Mais

Luís Castro nega contacto do FC Porto, vê CR7 no Mundial e sonha com "Premier League e seleção"

Luís Castro vê Cristiano Ronaldo no Mundial-2026
Luís Castro vê Cristiano Ronaldo no Mundial-2026AFP
O treinador português Luís Castro, atualmente sem clube depois da saída do Al Nassr, passou em revista a sua carreira numa entrevista dada ao programa Grande Área, da RTP 3.

O técnico que começou a carreira no Águeda, Mealhada, Estarreja, Sanjoanense e o salto para o primeiro escalão com o Penafiel, antes de chegar à formação do FC Porto. Nos azuis e brancos esteve 10 anos entre formação e equipa B, com a qual foi campeão na Liga 2, até sair para o Rio Ave, passando depois pelo Chaves e Vitória SC.

Depois disso, começou um périplo no estrangeiro que o levou aos ucranianos do Shakhtar Donetsk, os cataris do Al-Duhail, antes de duas temporadas a bom nível no Botafogo que o levou ao Al Nassr, de Cristiano Ronaldo, do qual foi despedido em 2024 e está atualmente sem projeto, confessando o sonho de treinar na Premier League ou uma seleção nacional.

Leia abaixo as declarações de Luís Castro:

Estreia como treinadora da Liga Portugal: "Era um objetivo de vida. Pergunta se seria capaz de o atingir, porque comecei na distrital com o Mealhada. A minha estreia foi num Penafiel-Rio Ave e o Wesley, um número 10, jogador ótimo, estávamos a perder e ele faz o empate com uma espécie de pontapé de bicicleta, somámos um ponto e fizermos uma ótima época no Penafiel. Tão boa essa como péssima a seguinte".

Equipa B do FC Porto foi uma boa opção?: "Não sei o que teria sido com outra opção. O dia a dia numa academia é muito forte, discussão sobre jogo, metodologia, avaliação de jogadores, tudo isso me obrigou a pensar de forma diferente o futebol. A profundidade que tenho de futebol fui buscar aos 10 anos que estive no FC Porto".

Campeão da Liga 2 com o FC Porto: "Só há duas equipas secundárias no mundo campeãs da segunda liga, a do Real Madrid, o Castilla, há 30 anos atrás. Nós... quer dizer, nós não, eles, os jogadores. São os jogadores que fazem a nossa carreira".

Passagem pelo Vitória SC foi fundamental para abrir portas internacionais: "Foi, porque o próximo passo depois disso é a Liga dos Campeões. E é aí que se abre por completo o mundo, saí do país sem nunca ter pensado em sair. Pensava na minha carreira em Portugal, quando olhava para fora achava que não era da linha dos meus colegas. Entretanto já corri Europa, América do Sul, Médio Oriente...".

Campeão na primeira época do Shakhtar: "Nessa altura, o Paulo Fonseca sai, tinha a equipa bem organizada, um método muito bom, havia só uma coisa que queria fazer diferente. Dei sequência, fui contratado para uma visão do presidente, que queria o clube numa certa linha, uma mistura perfeita entre jovens e experiência, era esse o modelo de negócio. Chegámos a uma meia-final da Liga Europa, que é de lembrar por um lado e esquecer por outro, cometi um erro estratégico com o Inter que foi fatal. Arrisquei cedo demais, não tive paciência".

Vitória sobre o Real Madrid por 2-3 com 10 baixas no plantel devido à COVID-19: "Esse é o jogo mais inesperado da carreira. Fomos a jogo, estivemos bem, muitos miúdos lançados, Trubin na baliza, Dodô como lateral, tinha quatro com 19 ou 20 anos, um deles com 18, o Marcos António no meio-campo... Bem, colocámos a estratégia, ganhámos, mas depois o futebol tem coisas fantásticas que nos faz pensar a todos, as pessoas têm muitas teorias, mas depois a prática mostra o contrário. Ganhámos em Madrid 2-3, recebemos o Borussia Dortmund na semana seguinte perdemos 0-6, depois perdemos em Dortmund por 4-0, voltamos a receber o Real e ganhámos 2-0... que depois foi campeão europeu".

Do Catar para o Botafogo: "Mudança surgiu do nada, recebi uma chamada à noite de um número que não conhecia e era o John Textor, falámos durante uma hora e meia. Disse que estava envolvido no Botafogo, sabia que era um histórico, o projeto que me apresentou deixou-me muito entusiasmado, queria ser campeão e ir à Libertadores em quatro anos, precisava de uma nova organização. Aquilo despertou-me. Falei com o presidente do Al-Duhail, percebeu a minha vontade e partimos para o Brasil. A vida é feita de desafios. Há uma marca na carreira que é decisiva, quando sais do país, deixamos para trás o que mais gostámos, então a vacina está tomada. A partir daí, a mudança torna-se mais fácil".

Estava na liderança do campeonato, surge convite do Al Nassr, porque decidiu sair?: "Tomei a mesma decisão do que quando saí do Vitória SC, do Chaves e do Al-Duhail. Há oportunidades que temos de olhar e pensar bem nelas, porque se não a agarramos naquele momento não a voltamos agarrar. Fui treinar jogadores de grande classe mundial, o Cristiano Ronaldo, o Sadio Mané, o Brozovic, Laporte, Alex Telles, Otávio... tinha e tenho na minha cabeça continuar a minha carreira e viver o máximo de experiências possíveis que me possam aparecer".

Oportunidade perdida de vencer o Brasileirão?: "A vida é feita de perdas e ganhos, não podemos avaliar permanentemente ao milímetro o que vamos perder e ganhar. Tinha saído do país e deixei o que mais gosto para trás. Gostava muito do Botafogo, da massa associativa, do campeonato... mas um novo desafio apareceu à frente e os desafios não têm timings".

Questão financeira pesou?: "A questão financeira pesa em todas as pessoas e todas as decisões, mas a carreira e o prestígio também."

Gostava de voltar a treinar no Brasil e já surgiu essa oportunidade?: "Sim, já surgiu, acho que não é o timing certo. Vamos ver o que o futuro traz. Tenho vários objetivos de vida, sei que alguns não vão ser cumpridos... quando chegámos ao final da carreira, fazemos um balanço, positivo ou negativo, mas vamos ter sempre coisas que ficaram por fazer".

Campeonato da Arábia está ao nível dos melhores da Europa?: "É um campeonato forte, mas não gosto de fazer comparações porque são contextos diferentes, clima, cultura e futebol diferente. É comparar o incomparável. O campeonato é forte entre quatro e cinco equipas que estão nele".

Venceu Taças, disputou o título com Jorge Jesus, adversário difícil: "Ele já é um adversário difícil porque é muito competente. Fica ainda mais difícil quando tem uma grande equipa, potencia-o ainda mais (risos). E ali no Al Hilal... foi uma luta intensa, perdemos a Kings Cup nas grandes penalidades, falhámos um penálti e eles ganharam. Podia ter sido dois títulos para cada lado, como perdemos desequilibrou os títulos. Foi pena, porque gostava dos duelos com ele. Somos amigos, mas em dia de jogo e em campo não nos falamos, ele tem as superstições dele e eu tenho de respeitar. Ainda o procuro para lhe dar um abraço para o desestabilizar e ele foge, eu respeito isso (risos). É um grande adversário, muito estratégico e intenso".

Treinar Cristiano Ronaldo: "Estar no mesmo espaço dos melhores do mundo é sempre um privilégio e eu tive o privilégio de estar num espaço onde estava um jogador que fica na história do futebol mundial pelo que conquistou e representa. É facílimo trabalhar com ele, é sempre muito fácil trabalhar com os melhores".

Ronaldo ainda vai ao Mundial e ser importante na seleção?: "Vai, ele cuida-se bem e trabalha bem. Depois isso é com o selecionador, ele é que sabe, na minha opinião tem muitas qualidades para além da concretização de golos, transporta com ele uma liderança natural e energia positiva que respeito muito".

Futuro: "Há objetivos que muitas vezes não são cumpridos, gostava muito de dar o passo para a Premier League, sei que é muito difícil, mas tenho o direito de sonhar, como tinha quando estava na quarta divisão e cheguei à Liga dos Campeões. Tenho o sonho de treinar uma seleção, não necessariamente a portuguesa, mas uma seleção". 

Voltar a Portugal lutar pelo título: "Lutar pelos títulos é algo que gosto sempre de fazer, mas não me vejo a voltar já a Portugal. Nunca se sabe..."

Hipótese remota de render Vítor Bruno no FC Porto: "Nunca houve essa hipótese, não houve contacto nenhum".