Ligado ao FC Porto há décadas, e licenciado pela Escola Superior de Educação Física de Lisboa, António Silva, considera a contratação dos defesas polacos como “o acontecimento de mercado do ano na Liga portuguesa”.
“Por um lado, assistimos à saída do Viktor Gyokeres do Sporting para o Arsenal, um dos melhores avançados dos últimos anos na Liga portuguesa. Por outro, chegaram estes polacos, que trouxeram uma nova qualidade ao jogo do FC Porto”, afirmou António Silva, treinador de atletismo reformado, recordando com agrado as passagens de Józef Młynarczyk e Grzegorz Mielcarski pelo FC Porto.
Amigo de Jorge Nuno Pinto da Costa, lendário presidente dos dragões falecido em fevereiro, António Silva considera que o reforço do FC Porto com os defesas polacos foi um elemento fundamental para o sucesso da equipa no campeonato.
“Há 30 anos que não se via uma equipa tão forte no FC Porto. O atual plantel, onde Bednarek é chamado de ‘capitão sem braçadeira’, confirma que o novo presidente, André Villas-Boas, acertou nas últimas contratações, sobretudo no setor defensivo”, acrescentou António Silva.
O melhor defesa da Liga
Recordou que não havia uma defesa tão sólida no FC Porto desde os tempos do treinador inglês Bobby Robson. A sua equipa sofreu apenas dois golos nos primeiros 16 jogos da época 1995/96.
Entretanto, o atual conjunto dos dragões, orientado pelo técnico italiano Francesco Farioli, após 15 jornadas do campeonato, sofreu apenas quatro golos. Na segunda-feira, o FC Porto consolidou a liderança ao vencer o Alverca por 3-0.
Em setembro, outubro e novembro, Bednarek foi eleito pelos treinadores portugueses como o melhor defesa da Liga, numa altura em que o FC Porto venceu todos os jogos, exceto o empate sem golos frente ao Benfica.
O adepto Rodrigo Pinto, natural do Porto, admitiu à PAP que não esperava um desempenho tão bom este ano da dupla polaca na defesa. Confessou que receava se ambos estariam à altura numa das principais equipas portuguesas.
Substituir uma lenda
Na opinião de Rodrigo Pinto, as expectativas em relação a Bednarek e Kiwior eram elevadas e ambos corresponderam. Destacou especialmente o primeiro, que conseguiu substituir Pepe de forma convincente.
“Após a saída de Pepe, ficou uma lacuna evidente no centro da defesa do FC Porto, que Bednarek preencheu de forma exemplar. Joga com dureza, agressividade e não desiste de nenhum lance”, avaliou o adepto português.
Segundo Rodrigo Pinto, a chegada de um segundo internacional polaco ao FC Porto também foi positiva, embora inicialmente tivesse dúvidas quanto ao rendimento de ambos.
“Lembro-me dos jogos dos polacos contra Portugal nas últimas edições da Liga das Nações. Tanto os defesas polacos como toda a equipa não estiveram ao seu melhor nível nesses encontros”, resumiu o adepto do FC Porto.
Já o antigo treinador do SC Braga e do Vitória SC, Manuel Cajuda, considerou que Bednarek e Kiwior integraram-se muito bem no plantel do FC Porto, ajudados pelo facto de Farioli ter construído uma equipa sólida.
“Para ambos os polacos, é certamente benéfico que toda a equipa esteja a realizar uma época muito positiva, o que facilita a adaptação dos novos jogadores. O sucesso é sempre aliado do bom ambiente no balneário”, afirmou Manuel Cajuda à PAP.
Reconhecimento ao treinador
Acrescentou que o “pai do sucesso” das boas exibições da dupla Bednarek - Kiwior é, acima de tudo, o treinador do FC Porto, Francesco Farioli, que conseguiu “tirar o melhor partido das qualidades dos centrais polacos”.
O antigo presidente da Associação Portuguesa de Treinadores, José Pereira, corroborou a opinião de Manuel Cajuda e acrescentou que, no caso de Bednarek – que frequentemente experimentou derrotas ao serviço do Southampton, em Inglaterra – a chegada ao FC Porto significa agora uma presença constante nas vitórias.
Referiu ainda que o desempenho sólido dos defesas polacos no FC Porto pode despertar maior interesse dos clubes portugueses por jogadores oriundos da Polónia. No entanto, salientou que jovens como Oskar Pietuszewski, de 17 anos, que tem sido apontado aos azuis e brancos, poderá enfrentar uma concorrência exigente.
“Em novembro, a seleção portuguesa de sub-17 conquistou o título de campeã do mundo, o que prova que também temos muitos jovens talentos no nosso país”, destacou José Pereira.