O sedoso médio atravessou Londres e há uma sensação de que pode ser a peça final no puzzle de Mikel Arteta.
Adepto do Arsenal desde a infância, Eze foi dispensado da academia do clube aos 13 anos de idade, e este parece ser um regresso ao lar - e uma segunda chance - para o homem de Londres.
"O Arsenal foi provavelmente o mais difícil. Ouvi-los dizer não aos 13 anos foi duro. Lembro-me de treinar depois de ter sido dispensado e não me conseguia concentrar porque estava a chorar", disse Eze em 2022.
Os adeptos simpatizaram com Eze devido ao facto de ele ser um deles. Desde criança, quando sonhava em vestir a famosa camisola vermelha e branca, até à concretização desse sonho, todos estão a par da sua história.
Se juntarmos a isso o facto de terem desviado a transferência dos Spurs, que parecia estar prestes a ficar concluída, o jogador tornou-se imediatamente um favorito dos adeptos.
Eze sempre quis ir para o Arsenal. Apesar de ter aceitado a transferência para o rival, esperava que os Gunners confirmassem o interesse de longa data nele. E quando isso aconteceu, após a lesão de Kai Havertz, o jogador de 27 anos não teve dúvidas sobre qual seria o seu destino no norte de Londres.
Assim, se do ponto de vista emocional, a contratação faz sentido, do ponto de vista futebolístico, tudo isto é perfeito.
É amplamente aceite que o Arsenal tem a melhor defesa da Premier League, com William Saliba e Gabriel Magalhães a formarem uma formidável dupla de centrais, enquanto David Raya se estabeleceu como um dos melhores guarda-redes da atualidade.
Na época passada, o Arsenal foi o clube que menos golos sofreu no campeonato (34), e Raya ganhou a sua segunda Luva de Ouro consecutiva após 13 defesas sem sofrer golos.
Os problemas para os homens de Arteta estão no outro lado do campo.
O Arsenal marcou 69 golos no campeonato em 2024/25, menos 17 do que o Liverpool e menos três do que o Manchester City. Além disso, não houve um único jogador a marcar dois dígitos de golos.
Mas o dado mais grave é o facto de terem empatado 14 jogos. Só os sete últimos empataram mais do que o Arsenal.

Em suma, o Arsenal não perdia muitos jogos, mas tinha dificuldade em encontrar golos que permitissem transformar os empates em vitórias. Quase se tornaram demasiado dependentes das suas proezas nas bolas paradas, que se tornaram uma forma legitimamente prolífica de marcar golos.
Uma grande razão para isso foi a falta de um avançado que aproveitasse as oportunidades criadas. De facto, recuemos duas épocas, quando o Arsenal perdeu um jogo crucial em casa contra o Aston Villa por 2-0 durante a corrida pelo título, em que desperdiçou imensas oportunidades na primeira parte.
Como resultado, contratataram o avançado do Sporting, Viktor Gyökeres, que marcou 54 golos em todas as competições na última temporada.
É claro que só o tempo dirá se conseguirá repetir essa forma de marcar golos em Inglaterra, mas Arteta tentou corrigir os problemas com um homem que sabe onde fica o fundo da baliza.
Mas outro aspeto que também passou despercebido, por causa da ausência de um avançado de verdade, foi simplesmente a falta de um fator X no Arsenal.
O emblema londrino não tem um jogador que seja capaz de abrir as defesas no último terço do campo com uma corrida ousada, ou que consiga fazer magia a partir do nada.
É o caso de Eberechi Eze.

Eze encaixa perfeitamente nesse perfil. Um talento maravilhoso que faz o jogo bonito parecer tão fácil, desliza sem esforço pelo campo, sem medo de ser direto, enfrentar os defesas e tentar virar o jogo de cabeça para o ar com alguma individualidade e criatividade.
É um vencedor de jogos, como ficou provado na campanha do Crystal Palace na Taça de Inglaterra na época passada. O inglês marcou o golo da vitória contra o Manchester City na final, para além de ter marcado nos quartos de final e nas meias-finais.
Na última temporada, foi o sétimo jogador com mais dribles na Premier League (135) e o quinto com mais dribles bem sucedidos (67).
Em comparação com os jogadores do Arsenal que lideram o ranking, Gabriel Martinelli tentou 100 dribles, enquanto Bukayo Saka completou 41. Eze está muito à frente de qualquer outro jogador do clube e acrescenta algo que eles não têm.
Além disso, Eze fez oito assistências no campeonato, o mesmo número que Odegaard e três a menos que Saka. Também criou 58 chances, apenas uma a menos que Declan Rice e cinco a menos que Odegaard.

Outra característica positiva de Eze é que não tem medo de rematar à baliza. Uma das principais críticas ao Arsenal é que eles sempre procuram encontrar o passe perfeito e não aproveitam as boas oportunidades para testar o guarda-redes de longa distância.
Eze foi o 13.º jogador com mais remates na Premier League na época passada (61). Havertz e Trossard fizeram 44 cada, Saka 41 e Odegaard apenas 30.
É claro que, em relação a esses números, Eze jogou 2.603 minutos, contra 2.332 de Odegaard e 1.736 de Saka. No entanto, há que ter em conta que jogava numa equipa do Palace que tinha menos bola e que se concentrava mais em absorver a pressão e atacar os adversários em contra-ataque.
Numa equipa como o Arsenal, onde vai ter a maior parte da posse de bola contra 90% das equipas do campeonato, é provável que Eze tenha muito mais impacto e crie mais oportunidades, pelo que os seus números deverão disparar.
A próxima pergunta é: como é que encaixa no plantel do Arsenal? É muito provável que jogue na ala esquerda, no lugar de Martinelli, que tem sido uma sombra do jogador que era há duas épocas.

Num número semelhante de jogos na Ligue 1, Eze marcou oito golos e fez quatro assistências na temporada passada, enquanto Martinelli marcou oito e deu quatro.
A melhor posição de Eze é certamente mais central, tendo prosperado na posição de camisola 10 sob o comando de Oliver Glasner. Se for jogar na esquerda, terá de ter liberdade para entrar no meio-campo e fazer a sua magia, algo que os extremos sob o comando de Arteta não têm feito com frequência.
Por isso, o papel de Riccardo Calafiori na lateral esquerda será duplamente importante, pois precisará de dar largura e sobrepor Eze.
Mas será que pode jogar no centro? É improvável, uma vez que o capitão e criador de jogadas Odegaard não vai ser dispensado, mesmo que os adeptos do Arsenal pensem que é esse o caso.
Talvez Eze seja utilizado como um jogador de impacto, que entra no final dos jogos para ajudar Odegaard a abrir portas que se recusam a abrir. Além disso, o norueguês passou por uma temporada muito difícil em 2024/25, pelo que ter alguma competição real e exercer pressão sobre ele pode ajudar a melhorar o seu jogo.

Curiosamente, Eze poderá ser atirado diretamente para o fundo do poço, com uma potencial estreia no próximo fim de semana na casa do campeão, o Liverpool.
Independentemente de ser titular ou não em Anfield, a aquisição empolgante unificou os adeptos, e os níveis de confiança aumentaram drasticamente.
Se conseguir ajudar o clube dos seus sonhos a conquistar o primeiro título da Premier League desde 2004, o arco da redenção, cheio de rejeição e desgosto, estará realmente completo - e de forma espetacular.