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Vítor Bruno frustra aposta inicial de Villas-Boas com FC Porto oscilante

Vítor Bruno já não é treinador do FC Porto
Vítor Bruno já não é treinador do FC PortoFERNANDO VELUDO/LUSA
Vítor Bruno está de saída do FC Porto, volvidos sete meses e meio futebolisticamente oscilantes na estreia como treinador principal, reflexo da instabilidade do clube da Liga Portugal desde a transição presidencial para André Villas-Boas.

Na madrugada desta segunda-feira, horas depois da derrota na visita ao Gil Vicente (3-1), para a 18.ª jornada, os dragões confirmaram o início das negociações com o técnico conimbricense para a cessação imediata de um vínculo extensível por duas épocas, até junho de 2026.

O anúncio aconteceu numa altura em que Vítor Bruno estava reunido de emergência com todo o plantel, o presidente do FC Porto, Villas-Boas, e outros elementos da SAD, no Estádio do Dragão, no Porto, já após o regresso da comitiva azul e branca de Barcelos.

Vítor Bruno, de 42 anos, não resistiu à segunda sequência de três derrotas nas diversas provas em 2024/25, sendo que as últimas duas implicaram a descida ao terceiro lugar no arranque da segunda volta da Liga Portugal, com 40 pontos, a quatro do líder isolado e campeão Sporting, e a um do Benfica, segundo, no pior desempenho das últimas cinco temporadas.

Promovido em junho de 2024 como sucessor de Sérgio Conceição, com quem trabalhava há 12 anos, mas que teve uma polémica rutura laboral ao fim de sete épocas no FC Porto, o ex-adjunto do agora treinador dos italianos do AC Milan foi a primeira aposta nos bancos de Villas-Boas, sucessor de Pinto da Costa, e teve respaldo diretivo em alguns momentos adversos, mas não durou mais do que 29 jogos - 19 vitórias, três empates e oito derrotas.

A contestação dos adeptos entre a derrota com o Gil Vicente e a chegada da comitiva ao Dragão, sempre sob forte aparato policial, já tinha tido antecedentes em 2024/25, sendo reforçada de madrugada por cerca de uma centena, que entoou cânticos de insatisfação, exibiu uma tarja com a frase “AVB amador, expulsa o treinador” e arremessou pirotecnia.

Esses momentos tensos alastraram-se a diversas exibições do FC Porto, que partiu para esta época com expectativas renovadas, após ter fechado o pódio da edição anterior da Liga Portugal, a 18 pontos do Sporting, falhando a quinta presença seguida na Liga dos Campeões.

Uma reviravolta sobre os leões na Supertaça (4-3, após prolongamento), em Aveiro, com três golos de desvantagem revertidos, rendeu um troféu a Vítor Bruno na estreia absoluta como técnico principal e prenunciava uma campanha mais estável dos dragões, mesmo na ressaca de saída de figuras como Sérgio Conceição, o capitão Pepe e Mehdi Taremi.

Evanilson e Francisco Conceição foram transferidos mais tarde, enquanto Nehuén Pérez, Tiago Djaló, Francisco Moura, o regressado Fábio Vieira e Samu chegaram na reta final da janela de transferências de verão para terem impactos distintos nas escolhas iniciais.

Os últimos 15 jogos do FC Porto
Os últimos 15 jogos do FC PortoFlashscore

O futebol associativo exibido numa pré-época repleta de vitórias deu lugar a uma ideia de jogo mais vertical já depois do primeiro desaire oficial, em Alvalade (0-2), na quarta ronda do campeonato, com Vítor Bruno a tentar tirar partido dos ataques à profundidade do trio ofensivo normalmente formado por Pepê, Galeno e Samu, autor de 18 golos em 24 jogos.

O 4-2-3-1 manteve-se como estrutura-base, mas a mudança de dinâmicas gerou alguma inconsistência exibicional, contrastando os oito triunfos seguidos nas provas internas com a obtenção de quatro pontos nos primeiros nove possíveis na fase de liga da Liga Europa.

A impaciência dos adeptos subiria drasticamente em novembro, fruto da primeira série de três derrotas em 16 anos, todas fora e para provas diferentes, incluindo a goleada na 11.ª ronda do Benfica (1-4), que não fazia quatro golos em clássicos na Liga desde 1964/65.

FC Porto em situação delicada na Liga Europa
FC Porto em situação delicada na Liga EuropaFlashscore

Seguiu-se o afastamento na Taça de Portugal, com uma reviravolta perante o Moreirense (1-2), na quarta eliminatória, impedindo a conquista do troféu pela quarta época seguida, mas não a continuidade de Vítor Bruno, cujo discurso elaborado quase nunca empolgou.

As impactantes primeiras titularidades da coqueluche Rodrigo Mora, de 17 anos, diluíram a tensão entre plantel e bancada, que readquiria força no início de 2025 e colocou o filho de Vítor Manuel - autor de 511 partidas como treinador principal na Liga Portugal, de 1984 a 2002 - ao lado do húngaro Joseph Szabo (1945/46) e do chileno Fernando Riera (1972/73) no elenco de técnicos azuis e brancos com duas séries de três derrotas na mesma época.

O calendário do FC Porto
O calendário do FC PortoFlashscore

Ao deslize perante o Sporting (0-1) nas meias da Taça da Liga, em Leiria, seguiram-se outros dois fora na Liga ante Nacional (0-2), que inibiu o FC Porto de fechar a primeira volta na frente, e Gil Vicente, por entre problemas de balneário com Fábio Vieira e Pepê.

Uma vitória nas últimas oito partidas como visitante ou a oitava derrota em 29 duelos na mesma época pela primeira vez desde 2001/02 atestaram o fim da linha de Vítor Bruno, cujo processo não teve uma evolução sustentada no tempo e perdeu solidez defensiva.

Ainda sem sucessão definida na luta pelo primeiro campeonato em três anos, o FC Porto volta a atuar na quinta-feira, com a receção aos gregos do Olympiacos na Liga Europa, tentando melhorar o 18.º lugar, de qualificação para o play-off, e os oito pontos atingidos nas primeiras seis de oito jornadas, a três das oito vagas de acesso direto aos oitavos.