Ruben Amorim não escondeu que o atual plantel do Manchester United não está ao nível do que necessita para ter sucesso em Old Trafford.
Vários nomes importantes entraram nos rumores habituais em torno do United, à medida que se aproximava o final da janela de transferências de janeiro, mas é certamente uma surpresa que a primeira contratação da era Amorim viesse de um pequeno clube italiano, sendo este um jovem e inexperiente defesa dinamarquês.
Quando se analisa a contratação mais de perto, há certamente uma série de razões tácticas e estatísticas que justificam a compra. Dorgu impressionou bastante em Itália desde que entrou na equipa principal do Lecce no início da temporada de 2023/24, apesar de estar longe de ser um nome conhecido na Serie A.
Filho de pais nigerianos, Dorgu, nascido e criado na Dinamarca, provou a sua versatilidade ao ser utilizado como lateral-esquerdo, lateral-direito, médio-esquerdo e médio-direito no Lecce.
Mas com a atual falta de eficácia ofensiva dos alas do United, que muitas vezes deixa o sistema 3-4-2-1 altamente estruturado de Amorim desequilibrado e previsível, esta é a posição mais provável para Dorgu ocupar.
Em termos de expectativa de golos e assistências para todos os laterais nas cinco principais ligas da Europa e nas competições europeias, o internacional dinamarquês está entre os 90% melhores e também está muito bem classificado quando se olha para o transporte progressivo, onde revela vontade de avançar com a bola nos pés. As suas estatísticas mais elevadas estão relacionadas com desarmes ganhos no terço médio, enquanto defensivamente parece ligeiramente mais fraco.
Nos toques dentro da área adversária, Dorgu está entre os 88% melhores, no percentil 81 no transporte para o último terço, e no transporte da bola para a área está entre os 93% melhores.
Além disso, tem uma preferência por cruzar mais bolas do que um jogador médio na sua posição, o que faz parte do sistema que Amorim está a tentar implementar em Old Trafford.
Enquanto os dois laterais esquerdos naturais do United, Tyrell Malacia e Luke Shaw, se debatem com problemas físicos, Diogo Dalot e Mazraoui (ambos destros) têm sido utilizados como alas, apesar de serem ambos laterais naturais, o que tem causado problemas na fase ofensiva do United. Problemas que Dorgu parece destinado a resolver.
O ala-direito preferido de Amorim no Sporting CP era Geovany Quenda e, se o compararmos com Dorgu, as semelhanças são evidentes.
Na Gazetta dello Sport, o estilo de Dorgu é ocasionalmente comparado ao de Gareth Bale, devido à sua extraordinária capacidade de transportar a bola para a frente e vencer os adversários em situações de um contra um. E, no papel, Dorgu parece ser o ideal para o sistema de Amorim, devido à sua força física, capacidade técnica e mentalidade ofensiva.
Mas, embora a transferência de Dorgu para o United possa parecer, à primeira vista, uma combinação perfeita, há também questões que sugerem que a sua permanência no Lecce poderia ter sido uma melhor opção.
Jens Olsen, ex-treinador da seleção dinamarquesa de sub-19, aconselhou Dorgu a rejeitar a transferência, alegando que as coisas têm de acontecer na ordem certa. Jatin Dietl, especialista da Serie A, também afirmou que, para um jogador que ainda não encontrou a sua posição no campo, a transferência parece demasiado cedo para um jovem de 20 anos.
A maioria dos jovens dinamarqueses que são rejeitados na conceituada academia "Right to Dream" do FC Nordsjællands não tem a resistência psicológica necessária para se transferir para um clube de nível ainda mais elevado, quanto mais para a Série A.
Isso sugere que Dorgu tem a resistência mental necessária para enfrentar um ambiente muito difícil no United. No entanto, há também um ponto de interrogação sobre como um jovem muito tímido, de origem cristã e de uma nação muito pequena, se adaptará à pressão de ser jogador do Manchester United.
Old Trafford é um animal muito diferente do Estádio del Amare, em Lecce. Chegar a Manchester com todas as atenções em torno de uma equipa do United que inicia uma nova era, depois de se ter dado ao luxo de passar praticamente despercebida sob a orientação de Roberto D'Aversa na Série B, será para Dorgu como aterrar na Times Square de Nova Iorque depois de ter residido no Pólo Norte, um Apocalipse.
Quando o Manchester United chama, não se diz que não, e entende-se que um jovem de 20 anos não queira rejeitar uma lucrativa transferência de 30 milhões de euros para um dos maiores clubes do mundo.
No entanto, o Manchester United é um clube gigantesco que atravessa uma crise cíclica, com novos proprietários, novos dirigentes, novos processos e novos jogadores. Sendo a primeira contratação de Amorim e tendo de cobrir uma posição para a qual o United há anos que procura desesperadamente soluções, Dorgu estará sob uma enorme pressão desde o primeiro dia no Centro de Treinos de Carrington.
Não há dúvida de que a presença dos colegas da seleção dinamarquesa, Christian Eriksen e Rasmus Hojlund, facilitará a adaptação de Dorgu ao novo ambiente, mas as experiências de ambos os jogadores num clube que tão desesperadamente não consegue corresponder às expectativas devem ser um sinal de alerta para um jogador que, de outra forma, parece destinado a um grande futuro.