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Perfil: Dedicação e apelo à atitude sustentam inédito título de Rui Borges

Rui Borges sagrou-se campeão pela primeira vez
Rui Borges sagrou-se campeão pela primeira vezPATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP

O treinador Rui Borges conquistou este sábado o primeiro título em oito anos de carreira, o bicampeonato do Sporting na Liga Portugal, consagrando a dedicação ao jogo e o incentivo à atitude no comando dos leões.

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Borges selou o primeiro bi dos leões desde a temporada 1951/52, na altura com o inglês Raymond Galloway ao leme, e constituiu o pico de um trajeto que começou no Mirandela, em 2017.

Nascido naquela cidade transmontana, em 16 de julho de 1981, Rui Manuel Gomes Borges cumpriu a formação como médio no clube local, onde também viria a encerrar o percurso de jogador, na época 2016/17, e a merecer a aposta do ainda hoje presidente, Carlos Correia, para orientar a equipa que militava no Campeonato de Portugal, a partir de 2017/18.

Colega em várias equipas das camadas jovens do Mirandela, o antigo defesa Hugo Ribeiro, de 43 anos, recorda a vocação do agora técnico do Sporting para ir além dos companheiros na compreensão do desporto.

“Nos juniores, já se notava que tinha perfil. Foi capitão nas camadas jovens. Era mais dedicado ao futebol. Estava sempre atento aos pormenores da outra equipa. Nós estávamos preocupados em tentar ganhar. Ele queria ganhar, mas também compreender o jogo”, descreve.

A vitória sobre o Minas de Argozelo (2-1), em 19 de agosto de 2017, para a Série A do então terceiro patamar do futebol luso, marcou o início de uma trajetória ascendente que o conduziu ao Estádio José Alvalade, em Lisboa, em 26 de dezembro de 2024, dia da apresentação como técnico verde e branco.

Contratado ao Vitória SC por 4,1 milhões de euros, verba a distribuir pelos vitorianos e pelo Moreirense, o primeiro clube que orientou no escalão maior, Rui Borges prometeu trabalho para apresentar uma equipa com atitude, jogo após jogo.

“O presidente pediu vitórias e títulos. É para isso que estamos aqui e é aquilo que nos exigem. Quando faltar a inspiração, que não falte a atitude. Umas vezes vamos ganhar com mais qualidade, outras, não, mas, se a atitude correta estiver lá, vamos ganhar na mesma”, disse então.

A cargo de um plantel que iniciou a época com 11 triunfos em 11 jornadas, sob o comando de Rúben Amorim, o obreiro dos títulos de 2020/21 e de 2023/24, e que somou quatro pontos nos quatro encontros seguintes, com João Pereira, Borges estreou-se precisamente a vencer, em casa, perante o Benfica (1-0), em 29 de dezembro.

A forma do Sporting rumo ao título
A forma do Sporting rumo ao títuloFlashscore

O golo solitário do moçambicano Geny Catamo fixou o resultado de um dérbi marcado pelo novo figurino tático do Sporting, que passou do 3-4-3, vigente desde a contratação de Amorim, em 2019/20, para um sistema com quatro defesas, aquele com que o transmontano organizara as anteriores equipas.

A vitória devolveu os leões ao comando da tabela e foi a primeira das 13 sob a tutela de Rui Borges rumo ao 21.º título nacional, numa trajetória ainda pontuada por cinco empates, três deles consentidos nos descontos - FC Porto (1-1), no Dragão, AFS (2-2), em Vila das Aves, e SC Braga (1-1), em casa. De resto, desde essa estreia no banco sportinguista, o técnico não perdeu qualquer partida com os leões na Liga.

De regresso ao sistema de três defesas em 19 de fevereiro, no empate com o Borussia Dortmund (0-0), que marcou a despedida da Liga dos Campeões, o Sporting deparou-se, nessa fase, com as lesões de Hjulmand, Morita, Geny Catamo, Daniel Bragança, João Simões, Pedro Gonçalves ou Nuno Santos, este último ausente desde a primeira volta.

Rui Borges teve até de gerir a utilização de Gyökeres entre janeiro e fevereiro, antes de o goleador sueco recuperar a melhor forma em março e se afirmar como melhor marcador da Liga pela segunda época consecutiva (39 golos), alcançando um póquer na goleada ao Boavista (5-0) e um hat-trick com o Moreirense (3-1), além de ter faturado na derradeira ronda, com o Vitória SC.

Líder de uma equipa que renovou a baliza na segunda metade do campeonato, com Rui Silva a render Franco Israel, o técnico, de 43 anos, coroou um percurso que, depois do Mirandela, incluiu passagens por Académico de Viseu, Académica, Nacional, Vilafranquense e Mafra, sempre na Liga 2, até à oportunidade no Moreirense.

Na vila de Moreira de Cónegos, concelho de Guimarães, Rui Borges guiou os minhotos ao sexto lugar e alcançou o recorde do clube de 55 pontos na época 2023/24, na qual completou ainda o nível IV da UEFA para treinadores.

O desempenho valeu-lhe a transferência para o Vitória SC, clube pelo qual fixou o novo recorde português de nove vitórias seguidas em provas europeias e garantiu o segundo lugar na fase de liga da Liga Conferência.

Em duas épocas, o timoneiro de Mirandela ascendeu da estreia na Liga, pelo Moreirense, à conquista do título de campeão nacional, pelo Sporting, circunstância que, para Hugo Ribeiro, resulta do trabalho e da liderança que sempre exibiu.

“A sorte acontece quando a oportunidade se alia à grande qualidade dele, que é a de ser um grande líder de balneário. Compreende bem os jogadores. Está a tirar partido dessa boa característica. Está a ter sucesso, justificado”, vincou o ex-colega do técnico leonino.

Rui Borges ergue, assim, pela primeira vez o troféu de campeão nacional e logo na receção à sua anterior equipa, o Vitória SC, numa temporada ainda marcada pela estreia na Champions e pelas finais diante do Benfica: a da Taça da Liga, que perdeu no desempate por grandes penalidades, e a da Taça de Portugal, agendada para 25 de maio, no Estádio Nacional.