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Adeptos do Sochaux esperam milagre: "Não se pode colocar um clube como este no fundo"

Adeptos assistem ao treino do clube esta quarta-feira
Adeptos assistem ao treino do clube esta quarta-feiraAFP
Os adeptos, jogadores e funcionários do FC Sochaux continuam de cara fechada esta quarta-feira, um dia depois de o plano de salvamento do clube de futebol quase centenário ter sido rejeitado. Ainda assim, situação é retratada por "muita tristeza", mas ainda "um pouco de esperança".

No Stade Bonal, Pierrette Lutz, de 86 anos, com uma peruca amarela e azul com as cores do clube, assistiu ao treino com um nó na garganta. "Quase não consigo conter as lágrimas, porque me dói muito o coração", disse a mulher que apoia o Sochaux desde os anos 70. "Não se pode colocar um clube como este, com uma reputação tão grande, no fundo da tabela", insiste a octogenária sob um céu cinzento e pesado.

Tal como ela, várias dezenas de adeptos do FC Sochaux Montbéliard tinham-se deslocado ao estádio para manifestar o apoio à equipa, revoltados com a decisão do Comité Nacional Olímpico e Desportivo (CNOSF) de recusar o pedido do clube para permanecer na Ligue 2. "Não queremos acreditar", diz Chloé Vincent, de 28 anos, com as lágrimas a caírem pelo rosto.

Uma campanha de angariação de fundos lançada junto dos habitantes locais, que ainda na quarta-feira angariou mais de 140 mil euros, não foi suficiente para convencer as autoridades desportivas. "É como uma segunda morte, depois de 2014, quando descemos para a Ligue 2", disse um adepto.

O clube de Sochaux, 9.º da Ligue 2 na última época, tinha sido despromovido para o Campeonato Nacional (terceira divisão). Esse revés deve beneficiar o Annecy, 17.º e primeiro despromovido, que deve continuar na segunda divisão, cuja primeira jornada começa no sábado.

O CNOSF não ficou convencido com o projeto de aquisição pilotado por Romain Peugeot, bisneto do fundador, na sequência da retirada do acionista chinês, o grupo imobiliário Nenking, que se encontrava em sérias dificuldades financeiras.

"A decisão foi terrível para todos os envolvidos", afirmou Julien Cordonnier, diretor desportivo do clube. "Mas depois de ter falado com Romain, ele tenciona recorrer ao tribunal administrativo. No fundo, há um pequeno vislumbre de esperança".

"Milagre"

O diretor desportivo está preocupado com os 150 funcionários que "correm o risco de serem despedidos de um dia para o outro", bem como com o futuro do centro de formação, de onde saíram vários jogadores importantes e internacionais franceses nas últimas décadas.

Nolan Galves, que entrou para os sub-10 do Sochaux aos nove anos, está agora no seu décimo primeiro ano noclube. "Este clube é toda a minha vida, sonhava em jogar neste estádio, em vestir estas cores", diz o jogador nascido em Montbéliard. Hoje, há "muita tristeza e incompreensão" sobre a descida ao inferno do FC Sochaux, um dos fundadores do primeiro campeonato profissional francês, em 1932/33.

Os leões foram campeões franceses por duas vezes (1935 e 1938) e ganharam a Taça de França por duas vezes (1937 e 2007), bem como a Taça da Liga em 2004.

Ao assinar camisolas para as crianças que pediram autógrafos no relvado, Tony Mauricio, que tem uma lesão no joelho, explicou que estava a pensar em regressar ao clube após o período de recuperação. "Se formos à falência, é complicado", admite o médio de 29 anos.

Fundado em 1928, na cidade natal do fabricante de automóveis Peugeot, o Sochaux foi um modelo de estabilidade durante quase 90 anos, quando era propriedade da família de mesmo nome. Mas, no espaço de alguns anos, os seus proprietários chineses empurraram-no para a beira da falência. "A gestão não tem sido sólida", disse o diretor da equipa, Freddy Vandekerkhove, que continua à espera de um"milagre". "É de partir o coração pensar que esta pode ser uma das últimas sessões de treino".

Charles Demouge, presidente da Aglomeração do Pays de Montbéliard, exprimiu na terça-feira à noite a sua "raiva" perante os investidores chineses. "É uma perda do nosso património cultural, uma catástrofe humana e económica sem precedentes no mundo do desporto", declarou.