Em termos de qualidade e número de oportunidades concedidas, o RB Leipzig tem o melhor desempenho defensivo na atual temporada da Bundesliga. Em média, permite aos seus adversários 0,87 golos esperados por jogo e apenas 0,70 desde que o campeonato recomeçou em janeiro, depois do Mundial. O RB Leipzig sofreu apenas seis golos nos últimos dez jogos internamente. Ainda assim, Haaland precisou apenas de sete remates e 57 minutos de jogo para marcar cinco golos.
Nos seis jogos em que foi titular, até agora, na Liga dos Campeões, o avançado do Manchester City registou 23 remates à baliza, com dez golos. Isto significa que converteu 43 por cento das suas tentativas, um número sem prececentes. E algo que não foge muito aos seus números totais nesta competição.
O fenómeno norueguês tem um total de 25 jogos na Liga dos Campeões e, aproximadamente, 2000 minutos de utilização, com 33 golos em 82 remates. Ora a taxa de sucesso continua nos inalcancáveis 40 por cento. Mesmo os melhores números 9 do Mundo convertem, em média, apenas um em cada cinco remates ao longo da temporada. Um quarto, na melhor das hipóteses, mas esses são normalmente os melhores registos na carreira.
A finalização é uma habilidade dos avançados. Mas, mais importante ainda, é ele prever como a jogada se vai desenrolar e para onde irá a bola, para que depois possa utilizar a sua movimentação para a encontrar e, aí sim, finalizar. Se o avançado conseguir chegar, com frequência, a zonas perigosas, então a técnica em si não é crucial, desde não seja, de facto, tão péssima que não converta a maior parte das ocasiões que cria.
Haaland, no entanto, há muito que se distingue em ambos os aspetos. E na partida com o RB Leipzig demonstrou, na perfeição, todas as suas capacidades. Além da perfeita leitura de jogo, conseguiu mover-se em áreas centrais quando jogou a bola, raramente em toda a largura do campo, aumentando assim a probabilidade de conseguir chegar à área a tempo de finalizar as jogadas.
Em campo, Haaland dá a sensação de estar sempre um passo à frente dos defesas. Consegue manipular o seu posicionamento com os seus movimentos dentro da área e isso é feito não só com sprints: o avançado norueguês consegue, simplesmente, estar no local certo, adivinhando que será aí que a bola, eventualmente, irá cair. E, uma vez chegado a ela, a técnica de finalização do avançado entra em campo.
A elavada percentagem de oportunidades convertidas é um dos fenómenos que acompanha toda a carreira de Haaland. Quer olhemos para a Liga dos Campeões, a Bundesliga austríaca ou alemã, os jogos da seleção norueguesa ou, agora, a Premier League.
Nenhum outro jogador consegue encontrar-se em melhor posição para rematar na atual temporada. De acordo com os modelos matemáticos, Haaland tem 73 por cento de hipóteses de marcar golos em cada jogo, excluindo as grandes penalidades, e marcou 28 vezes, num total de 22 golos esperados na Premier League.
Dados que, de facto, não são uma grande novidade porque, como grande finalizador que é, Haaland supera regularmente o seu xG. Além dos seis golos acima do esperado no campeonato inglês, são também 16 na Bundesliga, dez na Liga dos Campeões e seis na primeira divisão austríaca. E isto numa amostra já bem significativa: 11.000 minutos, ou 122 jogos.
Em termos de número de remates, em média, por jogo, apenas Aleksandar Mitrovic (Fulham) e Darwin Nunez (Liverpool) estão à frente de Haaland, na Premier League. O avançado norueguês acumulou 3,5 tentativas, enquanto que a média de Darwin Núñez é de 4,5. Em número médio de toques com a bola dentro da grande área adversária, o avançado do City está apenas em quinto lugar, atrás de Gabriel Jesus e Eddie Nketiah, do Arsenal, Aleksander Isak, do Newcastle, e o já referido Darwin Núñez.
Isto significa que Haaland ainda tem espaço para melhorar? O próprio avançado assumiria isso, certamente. Contudo, fica bem demonstrado que não se podem tirar conclusões rápidas apenas analisando algumas métricas de dados. É preciso ir mas além numa análise.
Embora Darwin Núñez e Mitrovic tenham mais remates, em média, por jogo, Haaland regista a maioria das tentativas a partir da chamada zona de perigo, ou seja, a partir do centro da área, onde as hipóteses de marcar são maiores. É daí que Haaland regista uma média de 2,5 remates à baliza por jogo. O norueguês tem também as maiores penetrações nesta área, com 100 passes e dribbles.
Se alterarmos a análise dos números, da média por jogo/90 minutos para a média a cada 100 toques na bola, então percebemos de forma mais objetiva a frequência com que Haaland está na zona de penálti e o estilo de jogo que utiliza.
Em 100 toques, Haaland encontra a bola na área em 26 ocasiões, recorde absoluto na Premier League. Resumindo, o primeiro instinto do norueguês é entrar dentro da área numa boa posição de remate o mais rapidamente possível.
Na Premier League, Haaland só tem uma média de 15 toques na bola no terço final do campo, por jogo. Em comparação, Gabriel Jesus, por exemplo, tem uma média de 32 toques com a bola, Darwin Núñez conta com 25 e Harry Kane está em 18 toques. Ou seja, o matador do Manchester City não tem a bola na bota muitas vezes mas, quando o faz, representa uma enorme ameaça para a defesa adversária devido ao seu movimento.
Além disso, uma vez com a posse da bola, é muito difícil desarmá-lo. Num sistema métrico que regista o número de vezes que um avançado perde a bola depois de ser desafiado por um jogador adversário, Haaland é o quarto melhor na Premier League.
Não se fala com frequência suficiente da qualidade de Haaland no último passe. De acordo com a métrica das assistências esperadas, o avançado norueguês tem 13% de hipóteses de assistir em todos os jogos, o que faz dele o terceiro melhor entre os avançados em Inglaterra . Haaland move-se ao nível de Gabriel Jesus, que é considerado pelos especialistas como um dos números nove mais criativos do futebol contemporâneo. Durante o seu tempo na Bundesliga, Haaland registou cerca de 15%, no mesmo modelo de xA, e encontra-se atualmente em 14% quando falamos em Liga dos Campeões.
Em termos simples, Haaland é excecional em muitos aspectos, e não apenas na marcação de golos.