Análise: A revolução de Sean Dyche no Nottingham Forest

Sean Dyche, treinador do Nottingham
Sean Dyche, treinador do NottinghamJez Tighe/ProSports / Shutterstock Editorial / Profimedia

A vitória do Nottingham Forest frente ao Liverpool (0-3) demonstrou o quanto a equipa evoluiu sob o comando de Sean Dyche.

Recorde as incidências da partida

Dyche substituiu Ange Postecoglou no Nottingham Forest há um mês e a equipa já apresenta uma imagem completamente diferente daquela que perdeu seis jogos e empatou dois em todas as competições sob o comando do australiano.

O triunfo por 0-3 do Forest frente ao Liverpool em Anfield tirou o clube da zona de despromoção, mantendo-o invicto nos últimos três jogos da Premier League e, pela primeira vez esta época, permite-lhe olhar para cima na tabela em vez de estar constantemente preocupado com a retaguarda.

Então, como é que o treinador de voz rouca está a mudar o rumo das coisas no City Ground?

Acertar nos fundamentos

É um cliché frequentemente associado a Sean Dyche, mas há momentos, especialmente após a passagem de um treinador como Postecoglou, tão fiel às suas ideias, em que os jogadores precisam de recentrar o foco e reafirmar os fundamentos do jogo antes de evoluírem para aspetos táticos mais complexos.

No Forest, Dyche chegou e deixou claro aos jogadores que era preciso melhorar a condição física. “Temos corrido, corrido, corrido. Quando o treinador chegou, deixou claro que a época começava agora. Tem-nos exigido muito, mas era necessário para competirmos ao mais alto nível”, afirmou Morgan Gibbs-White numa entrevista à BBC.

“O treinador disse que precisávamos de estar mais em forma e, enquanto jogadores, sabíamos disso”, acrescentou Neco Williams aos jornalistas. “Os treinos têm sido muito exigentes; temos corrido bastante, mas só nos vai beneficiar. É preciso estar em forma para jogar da forma que o treinador pretende.”

Dyche tem um estilo semelhante ao de Nuno Espírito Santo, ambos estão dispostos a abdicar da posse de bola e dão grande importância ao jogo sem bola, algo que ficou bem patente na vitória sobre o Liverpool.

Como o Nottingham Forest venceu o Liverpool

Antecipando que teria pouca posse em Anfield, Dyche instruiu os jogadores a não saírem a jogar desde trás, optando por passes longos para evitar a pressão agressiva do Liverpool. Dyche sublinhou que o Forest tem jogadores capazes de praticar bom futebol, mas adaptar-se ao contexto era a melhor forma de alcançar o sucesso.

À imagem do que é habitual em Dyche, o Forest executou um plano disciplinado e trabalhador: defender com solidez, ganhar as segundas bolas e sair rapidamente em contra-ataque.

Igor Jesus deu o mote ao pressionar e impor-se fisicamente, enquanto jogadores como Gibbs-White e Dan Ndoye ajudaram a transformar alívios defensivos em transições ofensivas rápidas. Esta abordagem resultou no canto que originou o golo inaugural de Murillo, apesar dos protestos do Liverpool.

O Forest continuou a resistir à pressão, com o Liverpool a registar uns impressionantes 75% de posse, mas a equipa de Dyche foi ganhando controlo após se colocar em vantagem. Sentiram-se confortáveis a confiar em bloqueios, alívios e uma defesa determinada para proteger a baliza inviolada, quebrando uma sequência de 19 jogos sem conseguir fazê-lo.

O segundo e terceiro golos surgiram em transições rápidas: Williams assistiu Savona após uma arrancada, e o suplente Omari Hutchinson criou o terceiro com classe antes de Gibbs-White finalizar, beneficiando de alguma sorte após a defesa de Alisson.

No fundo, o regresso do Forest a um estilo familiar, trabalhador e de contra-ataque parece ter devolvido a confiança tanto aos jogadores como aos adeptos.

Morgan Gibbs-White está de volta

O internacional inglês teve um verão atípico. Primeiro, parecia prestes a sair para o Tottenham, antes de Evangelos Marinakis o convencer a ficar, com o clube a divulgar um vídeo muito particular para anunciar a renovação.

Marinakis acabaria por despedir Espírito Santo, com quem Gibbs-White mantinha uma excelente relação, substituindo-o por um treinador que nunca iria tirar o melhor partido do jogador.

Agora, sob o comando de Dyche, Gibbs-White está a regressar ao seu melhor nível e as suas esperanças de marcar presença no Mundial do próximo ano estão bem vivas, apesar de não ter sido chamado por Thomas Tuchel para a seleção inglesa mais recente.

Desde a chegada de Dyche, Gibbs-White reencontrou a forma que levou os Spurs a ponderar investir mais de 60 milhões nele, tendo marcado quatro golos nos últimos seis jogos em todas as competições, incluindo o primeiro da era Dyche.

Veredito

Será preciso uma recuperação épica para o Forest voltar a qualificar-se para as competições europeias, mas Dyche chegou e estabilizou a equipa de uma forma que poucos conseguiriam. A vitória sobre o Liverpool foi uma lição tática e o Forest promete surpreender outros grandes clubes esta época.