Entrevista a Ukra: "Se as pessoas estivessem na minha cabeça estavam sempre a rir"

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Entrevista a Ukra: "Se as pessoas estivessem na minha cabeça estavam sempre a rir"

Ukra despediu-se na última jornada da Liga 2023/24
Ukra despediu-se na última jornada da Liga 2023/24LUSA
A vertente criativa e humorística de Ukra foi uma das imagens de marca do futebolista ao longo da carreira, algo que o deixa orgulhoso nesta altura em que terminou o seu percurso desportivo.

“Acho que as pessoas e os adeptos gostam de ver que um jogador, antes de ser atleta, também pode ter as suas brincadeiras. Acho que consegui conciliar as duas coisas (risos)”, começou por partilhar à agência Lusa.

O agora ex-jogador explicou que começou a fazer os seus vídeos para as redes sociais “apenas por divertimento”, mas logo sentiu “que as pessoas se identificavam, divertiam-se e pediam mais”, fazendo com que, nessas plataformas, Ukra tenha milhares de seguidores.

“Costumo dizer que se as pessoas estivessem dentro da minha cabeça, estavam sempre a rir. Lembro-me de coisas incríveis, mas depois quero fazê-las. Não consigo explicar, mas a minha cabeça está sempre a funcionar, com coisas positivas e alegres”, explicou.

O antigo atacante assumiu “que muitos vídeos ficaram ainda por fazer" e prometeu que o final da carreira não vai cercear a sua veia criativa.

Ukra terminou a carreira aos 36 anos
Ukra terminou a carreira aos 36 anosRio Ave FC/Opta by Stats Perform

“O meu problema é que penso nessas loucuras e tenho coragem para as fazer. Foram raros os vídeos que não ficaram logo à primeira, cada um com a sua história e com o seu momento. E certamente vão continuar”, garantiu.

De todas as experiências que teve durante a carreira, Ukra elege a passagem pelo futebol da Arábia Saudita, ao serviço do Al Fateh, como “a mais fora da caixa”, mas também uma das que mais o inspirou para a realização dos vídeos.

“Ao início, fui apalpando terreno, percebendo como eles reagiam à minha maneira de ser, mas, depois, adaptei-me muito bem. Diverti imenso e a certa altura já dizia que era mais árabe do que eles (risos). Lembro-me que nos estágios eles (jogadores árabes) comiam garfo e faca e eu era o único que comia com as mãos”, partilhou.

Ukra vincou que, passados sete anos da sua passagem, por uma época, pelo futebol saudita, ainda tem antigos companheiros de equipa a enviarem-lhe mensagens, desde o Médio Oriente, a recordar esses tempos.

“Acho que ter tanta gente a lembrar-se de mim, de forma positiva e divertida, é o meu maior legado no futebol”, concluiu.

Ukra despediu-se no Rio Ave
Ukra despediu-se no Rio AveLUSA

O impacto das lesões

Ukra confessou que terminou a carreira como futebolista “sem arrependimentos”, mas reconheceu que se não fossem algumas lesões, sobretudo nos joelhos, poderia ter alcançado outros voos na modalidade.

“Já me disseram que se não tivesse tantas lesões talvez pudesse fazer uma carreira ainda melhor. Mas esta foi a minha realidade e sinto-me realizado com ela. Nem todos conseguiram chegar a este patamar. Só tenho que estar orgulhoso”, reconheceu à agência Lusa.

O agora ex-futebolista, que terminou na sexta-feira a carreira ao serviço do Rio Ave, da Liga, afirmou que, paradoxalmente, esses momentos de adversidade, devido às mazelas físicas, também o tornaram um melhor jogador.

Os números de Ukra
Os números de UkraFlashscore

“Desde que sou profissional, não me lembro de jogar sem dores. Fui operado a um joelho ainda era júnior e, infelizmente, tive muitas outras intervenções. Foram momentos difíceis, mas fizeram-me crescer como homem e atleta. Ensinaram-me que temos que sofrer muitas vezes para ter aquilo que queremos”, partilhou.

Foi com esse espírito que, quando se despediu dos relvados, na partida frente ao Benfica, beijou os dois joelhos antes de sair do relvado.

“Sofreram com injeções, agulhas, líquidos, tratamentos e muito gelo. Já tive colegas que tiveram as mesmas operações e lesões e, infelizmente, deixaram de jogar. Por isso, tive de estar grato por estes joelhos se aguentarem tanto tempo”, disse, sorridente.

Nessas 17 temporadas como profissional, Ukra, que começou o seu percurso de formação na Famalicão, representou FC Porto, Varzim, Olhanense, Sporting de Braga, Al Fateh (Arábia Saudita), CSKA Sofia (Bulgária), Santa Clara a Rio Ave.

“Todo o trajeto que fiz até à passada sexta-feira deixa-me orgulhoso para a minha realidade. Sei que nem todos podemos ser jogadores de classe mundial, mas, para mim, ser um bom jogador de Liga deixa-me feliz e orgulhoso”, garantiu.

No seu percurso como profissional, Ukra destaca alguns dos treinadores que o orientaram, mas recusa-se a eleger apenas um que o tenha marcado especialmente.

“Não quero ser injusto, sobretudo quando falamos de nomes como Jorge Costa, Pedro Martins, Nuno Espírito Santo, Leonardo Jardim, Domingos Paciência, Luís Freire, Daniel Ramos, João Henriques, Ricardo Sá Pinto e o André Villas-Boas. Como todos eles aprendi muito. Tanto dos treinadores, como de todos os meus companheiros de equipa, senti um incrível carinho”, vincou.

Já sobre o jogo mais marcante da carreira, o ex-atacante tem menos dúvidas na sua lista de eleição.

“Talvez o que mais me marcou, pela envolvência, foi a final da Taça de Portugal com o Rio Ave em 2014. Mas não me esqueço, ainda pela Rio Ave, do jogo com o Elfsborg, em que conseguimos apuramento inédito para a Liga Europa, do meu primeiro jogo como sénior, no Varzim, da minha estreia pelo FC Porto, ou o meu regresso pelo Santa Clara depois de um período difícil de lesões”, enumerou.

Ukra garante que essas memórias o vão ajudar a fazer uma transição mais suave para o pós-carreira, garantindo que recordar o passado lhe traz felicidade e realização.

“Foram muitas horas passadas em estádios, e em treinos e estágios que me deixam boas memórias. Por isso, é que estou sempre com um sorriso. As amizades e relações que criei foram o meu maior investimento no futebol”, admitiu.

Ukra levado em ombros pelos companheiros de equipa
Ukra levado em ombros pelos companheiros de equipaRio Ave FC

"Despedida foi inesquecível"

O futebolista Ukra confessou ainda que a sua despedida dos relvados, no jogo entre Rio Ave e Benfica, foi inesquecível e melhor do que imaginou.

“Parece que os astros se alinharam para ser um momento inesquecível. O meu número é o 17, o último jogo foi no dia 17 (de maio), saí ao minuto 17, depois de 17 épocas como profissional. Foi uma festa alegre e feliz, como eu. Foi muito melhor do que imaginei”, confessou o agora ex-jogador à agência Lusa.

André Filipe Monteiro, conhecido no mundo do futebol como Ukra, decidiu pendurar as chuteiras aos 36 anos, ao serviço do Rio Ave, clube da Liga, onde esteve nas últimas três temporadas, numa decisão que assumiu ser "bem ponderada".

“Acho que se quisesse continuar, e talvez o conseguisse, teria que baixar um patamar. Mas preferi dar aquilo que ainda podia ao Rio Ave e acabo com muito orgulho pela carreira que fiz e por todos os clubes que passei”, partilhou.

Ukra confessou que se foi preparando para este momento (da despedida) há algum tempo, mas que ainda não absorveu, na totalidade, que o fim da carreira no futebol aconteceu.

“O normal seria agora entrar de férias. Por isso, acho que só vou sentir que acabou é quando começar a pré-época e os treinos, ver toda a gente a regressar aos estádios, e eu a fazer uma coisa diferente”, vaticinou.

O ex-avançado desabafou que os últimos dias têm sido vividos “com mais sorrisos do que com lágrimas” e, passado quase uma semana de ter feito o último jogo da carreira, ainda continua a responder às muitas mensagens que lhe foram enviadas.

“Tinha noção do carinho e do respeito que as pessoas têm por mim, no âmbito profissional e pessoal. Mas as quantidades de mensagens de felicitações surpreenderam-me. Aproveito para deixar uma palavra de agradecimento ao Benfica, que é um clube que não fez parte do meu passado, mas que se associou à minha despedida em campo com um gesto muito bonito”, disse.

Na sua carreira como profissional, foi no Rio Ave que Ukra passou a maior parte do tempo, num total de sete temporadas, e, por isso, também deixou uma menção especial ao emblema vila-condense.

“O meu clube será, para sempre, o Rio Ave. Foi aqui que fiz as minhas melhores épocas enquanto profissional, que consegui ser internacional A, e que construí a minha família de sangue. Por isso, apesar de todo carinho pelos outros clubes, digo que foi Vila do Conde e o Rio Ave que me deram tudo”, vincou.

Satisfeito por agora passar mais tempo com a família, a quem atribuiu a maior razão para o seu “equilíbrio profissional e alegria pessoal”, o ex-jogador já está a planear os seus próximos passos.

“Quero continuar ligado ao futebol, próximo dos adeptos, porque merecem o meu carinho. Se for possível, queria também estar com os mais jovens, pois sinto que deixei uma imagem de dedicação, profissionalismo e companheirismo. Era importante transmitir esse valores”, afirmou.

Além disso, e fazendo uso da sua veia criativa, nomeadamente nas redes sociais, Ukra já se está a envolver em projetos na área do marketing e publicidade.

“Trabalho com uma agência criativa que está a tomar conta desse meu novo futuro, o que me deixa confortável e confiante. Gosto da publicidade, marketing e comunicação. Pelos vistos parece que tenho jeito”, concluiu sorridente.