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Ricardo Esteves: "Mourinho pode levar o Benfica para outro nível"

Ricardo Esteves é atualmente comentador desportivo
Ricardo Esteves é atualmente comentador desportivoSindicato dos Jogadores

Terminou a carreira há treze anos e não esconde as saudades dos relvados. Nesta entrevista ao jornalista João Paulo Ribeiro do Flashscore, Ricardo Esteves faz uma viagem ao passado, onde destaca a passagem pelo Benfica e as várias experiências no futebol internacional. O antigo lateral, que trabalhou com Mourinho na Luz, fala, também do impacto que está a ter no futebol português, o regresso do Special One.

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"Fico triste por ter terminado a carreira por causa de um erro médico"

- Já passaram 13 anos desde que terminou a tua bonita carreira. Como foi terminar em 2012? Qual a razão?

Acabou há 13 anos, muito devido a uma lesão que tive quando jogava na China, no Dalian. O diagnóstico não foi o mais correto e a recuperação também não correu bem. Depois de seis meses parado, não conseguia jogar porque afinal tinha uma fratura, mas não conseguiram ver que era fratura e não entorse. Quando regressei a Portugal, fui operado e estive quatro meses em recuperação. Dos 34 para os 35 anos, um ano parado, a recuperação acabou numa altura em que as equipas na Europa já estavam a terminar a pré-época. Depois de um convite que recebi para treinar e da forma como me sentia no Olhanense, percebi que a fratura não estava em boas condições. Como não tinha intenção de voltar ao estrangeiro, porque tinha filhos pequenos, e o pé não estava nas melhores condições, decidi terminar.

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- Mexeu consigo psicologicamente?

Mexeu, e ainda hoje mexe. Fez-me terminar quando eu não queria. Olhando para trás, podia ter jogado noutro escalão. Na altura não foi essa a minha intenção, porque tinha jogado a um nível alto e em divisões superiores, e não queria descer. Mas hoje, olhando para trás, não me importava de ter jogado mais uns aninhos nos escalões inferiores, até porque a condição física já não era a melhor. Fico triste por ter terminado a carreira por causa de um erro médico na China, que teve uma consequência grande. O pé, depois de tanto tempo sem a recuperação adequada, nunca mais ficou nas melhores condições. Uma lesão que podia ter demorado dois meses a recuperar deixou-me parado um ano. Tinha convites para ir para fora, mas já tinha jogado metade da minha vida no estrangeiro e, depois de ter estado um ano na China, decidi ficar perto da família e desistir de continuar a jogar.

- O Ricardo teve uma carreira rica: seleções jovens, Benfica, Marítimo, SC Braga e estrangeiro…

Não me posso queixar muito do percurso que tive. Tive aquilo que mereci e sou muito grato pela carreira que tive. Sou privilegiado pelo que aprendi, pelos clubes por onde passei. Sinto-me privilegiado por ter feito o que mais gostava e por ter conhecido outras culturas.

Jesualdo Ferreira marcou a carreira de Ricardo Esteves
Jesualdo Ferreira marcou a carreira de Ricardo EstevesNICOLAS ASFOURI / AFP

De Mazzarri a Jesualdo Ferreira: "Achava que já tinha aprendido tudo, mas..."

- Entre companheiros e adversários, algum que o tenha marcado?

Falo de Itália. Lá havia dos melhores do mundo, nomeadamente o AC Milan, que tinha alguém que eu admirava muito: o Rui Costa, um ídolo para mim. Foi único defrontá-lo. E depois o Maldini, ao meu lado… algo que só via na televisão. Foi uma emoção enorme, até as lágrimas me vieram aos olhos. Era algo com que sonhava e naquele momento tornou-se realidade.

- E treinadores?

Tive dois que me marcaram muito. O Walter Mazzarri. Tinha 23 anos quando fui para Itália e achava que já tinha aprendido tudo. Quando lá cheguei, percebi que afinal não sabia nada, era tudo diferente do que tinha vivido em Portugal. Depois aprendi muito com o Jesualdo Ferreira, um treinador muito forte em termos táticos e técnicos. Devo muito do meu crescimento a ele.

- Sente que faltou oportunidade na seleção principal, depois de tantas internacionalizações jovens?

Gostava de ter jogado na seleção nacional, mas na minha época, na minha posição, havia muita qualidade, em grandes clubes. Apanhei a fase mais difícil de entrar naquela altura. Quando jogava em Itália e depois no Marítimo, a seleção tinha o Miguel, o Paulo Ferreira… dois jogadores muito fortes e num grande momento. Tive sempre o sonho de lá chegar. Não digo que fiquei triste, porque reconheço a qualidade dos meus companheiros.

Mourinho a dar treino no Seixal
Mourinho a dar treino no SeixalSL Benfica

"Mourinho? Portugal nunca teve um treinador com tantos títulos"

- Sobre o presente: sente-se bem no papel de comentador desportivo?

Sinto-me um privilegiado por acompanhar o futebol de muito perto. Mesmo tendo deixado de jogar, estar dentro do futebol noutro contexto deixa-me muito feliz e orgulhoso. Sinto a carreira com o dever cumprido. Falta-me a bola, claro, mas a televisão e o futebol dão-me algo muito importante.

- Vê-se a ocupar outro papel neste mundo como dirigente ou numa equipa técnica?

Tirei o primeiro nível de treinador, mas a vida deu voltas e seguir esse caminho acabou por não acontecer. Dei prioridade ao tempo com os meus filhos. Quanto ao que gostaria de fazer, estou exatamente onde gosto de estar. Já pensei no dirigismo, tive duas experiências como agente, mas é um mundo complicado e, nas experiências que tive, não correu da melhor forma, por isso deixei de lado. Estou onde me sinto bem: a comentar e a falar da minha experiência. Tenho o melhor trabalho que podia ter nesta fase da vida.

Os próximos jogos do Benfica
Os próximos jogos do BenficaFlashscore

- Para terminar, gostava de falar consigo sobre o José Mourinho, com quem trabalhou. Que impacto tem e o que pode trazer ao Benfica e ao futebol português?

Desde que chegou, praticamente todos os dias está nas televisões e nos jornais, é sempre capa. Vemos nas conferências aquilo que é a comunicação social de outros países e isso demonstra bem a sua grandeza. Acho que no Benfica ainda não teve impacto direto na equipa, porque tem tido pouco tempo para treinar. Está, aos poucos, a meter a sua marca. Agora, é alguém que já ganhou tudo, e se Portugal não valorizar ter um treinador desta dimensão e visibilidade… Portugal nunca teve um treinador com tantos títulos. Tem muito trabalho pela frente, mas conhecendo a sua personalidade e o gosto pelos desafios, sei que tem pela frente um enorme desafio. Acredito que, mesmo com muitas dificuldades, pode levar o Benfica a outro nível.