O francês impulsionou o Palace para a sua primeira Taça de Inglaterra de sempre, acrescentou uma Supertaça inglesa e levou o clube ao futebol europeu pela primeira vez na sua história.
Mas por trás dos golos e das celebrações, esconde-se uma história de esforço, coragem e pura resiliência – uma viagem desde as ruas duras de Sevran, nos arredores de Paris, até ao maior palco do mundo.
Cada passo dessa ascensão, cada obstáculo e cada luta, moldaram o jogador que vemos hoje: feroz em campo, destemido de espírito e absolutamente inquebrável.
Antes da explosão: a força por trás da ascensão de Mateta
Jean-Philippe Mateta nasceu em Sevran, uma comuna operária nos subúrbios norte de Paris. É uma zona marcada pelo desemprego elevado, comunidades de imigrantes e uma paixão profunda pelo futebol. O seu pai emigrou da República Democrática do Congo em busca de uma vida melhor; a mãe trabalhou incansavelmente para manter a família unida.
Os primeiros passos de Mateta no futebol em Sevran foram tudo menos refinados – foram brutos e implacáveis. Os jogos desenrolavam-se em campos de asfalto, rodeados por blocos de betão e pelo constante burburinho das ruas.
“Se não lutasses, não jogavas", recorda Mateta. Ali aprendeu a resiliência – a aguentar os golpes e a seguir em frente.
Sem uma academia de topo para o orientar, construiu a carreira do zero, passando por clubes modestos como Olympique de Sevran, Drancy e Chateauroux. O Lyon acabou por lhe dar uma oportunidade em 2016, mas as chances eram escassas.
Só durante o empréstimo ao Le Havre – e com 19 golos na Ligue 2 – Mateta mostrou realmente que estava pronto para voos mais altos.
O talento que França ignorou
Mesmo depois da época de revelação na Ligue 2, continuava a ser visto como insuficiente para a elite francesa. Os grandes clubes da Ligue 1 hesitaram. Contudo, enquanto França hesitava, a Alemanha agiu. Surgiu um pretendente inesperado: o Mainz 05, da Bundesliga.
A transferência surpreendeu muitos – um salto da Ligue 2 diretamente para uma das Ligas mais exigentes da Europa. Mas era exatamente o que Mateta precisava.
Em Mainz, encontrou o que lhe faltava: confiança, minutos e fé. A Bundesliga refinou-o – ensinou-lhe disciplina, movimentação e a temporizar as desmarcações contra defesas de topo. A sua força bruta começou a fundir-se com estrutura, instinto com inteligência.
"Aprendi a usar melhor o corpo, a manter a calma quando tudo à minha volta está a acontecer depressa", disse mais tarde.
Essas lições da Alemanha seriam fundamentais quando chegou a próxima chamada, do sul de Londres.
De suplente a figura central do Palace
O Crystal Palace contratou Mateta em janeiro de 2021. A Premier League era outro patamar – ainda mais rápida, dura e implacável do que a Bundesliga. O primeiro ano foi irregular, a confiança posta à prova. Mas, onde outros poderiam ter vacilado, o passado de Mateta fez a diferença. Trabalhou em silêncio, aprimorou a finalização e esperou pela sua oportunidade.
Sob o comando de Oliver Glasner, a espera compensou. A época 2023/24 foi o ponto de viragem – 16 golos na Premier League, incluindo um hat-trick frente ao Aston Villa (o primeiro do Palace em nove anos).
Um ano depois, levantava a Taça de Inglaterra após uma vitória por 1-0 sobre o Manchester City, seguida da Supertaça frente ao Liverpool. Pela primeira vez em 120 anos de história, o Crystal Palace rumava à Europa – e no centro de tudo estava Mateta.
Feito para a batalha… e para rebentar!
Com 1,92 metros, Mateta tem o porte de um avançado clássico – poderoso, incansável, impossível de intimidar. Mas o que realmente o distingue é a mentalidade. Os treinadores descrevem-no como "inabalável", os colegas dizem que é "obcecado".
Cada corrida, cada finalização, cada grito transmite a mesma mensagem: nada lhe foi oferecido – tudo foi conquistado.
E depois chega a explosão – o sprint para a bandeirola de canto, o pontapé feroz, o ruído. Para Mateta, é mais do que uma celebração – é uma ligação.
"Gosto de jogar a pensar nos adeptos", afirma. "Eles pagam para estar aqui; querem alegria. Por isso dou-lhes isso – estrondo!"
No momento em que marca, Selhurst Park prende a respiração. Um remate, uma palavra – e 25.000 vozes explodem em uníssono. Estrondo!