VERDE: Petit e a arte de com pouco fazer muito
A primeira jornada terminou com uma enorme surpresa no Estádio do Bessa. O campeão nacional Benfica sucumbiu na visita ao Boavista (3-2), isto depois de ter chegado ao minuto 90 a vencer por 2-1, num final absolutamente dramático para a equipa liderada por Roger Schmidt, que ficou reduzida a 10 elementos à passagem do minuto 51, por expulsão de Petar Musa.
Rotulado muitas vezes como um técnico de equipa pequena, sem capacidade para outros voos, Petit tem mostrado nos últimos anos que deve ser visto pela crítica com outros olhos. O 10.º lugar com a B SAD, em 2020/21, e o 9.º com o Boavista, em 2022/23, mostram um técnico capaz de se adaptar aos mais diversos contextos e sem desculpas para os parcos recursos que muitas vezes lhe são oferecidos.
Num Boavista ainda em construção, depois de perder Bracali, Ricardo Mangas, Kenji Gorré, Yusupha e Reggie Cannon, Petit não se refugiou em desculpas e montou uma equipa jovem altamente competitiva, que soube sofrer para levar de vencida um adversário com recursos inesgotáveis para a realidade portuguesa.
"Isto não é lançar por lançar. Há muitos deles que trabalham comigo há quase dois anos, temos 16 jogadores de formação no plantel principal, alguns vêm da época passada e podem ter crescimento diário. Dei-lhes os parabéns, porque é o grupo que faz a equipa. Estão todos a remar para o mesmo lado, todos os dias ultrapassamos barreiras e há que dar-lhes os parabéns", enalteceu o treinador do Boavista no final do encontro.
No fundo, Petit é capaz de fazer boas omeletes com poucos ovos. E esse crédito deve lhe ser atribuído com toda a justiça.
AMARELO: O momento altruísta de Moreno
O desgosto pela eliminação (surpreendente) nas pré-eliminatórias da Liga Conferência foi demasiado profundo para Moreno Teixeira. O agora ex-treinador do Vitória de Guimarães apresentou a demissão do cargo que assumiu há um ano, depois de uma vitória magra (e também não muito convincente) na deslocação ao terreno do Estrela da Amadora (1-0).
Vitoriano de gema, o técnico de 41 anos despediu-se com um discurso fortemente marcado pela emoção, em que elevou o clube acima de qualquer individualidade, num momento de altruísmo ímpar no futebol português.
"A responsabilidade profissional com que aceitou o convite que o presidente me fez o ano atrás - e quando aceitei foi uma emoção -, essa mesma responsabilidade faz-me perceber que o ciclo do Moreno fecha-se aqui. As razões são muito claras, a desilusão do jogo de quinta-feira (com o Celje, na pré-eliminatória da Liga Conferência Europa), não é uma vitória ou três no campeonato que a apagam", assumiu Moreno ainda na sala de imprensa da Reboleira.
"Como responsável que sou, conhecendo o clube tão bem como o conheço, não é bom estes inícios de época existir o clima de desconfiança que existia. Os vitorianos gostam de sentir adrenalina, o Vitória é um clube especial, único, mas é quando se consegue juntar as duas coisas: a força de uma bancada com vitórias. Foi o que não conseguimos na quinta-feira, é uma derrota que deixa marcas. A responsabilidade faz-me perceber que, neste momento, o melhor para todos, essencialmente para o clube, o ciclo do Moreno se feche", rematou.
Se é verdade que "os jogadores e os treinadores passam, mas o clube fica", também não é menos verdade que o nome Moreno ficará para sempre ligado à história do emblema da cidade de Guimarães, por tudo o que deu enquanto jogador e treinador, abraçando o desafio técnico numa altura dificílima da história do clube.
VERMELHO: Árbitros sem mãos para os cartões
O ensaio dos cartões aconteceu no encontro da Supertaça, onde o árbitro Luís Godinho exibiu 12 cartões amarelos e mostrou dois vermelhos (Pepe e Sérgio Conceição), e o 'espetáculo' decorreu no último fim de semana prolongado, de sexta (11 de agosto) a segunda-feira (14), com 58 amarelos e seis vermelhos, a que acresce a expulsão de Sérgio Vieira, treinador do Estrela da Amadora, a serem a principal marca.
Numa semana em que o campeonato português foi notícia por ter deixado de ser transmitido nos principais mercados europeus e sul-americanos, esta postura assumida pelos árbitros da Liga Portugal acaba por fomentar ainda mais esse desinteresse generalizado e adensar a crítica de que os juízes lusos querem ser muitas vezes os principais protagonistas. Não é bom para ninguém.
De ressalvar, o encontro entre Gil Vicente e Portimonense, que terminou com a goleada gilista (5-0), foi a exceção à regra, com o árbitro Cláudio Pereira (AF Aveiro) a não mostrar qualquer cartão ao longo de todo o encontro.