Quer se trate das meias puxadas para baixo, das caneleiras mais pequenas, da natureza retroativa da forma como joga o jogo ou da sua predileção por uma festa durante toda a noite para celebrar qualquer número de títulos, o jogador de 29 anos é o arquétipo do malandro adorável.
Em 2021, a sua estrela estava evidentemente em ascensão, e a transferência de 100 milhões de libras do Aston Villa para o Man City não foi apenas a maior taxa de transferência já paga por um clube britânico na época, mas também a taxa mais cara já paga por um jogador inglês.
A pressão sobre os ombros de Grealish sempre foi grande, e isso ficou evidente na sua produção durante a primeira temporada no Etihad Stadium.
Três golos e três assistências em 26 jogos na primeira divisão inglesa não se comparam muito bem com a sua última temporada no Villa (20/21), quando marcou seis golos e deu 10 assistências - também em 26 jogos.
É preciso ter em conta o salto que o médio ofensivo e esquerdino terá tido de dar, uma vez que o Villa, com todo o respeito, não era a equipa que é agora. Grealish não era exatamente o líder do time, mas era um capitão que liderava desde o início.
Um terço do total de remates da época 21/22 - 22 em 66 - foi à baliza, e como que para dar alguma simetria a esta métrica específica, 22 foram fora do alvo e 22 foram bloqueados. Um em cada três remates que testaram o guarda-redes adversário não foi de desprezar, enquanto quatro das suas seis grandes oportunidades foram convertidas nessa campanha.
93 oportunidades criadas e uma precisão de passe de 91%, graças a 1432 passes bem sucedidos em 1636, certamente agradaram a Pep Guardiola, um treinador cujas exigências profissionais permaneceram consistentes e lendárias ao longo de sua carreira.
No final da temporada 22/23, o Man City conquistou o triplete de forma memorável, sem dúvida o auge da carreira de Grealish.
Na Liga dos Campeões, em particular, foi um jogador que não teve medo de enfrentar o adversário (3,8 dribles por 90 minutos) e de entrar na área. O que talvez lhe faltasse era a capacidade de rematar à baliza, como demonstra um golo em 63 remates.
O gráfico abaixo também mostra a falta de ações defensivas do jogador de 26 anos e uma baixa percentagem de posse de bola recuperada.
Será que já se questionava a adequação de Grealish à equipa quando o clube festejava o maior momento da sua história, tendo em conta o seu fraco contributo global?
Avançando para esta época, a noção de que Grealish poderia ser excedentário continua a ser um ponto de discussão.
Pep Guardiola parece preferir Savinho ou Jeremy Doku como titulares nas zonas mais largas, e é fácil perceber porquê.
Falando da Liga dos Campeões, Grealish ainda consegue dar toques na área adversária (5,1 por 90 minutos) e um razoável, mas não excelente, 1,8 remates por jogo, mas não conseguiu nem de perto os dribles de épocas passadas - apenas um por 90 minutos.
As suas ações defensivas baixaram de 3,5 por 90 para 2,5, e a posse de bola diminuiu significativamente, de 4,7 por 90 para 2,3.
Doku também não vai impressionar Guardiola com a sua falta de ritmo de trabalho defensivo, mas 16,9 toques por 90 no meio campo adversário, 10,8 dribles tentados e 3,3 oportunidades criadas falam por si.
Também na Premier League esta época, Grealish tem continuado a ter dificuldades, marcando apenas um golo nos 16 jogos que disputou, dos quais apenas dois foram durante os 90 minutos.
Na recente vitória por 6-0 sobre o Ipswich, em que o jogador inglês atuou por 27 minutos, Grealish tocou na bola em 22 ocasiões diferentes, mas apenas uma delas foi dentro da área, contra um adversário muito acomodado.
Guardiola tentou motivar Grealish recentemente ao colocar Savinho como titular no jogo contra o West Ham, ao mesmo tempo em que pediu que o inglês voltasse ao seu melhor.
"Savinho está em melhor forma e tudo mais do que Jack, e é por isso que eu joguei com Savinho", disse Guardiola aos repórteres. "Se eu quero o Jack que ganhou o triplete? Sim, quero, mas tento ser honesto comigo mesmo para isso. Eles têm de lutar... todos os dias, todas as semanas e todos os meses."
Depois de ter atingido o auge do futebol com a conquista do triplete e com o avançar da idade, há razões para acreditar que, talvez, Grealish não tenha o potencial necessário para escalar as montanhas e conquistar os picos que Guardiola quer que ele conquiste.
Também deve ser incrivelmente frustrante quando jogadores como Savinho apresentam números como 91,7% de acerto nos passes, 23 remates à baliza em 47 efetuados e 29 desarmes, sendo que este último é também um dado interessante para ocupar o tempo do treinador, pois demonstra vontade de sujar as mãos no jogo. Algo que praticamente desapareceu do trabalho de Grealish.
Claro que, com o desfecho das 115 acusações contra o campeão em título da Premier League a chegar muito em breve, se as notícias forem corretas, é possível que, independentemente do que diga em público, Pep Guardiola nem sequer esteja no City em 25/26, se a decisão for contra o clube e o castigo aplicado for severo.
Para além disso, há ainda a questão do contrato de Grealish e da sua eventual renovação. O atual contrato termina em junho de 2027 e já se torna difícil para o jogador justificar o seu salário de 300.000 libras por semana (Capology).
Apenas Erling Haaland, Kevin De Bruyne e Bernardo Silva ganham mais no City e os três têm sido certamente mais valiosos do que Grealish, que é também o sexto jogador que mais ganha em toda a Premier League.
A título de comparação, Doku e Savinho ganham 50 mil libras por semana e 40 mil libras por semana, respetivamente. Como podemos ver, as coisas não estão a correr bem para o jogador nascido em Birmingham, por várias razões.
A não ser que haja uma melhoria significativa em todos os aspetos do seu jogo nos próximos meses, há uma forte probabilidade de ele ser colocado à venda no verão. Se continuar a desiludir, o City poderá ter de o descartar. Se tivermos em conta o valor da transferência, os salários e a evidente falta de valor, não haverá muitos interessados.
