas neste arranque de temporada, sobretudo das expectativas dos fervorosos adeptos vitorianos, que têm dificuldades para entender o que se passa no Castelo.

As contas são simples: uma vitória, um empate e duas derrotas nas quatro primeiras jornadas da Liga. Este registo marca o segundo pior arranque dos vimaranenses na última década, o que tem feito aumentar a pressão sobre Luís Pinto e sobre a estrutura diretiva.

O objetivo (ir)real

Os alarmes soaram e levaram o presidente António Miguel Cardoso - responsável por um encaixe próximo dos 100 milhões de euros em vendas desde que assumiu o cargo, em 2022/23 - a vir a público defender o treinador e o projeto do Vitória SC.

“Encontrámos um clube sem receitas, com enormes dificuldades financeiras, e conseguimos, em apenas três anos e sem recursos, alcançar vitórias, bater recordes e afirmar um projeto sólido. Sempre dissemos que a aposta seria nos nossos jovens”, começou por afirmar o dirigente, ainda antes de serem oficializadas as saídas de Tomás Händel e Tiago Silva.

“Fui reeleito há poucos meses com mais de 90% dos votos. O projeto mantém-se firme: temos uma equipa técnica focada, com processos bem definidos, para dar oportunidades e fazer com que os nossos jovens possam brilhar”, reforçou.

Até aqui, tudo bem. Dificuldades financeiras e aposta em jovens valores. O problema foi o que foi dito a seguir, num momento em que se deixou levar pela emoção: “Estou convencido de que vamos terminar em 5.º lugar. Se não ficarmos, eu saio no final da época”. Uma pressão gigante sobre o treinador e os jovens jogadores que o presidente espera ver florir em Guimarães.

Os próximos jogos do Vitória SC
Os próximos jogos do Vitória SCFlashscore

Em suma, quero acreditar que Luís Pinto tenha sido informado sobre a possibilidade de viver esta realidade a 4 de setembro. A realidade de que iria perder todos estes jogadores (importantes). A realidade de que, mesmo com quase 100 milhões de euros em vendas nos últimos três anos, o Vitória SC iria continuar a debater-se com graves dificuldades financeiras e, por isso, não iria conseguir oferecer soluções capazes de alcançar o tal objetivo do 5.º lugar. A realidade que custa a entender, mas que não é mais do que a dura realidade.

Mágico ou feiticeiro?

São muitas as questões sobre o futuro do projeto vitoriano e tenho sérias dúvidas de que exista alguém, para além do presidente, que acredite ser possível este Vitória SC terminar no 5.º lugar do Campeonato. 

Em Tondela, Luís Pinto era conhecido como o "Homem do Leme". Em Guimarães, ficará conhecido como o feiticeiro do Castelo? Escrevo isto porque acredito que levar este Vitória SC ao 5.º lugar, será, sem dúvida, um feito maior do que o título conquistado nos beirões.

Por fim, deixo uma questão: não terá a direção vitoriana falhado na escolha do Luís? Não estaria António Miguel Cardoso a pensar em contratar Luís de Matos em vez de Luís Pinto? É que há trabalhos que pedem mais truques de magia do que esquemas táticos.

Artigo de opinião de Rodrigo Coimbra
Artigo de opinião de Rodrigo CoimbraFlashscore